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Qual o impacto de casos de corrupção sobre candidatos locais outsiders?

Evidências empíricas apontam que, quando os eleitores tomam conhecimento de casos de corrupção, políticos corruptos são penalizados nas urnas

(TSE/Divulgação)
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Da Redação

Publicado em 10 de março de 2022 às 10h30.

Por Jorge Ikawa*

Corrupção é uma prática comum em países em desenvolvimento e uma das formas de combatê-la é por intermédio do voto. Evidências empíricas, como as deste estudo, apontam que, quando os eleitores tomam conhecimento de casos de corrupção, políticos corruptos são penalizados nas urnas. No entanto, outros trabalhos trazem uma perspectiva menos otimista, mostrando que nem sempre isso ocorre (exemplos podem ser encontrados aqui e aqui. Uma das possíveis explicações para a falta de responsabilização eleitoral dos casos de corrupção pode estar relacionada ao ambiente em que esses candidatos estão inseridos. Isso porque, caso os eleitores suspeitem da classe política como um todo, parte substancial dos cidadãos pode considerar todos os candidatos como “farinha do mesmo saco”, de modo a não acreditar que, entre as alternativas, alguns podem adotar práticas distintas no quesito corrupção.

Em um dos capítulos da minha tese, analiso se a divulgação de casos de corrupção antes de eleições municipais aumenta as chances de vitória de candidatos a prefeito externos ao ambiente político, os outsiders. Embora a definição de outsider não seja única, considero nessa classe candidatos que cumprem três requisitos simultaneamente: 1) concorrem pela primeira vez a qualquer cargo eletivo, 2) filiaram-se pela primeira vez a algum partido político a menos de quatro anos (e, portanto, não estavam envolvidos na estrutura partidária no último ciclo eleitoral local) e 3) não concorrem pelo mesmo partido pelo qual o último prefeito foi eleito. O fato de esses candidatos serem externos ao ambiente político poderia, de certa forma, sinalizar para os eleitores um comportamento distinto no quesito corrupção caso fossem eleitos.

Para medir o impacto da revelação de casos de corrupção sobre esse grupo, enfrentei duas grandes dificuldades. A primeira refere-se à medida de corrupção, uma vez que dificilmente encontramos informações estruturadas sobre os casos de corrupção nos municípios brasileiros. A segunda diz respeito à estratégia para inferir causalidade, ou seja, como apontar se de fato a divulgação dos casos de corrupção influenciou a performance dos outsiders. Para superar essas barreiras, utilizo uma estratégia similar à adotada neste trabalho, usando os relatórios de auditorias realizadas pela Controladoria-Geral da União (CGU) por intermédio de sorteio e comparando municípios auditados antes e após eleições municipais.

Entre os resultados, encontro que a revelação de atos de corrupção antes das eleições aumenta a probabilidade de vitória de outsiders, especialmente quando a informação é divulgada em datas próximas ao pleito. Uma vez que a associação entre outsiders e o combate à corrupção não é imediata, faço dois testes adicionais. Primeiro, analiso se o efeito é mais intenso em municípios com rádios locais e, portanto, a mídia poderia disseminar os resultados das auditorias. Segundo, tomando como base esse trabalho, analiso se os outsiders nos municípios auditados possuem maior probabilidade de incluir o tema corrupção em suas plataformas eleitorais em comparação aos seus concorrentes. Os resultados desses dois testes são compatíveis com os eleitores considerando os outsiders como uma alternativa à corrupção. Em um outro capítulo de minha tese, analiso se outsiders distribuem cargos públicos para aliados políticos, uma prática comum no Brasil, da mesma forma que governantes imersos na estrutura política fazem. Mas esse assunto fica para um próximo texto. Não perca!

* Jorge Ikawa é doutor em Economia dos Negócios pelo Insper, bacharel em Economia pela FEARP-USP e formado em Jornalismo pela ECA-USP.

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Por Jorge Ikawa*

Corrupção é uma prática comum em países em desenvolvimento e uma das formas de combatê-la é por intermédio do voto. Evidências empíricas, como as deste estudo, apontam que, quando os eleitores tomam conhecimento de casos de corrupção, políticos corruptos são penalizados nas urnas. No entanto, outros trabalhos trazem uma perspectiva menos otimista, mostrando que nem sempre isso ocorre (exemplos podem ser encontrados aqui e aqui. Uma das possíveis explicações para a falta de responsabilização eleitoral dos casos de corrupção pode estar relacionada ao ambiente em que esses candidatos estão inseridos. Isso porque, caso os eleitores suspeitem da classe política como um todo, parte substancial dos cidadãos pode considerar todos os candidatos como “farinha do mesmo saco”, de modo a não acreditar que, entre as alternativas, alguns podem adotar práticas distintas no quesito corrupção.

Em um dos capítulos da minha tese, analiso se a divulgação de casos de corrupção antes de eleições municipais aumenta as chances de vitória de candidatos a prefeito externos ao ambiente político, os outsiders. Embora a definição de outsider não seja única, considero nessa classe candidatos que cumprem três requisitos simultaneamente: 1) concorrem pela primeira vez a qualquer cargo eletivo, 2) filiaram-se pela primeira vez a algum partido político a menos de quatro anos (e, portanto, não estavam envolvidos na estrutura partidária no último ciclo eleitoral local) e 3) não concorrem pelo mesmo partido pelo qual o último prefeito foi eleito. O fato de esses candidatos serem externos ao ambiente político poderia, de certa forma, sinalizar para os eleitores um comportamento distinto no quesito corrupção caso fossem eleitos.

Para medir o impacto da revelação de casos de corrupção sobre esse grupo, enfrentei duas grandes dificuldades. A primeira refere-se à medida de corrupção, uma vez que dificilmente encontramos informações estruturadas sobre os casos de corrupção nos municípios brasileiros. A segunda diz respeito à estratégia para inferir causalidade, ou seja, como apontar se de fato a divulgação dos casos de corrupção influenciou a performance dos outsiders. Para superar essas barreiras, utilizo uma estratégia similar à adotada neste trabalho, usando os relatórios de auditorias realizadas pela Controladoria-Geral da União (CGU) por intermédio de sorteio e comparando municípios auditados antes e após eleições municipais.

Entre os resultados, encontro que a revelação de atos de corrupção antes das eleições aumenta a probabilidade de vitória de outsiders, especialmente quando a informação é divulgada em datas próximas ao pleito. Uma vez que a associação entre outsiders e o combate à corrupção não é imediata, faço dois testes adicionais. Primeiro, analiso se o efeito é mais intenso em municípios com rádios locais e, portanto, a mídia poderia disseminar os resultados das auditorias. Segundo, tomando como base esse trabalho, analiso se os outsiders nos municípios auditados possuem maior probabilidade de incluir o tema corrupção em suas plataformas eleitorais em comparação aos seus concorrentes. Os resultados desses dois testes são compatíveis com os eleitores considerando os outsiders como uma alternativa à corrupção. Em um outro capítulo de minha tese, analiso se outsiders distribuem cargos públicos para aliados políticos, uma prática comum no Brasil, da mesma forma que governantes imersos na estrutura política fazem. Mas esse assunto fica para um próximo texto. Não perca!

* Jorge Ikawa é doutor em Economia dos Negócios pelo Insper, bacharel em Economia pela FEARP-USP e formado em Jornalismo pela ECA-USP.

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