“Pensar como cientista” pode influenciar o desempenho de gestores?
Um trabalho em andamento analisou se treinar gestores no uso do método científico afeta a maneira pela qual eles criam e testam novos projetos
Da Redação
Publicado em 8 de março de 2022 às 11h00.
Por Thomaz Teodorovicz*
Uma excitante agenda de pesquisa tem se debruçado sobre a seguinte pergunta: “ de que forma o “agir como um cientista” pode apoiar gestores desde empreendedores até CEOs?”. De maneira geral, esses estudos mostram que a aplicação do método científico – como, por exemplo, estabelecer relações de causa e efeito e o uso de ferramentas empíricas para mensurar e validar resultados – em organizações pode trazer resultados significativos.
Em particular, um trabalho em andamento, liderado por pesquisadores da Bocconi University, Cass Business School, INSEAD e Polytechnic University of Turn, analisou se treinar gestores de startups no uso do método científico afeta a maneira pela qual eles criam e testam novos projetos, assim como o desempenho das empresas. Para isso, os autores conduziram quatro experimentos aleatorizados na Itália (Milão, duas vezes, e Turim) e Inglaterra (Londres), nos quais eles forneceram treinamentos gratuitos de 16 semanas a empreendedores de empresas de até 10 funcionários. No total, 756 empreendedores participaram dos experimentos.
Em cada um desses treinamentos, os participantes foram divididos aleatoriamente em dois grupos: um grupo “placebo” e um grupo de “intervenção”. Participantes em ambos os grupos passaram por sessões sobre tópicos em empreendedorismo e estratégia, incluindo técnicas de análise de evidência como testes A/B e condução de entrevistas. A única diferença entre os grupos foi que indivíduos no grupo de “intervenção” também receberam conhecimento sobre como pensar e agir de um “modo científico”, isto é: (i) desenvolver uma teoria sobre como ações se conectam a resultados, (ii) testar as hipóteses empiricamente e (iii) comparar os resultados de testes com a teoria original.
Utilizando dados coletados com os empreendedores ao longo de um ano após o treinamento, os pesquisadores acharam três diferenças fundamentais na comparação entre os dois grupos. Primeiro, empreendedores no grupo de “intervenção” tiveram maior probabilidade de encerrar seus projetos. Segundo, aqueles que foram ensinados a “agir como cientistas” tiveram maior probabilidade de experimentar profundamente uma ideia nova em vez de simplesmente não tentar ideias novas ou testar várias ideias novas de modo raso. Por fim, o grupo com o treinamento adicional obteve maiores receitas em comparação ao grupo “placebo”.
Quando tomados em conjunto, os resultados sugerem que “agir como cientista” muda o modo que gestores atuam. Eles ficam mais abertos a reconhecer falhas e “teorias erradas” sobre como o mundo funciona, portanto encerram mais projetos. No entanto, eles também estão abertos a tentar novas ideias – só que o fazem de modo intenso ao invés de modo superficial. Finalmente, eles também possuem resultados melhores.
Este projeto exemplifica, portanto, não somente o potencial benefício de haver gestores que ajam de um modo científico, mas também como parcerias universidade-empres a – via programas de treinamentos – podem gerar impacto em organizações no mundo real. Além disso, demonstra como a agenda de pesquisas sobre o método científico aplicado a organizações possui um potencial imenso, uma vez que questões como, por exemplo, “ Como criar práticas que formalizem o pensamento científico no dia a dia de organizações?” podem não apenas guiar novos trabalhos, mas também conectar ainda mais o pensamento científico ao modo pelo qual organizações operam.
* Thomaz Teodorovicz é pesquisador na Harvard University ( Laboratory for Innovation Science at Harvard) e foi recém-contratado como Professor Assistente pela Copenhagen Business School. Ph.D. em Economia dos Negócios pelo Insper. É especialista em gestão estratégica de capital humano e gestão estratégica em setores de impacto social. Seu principal interesse de pesquisa é compreender como organizações podem alavancar o papel de pessoas em suas atividades e como novas habilidades de gestão podem gerar impacto social e alto desempenho.
