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Teoria da mudança: como considerar o contexto político e socioeconômico?

Além do papel dos stakeholders e a complexidade da conjuntura, a teoria da mudança precisa levar em consideração o contexto político e socioeconômico

Dez lições de empresas que conseguiram dar a volta por cima mesmo em tempos de juros altos, inflação e risco de recessão (Getty Images/Reprodução)
Dez lições de empresas que conseguiram dar a volta por cima mesmo em tempos de juros altos, inflação e risco de recessão (Getty Images/Reprodução)
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Impacto Social

Publicado em 8 de dezembro de 2022 às, 09h00.

O conteúdo desse blog é gerenciado pelo Insper Metricis, o núcleo do Insper especializado em realizar estudos sobre estratégias organizacionais e práticas de gestão envolvendo projetos com potencial de gerar alto impacto socioambiental. 

Por Marina Ribeiro*

Recentemente escrevi sobre como o engajamento dos stakeholders e a complexidade do contexto são fatores-chave no processo de construção da teoria da mudança. No entanto, outros itens como a conjuntura política e o cenário socioeconômico também têm papel fundamental na elaboração. Também é sempre preciso considerar que eventuais acontecimentos aleatórios, como crises de corrupção ou desastres ambientais, podem afetar substancialmente os rumos de determinada iniciativa. Este artigo apresentar em mais detalhes esses fatores, que são tema de minha dissertação de mestrado em Políticas Públicas no Insper. Confira abaixo:

1. Considerando-se especificamente esforços de construção de teorias da mudança em políticas públicas, é importante ponderar a influência do sistema político como um todo no processo. Analisar como a ideologia dos partidos políticos que ocupam as posições de liderança pode contribuir a planejar a melhor abordagem para sugerir o uso de ferramentas de gestão e quais objetivos são esperados com os programas. Seria prioritário buscar eficiência e eficácia no setor público? Ou seria mais relevante potencializar o impacto que ele pode ter na população? Estas são algumas questões a serem levadas em consideração. É fundamental também refletir sobre a oposição que possa surgir para evitar que o esforço sofra resistências, inclusive como pressão dos cidadãos.

Cabe ressaltar que, muitas vezes, projetos de impacto socioambiental estão correlacionados com o poder público e, por isso, essa dica também pode ser observada mesmo em organizações privadas.

2. Questões socioeconômicas são fatores contextuais a serem considerados em diversas frentes. Por um lado, forças econômicas globaispodem influenciar por meio de organismos internacionais que apoiam financeiramente ou ao trazem diretrizes como os Objetivos de Desenvolvimento Social (ODSs) que podem ser adotados como parâmetros quantificáveis de avanços possíveis, além de possibilidades de benchmarking com iniciativas do mundo todo. Mudanças sociodemográficas têm potencial de causar alterações na sociedade, que exigirão novos projetos para endereçá-las. Assim como políticas socioeconômicas nacionais trazem regulações que devem ser acatadas no momento de propor qualquer iniciativa.

3. Por fim, é preciso estar atento a eventos aleatórios ao processo, como escândalos, desastres ou pandemias. Tais elementos trazem imprevisibilidade, o que pode catalisar o início de um processo transformador e a teoria da mudança é uma das possibilidades a ser utilizada para guiá-lo. Nesses casos, é fundamental dar atenção especial ao problema que projeto pretende endereçar para que não se perca diante das incertezas.

Dessa forma, ao incorporar à teoria da mudança o engajamento dos stakeholders, a complexidade do contexto no qual está inserida, a influência do sistema político, questões socioeconômicas e atenção especial a eventos aleatórios que possam surgir durante o processo, gestores de projetos de impacto socioambiental e formuladores de políticas públicas poderão obter um processo de elaboração de teoria da mudança mais bem-sucedido e desfrutar dos benefícios de utilizar tal ferramenta de gestão.

*Marina Ribeiro é pesquisadora do Centro de Estudos em Microeconomia Aplicada da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas. Lá, trabalha no Projeto Rio Paraopeba, que faz auditoria independente por meio de monitoramento e avaliações dos projetos detalhados pela Vale relacionados ao rompimento das barragens em Brumadinho (MG). É também mestra em Políticas Públicas pelo Insper. Sua dissertação fez um estudo de caso do programa estadual Primeira Infância Melhor do Rio Grande do Sul para observar fatores contextuais e processuais na elaboração da teoria da mudança.