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Por que crianças negras têm notas menores que as brancas?

Estudos mostram que o contexto familiar e qualidade das escolas explicam parte considerável das disparidades no desempenho

Crianças na escola, Educação (Getty Images/Reprodução)
Crianças na escola, Educação (Getty Images/Reprodução)
I
Impacto Social

Publicado em 23 de agosto de 2022 às, 00h03.

O conteúdo desse blog é gerenciado pelo Insper Metricis, o núcleo do Insper especializado em realizar estudos sobre estratégias organizacionais e práticas de gestão envolvendo projetos com potencial de gerar alto impacto socioambiental. 

Por Alysson Portella

A desigualdade racial na educação é um problema no Brasil e nos Estados Unidos, dois países marcados por um passado de escravidão e um presente de discriminação racial. No entanto, por que crianças negras e brancas apresentam diferenças em performance acadêmica? Estudos mostram que o contexto familiar e qualidade das escolas explicam parte considerável das disparidades no desempenho, mas não conseguem justificar tudo.

Alguns trabalhos encontram que, em média, a desigualdade racial persiste mesmo no caso de duas crianças, uma negra e outra branca, com níveis socioeconômico iguais e que frequentaram a mesma escola. Uma primeira possibilidade para esse fenômeno é que a discriminação racial faz com que alunos negros tenham experiências distintas no aprendizado em relação a alunos brancos.

Apesar disso, outros fatores também podem ajudar a compreender essa desigualdade. Uma hipótese controversa levantada no contexto norte-americano é o chamado “acting white”. Segundo ela, por razões históricas e pela forma como se dão as relações raciais naquele país, alunos negros reduziriam seus esforços escolares por medo de serem taxados pejorativamente por seus pares de estarem “agindo como branco”. De modo geral, essa hipótese tem sido descartada por pesquisadores.

Em artigo recentemente publicado no PNAS, nós avaliamos em que medida essa hipótese poderia ajudar a explicar as diferenças raciais no Brasil. O caso brasileiro é essencial para compreender se essa hipótese teria mérito geral ou não, já que, ao contrário dos EUA, os grupos raciais são mais ambíguos e flexíveis no Brasil, além dos níveis de segregação serem menores.

Os resultados do estudo indicam a inexistência do chamado “agir como branco” no Brasil. Alunos negros com notas mais altas não têm menos amigos que aqueles com notas menores, o que havia sido interpretado como evidência desse fenômeno nos EUA. Ao contrário, o que se encontrou foi que alunos negros com notas altas têm mais amigos brancos, embora o contrário não ocorra. A existência de diferenças raciais, a despeito da ausência desse fenômeno no Brasil, indica que ele dificilmente é uma causa das desigualdades raciais no desempenho escolar.

Os achados sugerem que a diferença de desempenho em função da raça no contexto brasileiro não está relacionada à socialização entre alunos brancos e negros, pelo menos não no aspecto que fomos capazes de mensurar em nossa pesquisa, o número de amigos. No entanto, este foi apenas um primeiro esforço na direção de compreender o que causa essas disparidades. Aspectos qualitativos das relações sociais dentro das escolas podem afetar negativamente alunos negros. Por exemplo, apelidos pejorativos associados à negritude são comuns mesmo em relações de amizade, o que pode ter consequências sobre a autoestima e aprendizado das crianças negras. Entender o que faz com que nossas crianças negras aprendam menos que seus colegas brancos é essencial para promover oportunidades iguais para todos.