Exame.com
Continua após a publicidade

Private equity pode acelerar a contratação de jovens vulneráveis?

Uma cultura empresarial mais aberta à diversidade atrai e retém mais talentos, o que aumenta a criatividade e a inovação corporativa.

 (FatCamera/Getty Images)
(FatCamera/Getty Images)
I
Impacto Social

Publicado em 30 de novembro de 2021 às, 10h00.

Por Andrea Maria Accioly Fonseca Minardi*, Luciana Antonini Ribeiro** e Michele Oliveira***

A contratação mais inclusiva de jovens em situação de vulnerabilidade, se bem-feita, pode trazer ganhos e vantagens competitivas para as empresas. É uma alternativa para mitigar o déficit em áreas em que há mais vagas do que candidatos qualificados como, por exemplo, TI. Além disso, uma cultura empresarial mais aberta à diversidade atrai e retém mais talentos, o que aumenta a criatividade e a inovação corporativa. Adicionalmente, alguns dos talentos de diversas origens, raças e gênero, quando incluídos, podem, em alguns anos, fazer parte da alta liderança da empresa, de modo a representar e entender melhor vários stakeholders.

Entretanto, compor diversidade e garantir inclusão efetiva não são questões triviais. Não basta apenas contratar para cumprir lei ou quotas. É importante que eles sejam acolhidos, desenvolvidos profissionalmente e consigam construir um projeto de vida além de um projeto de carreira. Esses jovens não tiveram acesso às mesmas oportunidades e condições de formados em escolas consideradas de primeira linha. Muitos abandonaram a escola após repetirem sucessivamente de ano ou por precisaram trabalhar. Vários são vítimas de violação de direitos humanos. Os problemas de gap de aprendizado se agravaram com a migração para o ensino à distância durante a pandemia, pois alunos vulneráveis têm, muitas vezes, acesso restrito à internet e não contam, geralmente, com o mesmo suporte no aprendizado domiciliar.

Existem iniciativas que podem auxiliar na construção de programas de diversidade e inclusão eficientes. A parceria de empregadores com organizações que têm programas de capacitação de jovens nos quais, além de formação básica, inglês e técnica, são trabalhadas habilidades socioemocionais e projeto de vida, pode aumentar a probabilidade de sucesso de inclusão. É importante que o departamento de recursos humanos das empresas contratantes se comprometa com o acompanhamento constante do jovem e que os gestores, além de ensinar as atividades e tarefas do dia a dia, estimulem a participação em processos de tomada de decisão. A Associação Brasileira de Venture Capital (ABVCAP) está desenvolvendo a campanha Contrate um Jovem e Transforme o País para promover contratação e inclusão de jovens. Os setores de private equity e venture capital são relevantes para escalar soluções com foco em temas sociais e ambientais. Somadas, as gestoras investem em mais de 800 empresas do país. Mesmo que não sejam necessariamente controladoras das companhias investidas, têm direitos de governança. A contratação de jovens vulneráveis, por ser um ganha-ganha para as organizações e para a sociedade, certamente se encaixa como prioridade nas decisões.

Muitas gestoras de private equity se tornaram signatárias do programa e trabalham para que as empresas em que investem tenham meta de contratação e desenvolvimento de jovens. A ABVCAP tem feito vários workshops para compartilhar experiências e orientações aos profissionais de RH. Tem parceria com 1MiO, Pacto Global, PRI, Jovens do Brasil e organizações capacitadoras.  Um caminho relevante para o futuro do Brasil se dá pela contratação de jovens em condições de vulnerabilidade e sua efetiva inclusão no mercado de trabalho. É importante que o país avance de forma concreta nesta direção.

*Andrea Minardi é professora do Insper. Leciona e pesquisa ativos alternativos e finanças sustentáveis. Em 2018, seu nome foi incluído no “Women to Watch:  Beyond the Deal” pelo WSJ por sua contribuição com a indústria de Private Equity no Brasil.

**Luciana Ribeiro é sócia co-fundadora da Eb Capital, gestora focada em negócios que endereçam gaps estruturais do Brasil. Coordena o Comitê 2030 da ABVCAP e foi nomeada duas vezes “Top Women Investing in Latin American Tech” pela LAVCA.

***Michele Oliveira é sócia fundadora do História com Asas, consultoria que auxilia a ABVCAP na construção da narrativa que guia as decisões estratégicas e comunicação da Campanha Contrate um Jovem e Transforme o País.