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Stakeholders versus acionistas: convergência ou divergência de interesses?

Para ser sustentável no longo prazo, uma empresa deve servir não apenas ao interesse de seus acionistas, mas também aos dos vários stakeholders

I
Impacto Social

Publicado em 22 de outubro de 2020 às, 14h39.

De acordo com a teoria dos stakeholders, para ser sustentável no longo prazo, uma empresa deve servir não apenas ao interesse de seus acionistas, mas também aos dos vários stakeholders, o que inclui empregados, clientes, consumidores, fornecedores, comunidades e governo.

Esse conceito está alinhado às boas práticas socioambientais e de governança, em que as empresas, além de visarem à geração de lucro, também se preocupam em manter os empregados motivados e em segurança, em ter diversidade de sexo e raça em seus quadros executivos e conselhos, em atender às necessidades das comunidades ao seu redor, em ter instalações eficientes no uso de energia e água, em reduzir a emissão de poluentes e gases de efeito estufa, em que sua cadeia de suprimento seja sustentável e não gere desmatamento, agressões à biodiversidade, trabalho infantil e escravo, em ser ética e transparente.

Os desembolsos feitos hoje em investimentos que mitigam impactos socioambientais negativos e geram impactos positivos resultam em aumento e proteção dos fluxos de caixa futuros: há uma maior valorização da marca por clientes e consumidores conscientes, promovendo crescimento nas vendas e diminuição do risco de retaliação, as margens de EBIT aumentam devido ao menor consumo de insumos e energia, há menor risco de litígio e passivos contingentes e mais recursos humanos talentosos são atraídos para trabalhar na empresa.

Os investidores financeiros também passam a enxergar a empresa como menos arriscada. Com isso, as ações são negociadas a preços mais elevados, diminuindo o custo de equity – mais barato levantar recursos com emissões de ações e credores emprestam dinheiro a taxa de juros menores. Fluxos de caixa futuros mais altos descontados a um custo ponderado de capital mais baixo resultam em valor de empresa mais alto, beneficiando os acionistas.

Pode haver, entretanto, um desalinhamento dos objetivos de curto e longo prazos de acionistas. Em algumas situações, a transformação para um modelo mais sustentável implica investimentos volumosos no curto prazo como, por exemplo, é o caso de petroquímicas que se comprometam a se tornarem carbono neutras num horizonte de 10 anos.

Os benefícios gerados nos fluxos de caixa futuros e na redução do custo de capital são capturados num horizonte de tempo mais longo e o tempo em que ocorrerão e a magnitude são incertos. Como existe uma pressão por resultados de curto prazo pelo mercado financeiro e as metas de vários executivos estão ligadas a desempenho também de curto prazo, existe o risco de que sejam feitas apenas transformações cosméticas, que não resultem em melhora de sustentabilidade significativa.

Apesar de situações com objetivos de curto e longo prazos divergentes, as empresas que negligenciarem a adoção séria de melhores práticas socioambientais e de governança por terem beneficiado a visão de curto prazo correm sério risco de, no longo prazo, perder muito de sua relevância, ou mesmo deixar de existir, com a materialização da destruição de valor por práticas de sustentabilidade ruins.