Por que as vozes das nossas tecnologias são femininas?
Será que é porque elas foram projetadas e negociadas por mulheres geniais e poderosas das Big Techs?
Da Redação
Publicado em 20 de setembro de 2022 às 08h30.
Última atualização em 3 de outubro de 2022 às 20h32.
O conteúdo desse blog é gerenciado pelo Insper Metricis , o núcleo do Insper especializado em realizar estudos sobre estratégias organizacionais e práticas de gestão envolvendo projetos com potencial de gerar alto impacto socioambiental.
Por Gabriela Albuquerque Alves* e Sérgio Roberto Cardoso**
É comum ao usamos tecnologias, como GPS, serviços de assistentes virtuais, como Alexa, Siri e Cortana, por exemplo, que quase sempre ouçamos vozes robotizadas femininas. Qual seria a razão disso? Será que é porque elas foram projetadas e negociadas por mulheres geniais e poderosas das Big Techs? Estudos feitos até agora mostram que não é bem por esta razão. O uso da voz feminina, nestes casos, é interpretado como uma voz maternal, com ternura e, no limite, servil. Uma voz que nos ajuda a resolver problemas. Já vozes masculinas conteriam certa frieza autoritária de um pai ou professor. Ou seja, as tecnologias trazem contidas muitas de nossas visões (estereotipadas) sobre nossas concepções de papéis e relações de gênero.
Apesar de serem delas as vozes que “dão vida” a tais tecnologias, parece que ainda não são delas, propriamente, as mentes e vozes que, de fato, tomam as decisões em universidades e nos conselhos de empresas do ramo. Já trouxemos aqui o quão complexo se trata a questão da formação e atuação de mulheres nas Ciências e Tecnologias (C&T). Meninas, desde a educação básica, são fortemente desestimuladas a encararem problemas e desafios matemáticos nas STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, na sigla em inglês). Como resultados, verificam-se, entre outras coisas, um número baixo de candidatas ao ensino superior nessas áreas e uma evasão significativa já nos primeiros anos de formação. Por sua vez, o mercado sente e reflete esta persistente ausência, por exemplo, com muitas restrições para ascensão e ocupação de posições de decisão e estratégia, como CEO e CTO.
Para reparar este nocivo cenário, algumas ações e políticas públicas começam a ser tomadas. O Projeto Women in Tech tem sido um dos fóruns para debates, cada vez mais crescente, cujo propósito é colocar em diálogo a pluralidade de mulheres que estão em formação no ramo tecnológico. Por meio de rodas de conversa como esta, bem como a partir de pesquisas em curso, oHub de Inovaçãodo Insper, por exemplo, busca impulsionar a atuação feminina nas tecnologias, tendo-as como inspiração para estudantes. A partir de levantamentos ainda em curso, números indicam a necessidade de ações mais contundentes para a atração e permanência de estudantes do gênero feminino para cursos como Engenharias e Ciências da Computação. O projeto opera também com recortes metodológicos de interseccionalidade, entendendo, a partir de marcadores sociais da diferença, como raça, sexualidade, idade e classe social, como meninas, jovens e mulheres já experientes são influenciadas em sua relação com o estudo de ciências e desenvolvimento de inovações tecnológicas.
Por falar nisso, em pesquisa de iniciação tecnológica empreendida no último ano por estudante lésbica desta instituição, foi feita uma investigação, com proposta de produto de inovação, levando em consideração a orientação sexual de mulheres lésbicas em STEM. Como resultado, foi possível perceber como alguns grupos específicos encontram ainda mais dificuldades em obter êxito com reflexos, por exemplo, em uma ainda maior ausência de lésbicas em companhias de tecnologia.
Ações que vão desde incentivos às meninas em idade escolar até rodas de conversa com experientes profissionais, docentes e pesquisadoras em tecnologias surgem como meio promissor. Apontam para caminhos e estratégias na gestão pública e privada da educação e de governança empresarial em como driblar e reduzir preconceitos e discriminações. Por isso, mais que ouvi-las em suas robotizadas e afáveis vozes em nossos gadgets, torna-se premente que as valorizemos e as ouçamos em suas competentes e inovadoras pesquisas, ideações de projetos e estratégias de negócios.
*Gabriela Albuquerque Alves é estudante de engenharia mecânica e assistente de pesquisa no Insper.