Por Thomaz Teodorovicz*
Uma excitante agenda de pesquisa tem se debruçado sobre a seguinte pergunta: “ de que forma o “agir como um cientista” pode apoiar gestores desde empreendedores até CEOs?”. De maneira geral, esses estudos mostram que a aplicação do método científico – como, por exemplo, estabelecer relações de causa e efeito e o uso de ferramentas empíricas para mensurar e validar resultados – em organizações pode trazer resultados significativos.
Em particular, um trabalho em andamento, liderado por pesquisadores da Bocconi University, Cass Business School, INSEAD e Polytechnic University of Turn, analisou se treinar gestores de startups no uso do método científico afeta a maneira pela qual eles criam e testam novos projetos, assim como o desempenho das empresas. Para isso, os autores conduziram quatro experimentos aleatorizados na Itália (Milão, duas vezes, e Turim) e Inglaterra (Londres), nos quais eles forneceram treinamentos gratuitos de 16 semanas a empreendedores de empresas de até 10 funcionários. No total, 756 empreendedores participaram dos experimentos.
Em cada um desses treinamentos, os participantes foram divididos aleatoriamente em dois grupos: um grupo “placebo” e um grupo de “intervenção”. Participantes em ambos os grupos passaram por sessões sobre tópicos em empreendedorismo e estratégia, incluindo técnicas de análise de evidência como testes A/B e condução de entrevistas. A única diferença entre os grupos foi que indivíduos no grupo de “intervenção” também receberam conhecimento sobre como pensar e agir de um “modo científico”, isto é: (i) desenvolver uma teoria sobre como ações se conectam a resultados, (ii) testar as hipóteses empiricamente e (iii) comparar os resultados de testes com a teoria original.
Utilizando dados coletados com os empreendedores ao longo de um ano após o treinamento, os pesquisadores acharam três diferenças fundamentais na comparação entre os dois grupos. Primeiro, empreendedores no grupo de “intervenção” tiveram maior probabilidade de encerrar seus projetos. Segundo, aqueles que foram ensinados a “agir como cientistas” tiveram maior probabilidade de experimentar profundamente uma ideia nova em vez de simplesmente não tentar ideias novas ou testar várias ideias novas de modo raso. Por fim, o grupo com o treinamento adicional obteve maiores receitas em comparação ao grupo “placebo”.
Quando tomados em conjunto, os resultados sugerem que “agir como cientista” muda o modo que gestores atuam. Eles ficam mais abertos a reconhecer falhas e “teorias erradas” sobre como o mundo funciona, portanto encerram mais projetos. No entanto, eles também estão abertos a tentar novas ideias – só que o fazem de modo intenso ao invés de modo superficial. Finalmente, eles também possuem resultados melhores.
Este projeto exemplifica, portanto, não somente o potencial benefício de haver gestores que ajam de um modo científico, mas também como parcerias universidade-empres a – via programas de treinamentos – podem gerar impacto em organizações no mundo real. Além disso, demonstra como a agenda de pesquisas sobre o método científico aplicado a organizações possui um potencial imenso, uma vez que questões como, por exemplo, “ Como criar práticas que formalizem o pensamento científico no dia a dia de organizações?” podem não apenas guiar novos trabalhos, mas também conectar ainda mais o pensamento científico ao modo pelo qual organizações operam.
* Thomaz Teodorovicz é pesquisador na Harvard University ( Laboratory for Innovation Science at Harvard) e foi recém-contratado como Professor Assistente pela Copenhagen Business School. Ph.D. em Economia dos Negócios pelo Insper. É especialista em gestão estratégica de capital humano e gestão estratégica em setores de impacto social. Seu principal interesse de pesquisa é compreender como organizações podem alavancar o papel de pessoas em suas atividades e como novas habilidades de gestão podem gerar impacto social e alto desempenho.