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Práticas ESG e sua necessidade de um desenho institucional

Por que algumas empresas relutam em se tornar sustentáveis enquanto outras não?

ESG (Getty Images/Getty Images)
ESG (Getty Images/Getty Images)
I
Impacto Social

Publicado em 26 de julho de 2022 às, 08h00.

Por Giovanni De Paola* e Sophie Magri Levy**

O conteúdo desse blog é gerenciado pelo Insper Metricis, o núcleo do Insper especializado em realizar estudos sobre estratégias organizacionais e práticas de gestão envolvendo projetos com potencial de gerar alto impacto socioambiental.

A recente criação do Índice S&P/B3 Brasil ESG, assim como suas contínuas alterações nos critérios de elegibilidade, traz à tona a ampla discussão sobre práticas ESG. Ainda que essas práticas não se limitem unicamente a questões ambientais, com o avanço do aquecimento global, a atitude das firmas com relação ao meio ambiente se torna uma dimensão crucial. Sendo assim, por que algumas empresas relutam em se tornar sustentáveis enquanto outras não?

Para tentar responder a essa pergunta, vale o exercício de buscar entender quem está em campo no jogo ambiental quando se discute ESG. A sociedade naturalmente é protagonista por sofrer com as externalidades negativas criadas pelas firmas: emissão de CO2, poluição, entre outros fatores. As empresas, por serem direta e indiretamente responsáveis pelas mazelas ambientais. Não menos importantes, os investidores, por financiarem as operações das firmas. Por fim, não podemos nos esquecer de quem arbitra o jogo, impondo o desenho institucional da partida: o governo.

É natural que queiramos reduzir essas externalidades. Contudo, a internalização destas pelas companhias, via adoção de práticas ESG, pode não parecer a melhor opção sob a perspectiva das firmas. Muitas vezes, é custoso para os empreendimentos alterar o processo de produção em prol de um menos poluente, além dos lucros possivelmente diminuírem no curto-prazo. Assim, as empresas que adotam determinadas práticas ESG estariam financiando um bem público (redução de riscos ambientais). Com isso, é esperado que surja uma falha de coordenação entre firmas. Neste sentido, não estaria claro por qual razão determinadas empresas deveriam arcar com os custos da transição verde enquanto outras poderiam simplesmente persistir poluindo ao mesmo tempo em que se beneficiariam da menor emissão de poluentes.

Isso nos leva aos investidores. As firmas que optam por serem sustentáveis potencialmente reduzem seu custo de capital por estarem menos propensas a futuros problemas judiciais, mas, ao mesmo tempo, podem apresentar retornos menores e entregar menos dividendos. Não são apenas as firmas que se veem diante do dilema de se tornar sustentáveis, mas os próprios investidores se questionam qual tipo de empresa financiar.

Ainda que normas sociais influenciem as preferências dos investidores, é crucial que o árbitro do jogo alinhe os incentivos desses últimos e das firmas na direção de uma economia mais sustentável. Por isso, é importante que o debate caminhe em direção à escolha do desenho institucional que exerça essa função, reduzindo substancialmente o custo de capital das firmas ESG. Projetos como o BAP (Boardroom Accountability Project) em Nova Iorque ou a imposição de cotas sobre ativos “verdes” são possíveis caminhos a serem adotados. O legado do BAP com firmas reduzindo sua emissão de gases nocivos, como a consequente melhora da qualidade do ar na região, deve ser tomado como lição para pensarmos no caminho desejável para o Brasil.

 

* Giovanni De Paola é economista graduado pelo Insper e mestre em Economia pela Escola de Economia de São Paulo (EESP-FGV).

**Sophie Magri Levy é economista e mestre em Políticas Públicas, tendo obtido ambas as titulações pelo Insper.