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Para crescer com as diferenças, é preciso formar para a diversidade

Cada vez mais empresas têm investido em programas de diversidade e inclusão

(Reprodução/Getty Images)
AM

André Martins

Publicado em 22 de abril de 2021 às 10h00.

Lembro que, na minha infância, quando uma criança chegava para brincar no parquinho, era comum que as demais ficassem desconfiadas, eu inclusive. Posteriormente, nas várias organizações pelas quais passei em minha vida acadêmica e profissional, me chamou a atenção o modo como, mesmo na vida adulta, as pessoas continuavam impondo barreiras à integração das recém-chegadas. Quanto tempo seus colegas de trabalho levaram para, digamos assim, compartilhar a gangorra com você?

O antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, no ensaio Raça e História , explica que essa reação quase automática de repelir o diferente sempre esteve presente em todas as culturas humanas, como tática de preservação do grupo. A ideia de que as práticas do grupo ao qual eu pertenço seriam sempre melhores é chamada etnocentrismo.

O etnocentrismo produz preconceitos, que geram ações discriminatórias. Entre elas, estão o reforço a estereótipos, a estigmatização das diferenças e até mesmo a humilhação daqueles considerados diferentes. Alguns estudos da neurociência, como o de David Amodio publicado na revistaNature, vêm confirmando essa relação.

Cada vez mais empresas têm investido em programas de diversidade e inclusão. Essa virada exige que seus times estejam aptos a acolher as diferenças e, assim, realizar a inclusão na prática. Consultorias que trabalham com diversidade e inclusão, como a McKinsey & Company , consideram que programas de diversidade obtêm êxito quando, junto a outras medidas, estabelecem um plano de formação de toda empresa. Esse plano deve expor e problematizar questões como o etnocentrismo e a discriminação no cotidiano profissional por meio de cursos, palestras, material formativo e treinamentos, oferecendo apoio e orientação à diretoria e às equipes para que elas possam crescer com as diferenças, obter boas experiências de convívio e chegar a soluções inovadoras.

Implementar um programa de diversidade e inclusão sem oferecer uma preparação a altura para a comunidade organizacional pode levar à formação de ambientes e relações ainda mais excludentes e conflituosas. Sem compreender as diferenças, prosseguiremos sem uma divisão justa das tarefas e dos méritos pelas entregas feitas.

Podemos ter saído do parque de diversões, mas continuamos no parque da diversidade. Nele, precisamos aprender a respeitar a diversidade e a acolher os outros com respeito, para saudar com real entusiasmo a chegada das transformações.

*Sérgio Roberto Cardoso é sociólogo, professor na área de Ciência, Tecnologia e Sociedade e integrante da Comissão de Diversidade e Acessibilidade

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Lembro que, na minha infância, quando uma criança chegava para brincar no parquinho, era comum que as demais ficassem desconfiadas, eu inclusive. Posteriormente, nas várias organizações pelas quais passei em minha vida acadêmica e profissional, me chamou a atenção o modo como, mesmo na vida adulta, as pessoas continuavam impondo barreiras à integração das recém-chegadas. Quanto tempo seus colegas de trabalho levaram para, digamos assim, compartilhar a gangorra com você?

O antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, no ensaio Raça e História , explica que essa reação quase automática de repelir o diferente sempre esteve presente em todas as culturas humanas, como tática de preservação do grupo. A ideia de que as práticas do grupo ao qual eu pertenço seriam sempre melhores é chamada etnocentrismo.

O etnocentrismo produz preconceitos, que geram ações discriminatórias. Entre elas, estão o reforço a estereótipos, a estigmatização das diferenças e até mesmo a humilhação daqueles considerados diferentes. Alguns estudos da neurociência, como o de David Amodio publicado na revistaNature, vêm confirmando essa relação.

Cada vez mais empresas têm investido em programas de diversidade e inclusão. Essa virada exige que seus times estejam aptos a acolher as diferenças e, assim, realizar a inclusão na prática. Consultorias que trabalham com diversidade e inclusão, como a McKinsey & Company , consideram que programas de diversidade obtêm êxito quando, junto a outras medidas, estabelecem um plano de formação de toda empresa. Esse plano deve expor e problematizar questões como o etnocentrismo e a discriminação no cotidiano profissional por meio de cursos, palestras, material formativo e treinamentos, oferecendo apoio e orientação à diretoria e às equipes para que elas possam crescer com as diferenças, obter boas experiências de convívio e chegar a soluções inovadoras.

Implementar um programa de diversidade e inclusão sem oferecer uma preparação a altura para a comunidade organizacional pode levar à formação de ambientes e relações ainda mais excludentes e conflituosas. Sem compreender as diferenças, prosseguiremos sem uma divisão justa das tarefas e dos méritos pelas entregas feitas.

Podemos ter saído do parque de diversões, mas continuamos no parque da diversidade. Nele, precisamos aprender a respeitar a diversidade e a acolher os outros com respeito, para saudar com real entusiasmo a chegada das transformações.

*Sérgio Roberto Cardoso é sociólogo, professor na área de Ciência, Tecnologia e Sociedade e integrante da Comissão de Diversidade e Acessibilidade

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