**Sérgio Roberto Cardoso é professor no curso de engenharia (Ciências, Tecnologias e Sociedades) e faz parte da Comissão de Diversidade, Equidade e Inclusão do Insper.
O conteúdo desse blog é gerenciado pelo Insper Metricis , o núcleo do Insper especializado em realizar estudos sobre estratégias organizacionais e práticas de gestão envolvendo projetos com potencial de gerar alto impacto socioambiental.
Por Gabriela Albuquerque Alves* e Sérgio Roberto Cardoso**
É comum ao usamos tecnologias, como GPS, serviços de assistentes virtuais, como Alexa, Siri e Cortana, por exemplo, que quase sempre ouçamos vozes robotizadas femininas. Qual seria a razão disso? Será que é porque elas foram projetadas e negociadas por mulheres geniais e poderosas das Big Techs? Estudos feitos até agora mostram que não é bem por esta razão. O uso da voz feminina, nestes casos, é interpretado como uma voz maternal, com ternura e, no limite, servil. Uma voz que nos ajuda a resolver problemas. Já vozes masculinas conteriam certa frieza autoritária de um pai ou professor. Ou seja, as tecnologias trazem contidas muitas de nossas visões (estereotipadas) sobre nossas concepções de papéis e relações de gênero.
Apesar de serem delas as vozes que “dão vida” a tais tecnologias, parece que ainda não são delas, propriamente, as mentes e vozes que, de fato, tomam as decisões em universidades e nos conselhos de empresas do ramo. Já trouxemos aqui o quão complexo se trata a questão da formação e atuação de mulheres nas Ciências e Tecnologias (C&T). Meninas, desde a educação básica, são fortemente desestimuladas a encararem problemas e desafios matemáticos nas STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, na sigla em inglês). Como resultados, verificam-se, entre outras coisas, um número baixo de candidatas ao ensino superior nessas áreas e uma evasão significativa já nos primeiros anos de formação. Por sua vez, o mercado sente e reflete esta persistente ausência, por exemplo, com muitas restrições para ascensão e ocupação de posições de decisão e estratégia, como CEO e CTO.
Para reparar este nocivo cenário, algumas ações e políticas públicas começam a ser tomadas. O Projeto Women in Tech tem sido um dos fóruns para debates, cada vez mais crescente, cujo propósito é colocar em diálogo a pluralidade de mulheres que estão em formação no ramo tecnológico. Por meio de rodas de conversa como esta, bem como a partir de pesquisas em curso, oHub de Inovaçãodo Insper, por exemplo, busca impulsionar a atuação feminina nas tecnologias, tendo-as como inspiração para estudantes. A partir de levantamentos ainda em curso, números indicam a necessidade de ações mais contundentes para a atração e permanência de estudantes do gênero feminino para cursos como Engenharias e Ciências da Computação. O projeto opera também com recortes metodológicos de interseccionalidade, entendendo, a partir de marcadores sociais da diferença, como raça, sexualidade, idade e classe social, como meninas, jovens e mulheres já experientes são influenciadas em sua relação com o estudo de ciências e desenvolvimento de inovações tecnológicas.
Por falar nisso, em pesquisa de iniciação tecnológica empreendida no último ano por estudante lésbica desta instituição, foi feita uma investigação, com proposta de produto de inovação, levando em consideração a orientação sexual de mulheres lésbicas em STEM. Como resultado, foi possível perceber como alguns grupos específicos encontram ainda mais dificuldades em obter êxito com reflexos, por exemplo, em uma ainda maior ausência de lésbicas em companhias de tecnologia.
Ações que vão desde incentivos às meninas em idade escolar até rodas de conversa com experientes profissionais, docentes e pesquisadoras em tecnologias surgem como meio promissor. Apontam para caminhos e estratégias na gestão pública e privada da educação e de governança empresarial em como driblar e reduzir preconceitos e discriminações. Por isso, mais que ouvi-las em suas robotizadas e afáveis vozes em nossos gadgets, torna-se premente que as valorizemos e as ouçamos em suas competentes e inovadoras pesquisas, ideações de projetos e estratégias de negócios.
*Gabriela Albuquerque Alves é estudante de engenharia mecânica e assistente de pesquisa no Insper.
**Sérgio Roberto Cardoso é professor no curso de engenharia (Ciências, Tecnologias e Sociedades) e faz parte da Comissão de Diversidade, Equidade e Inclusão do Insper.