Papel da visão de longo prazo para atingir meta de carbono neutro em 2050
O mercado financeiro passou a se preocupar mais com o risco climático e há um aumento substancial dos investimentos em fundos sustentáveis
Da Redação
Publicado em 1 de julho de 2021 às 10h00.
Por Andrea M. A. F. Minardi
Para atingir o objetivo do Acordo de Paris de evitar que a temperatura se eleve acima de 2º C em relação aos níveis pré-industriais, é essencial que o mundo se torne carbono neutro até 2050. O mercado financeiro passou a se preocupar mais com o risco climático e há um aumento substancial dos investimentos em fundos sustentáveis, com alocação de recursos em ativos com rating ESG elevado (indicador de boas práticas sociais, ambientais e de governança). Vários desses fundos se recusam a investir em empresas com escore ESG baixo, que incluem, em muitos casos, companhias pertencentes à indústria de base, como mineradoras, petroquímicas, madeireiras, siderúrgicas e cimenteiras.
Apesar disso, o mundo continuará a depender dessas empresas, até mesmo para a produção de bens ecologicamente sustentáveis, como baterias elétricas, painéis solares e pás eólicas, por exemplo. Dado esse cenário, não será possível atingir as metas de carbono neutro em 2050 sem a adesão das empresas da indústria de base a essa agenda. É preciso incentivar para que as indústrias responsáveis pela maior parte das emissões desses gases tenham um plano de investimentos e ações de transição, com cronograma de metas, métricas e acompanhamento de desempenho, prestação de contas e premiação para as companhias que estão liderando essa transição.
Boa parte das pessoas concordam que as empresas que não abraçarem de maneira séria o compromisso com práticas mais sustentáveis estão fadadas a desaparecer no longo prazo. Porém, é necessário enxergar que a transição para um modelo carbono neutro não é trivial. A migração para um modelo de zero emissões envolve investimentos gigantescos em novas tecnologias, muitas delas ainda em desenvolvimento, como eletrólise de hidrogênio e eletrificação de processos produtivos, que não estão prontas para implementação em escala. Além disso, depende-se ainda de novas infraestruturas e a desmobilização de ativos, muitos deles já depreciados e grandes geradores de caixa. A Agência Internacional de Energia estima investimentos anuais da ordem de US$ 5 trilhões em 2030 (hoje o investimento em energia é da ordem de US$ 2,3 trilhões) para o caminho de carbono neutro até 2050.
Vários dos investimentos necessários, se forem ignorados os cenários em que os fluxos de caixa são impactados pelo risco climático, têm Valor Presente Líquido (VPL) negativo e são desincentivados e penalizados por acionistas e investidores do mercado financeiro que não querem abrir mão de rentabilidade no curto prazo em favor do longo prazo. Porém, são os investimentos feitos hoje que permitirão que a empresa tenha uma maior flexibilidade gerencial e esteja mais apta para reagir às externalidades como, por exemplo, adaptar-se melhor a impactos socioambientais decorrentes de eventos climáticos. Os mesmos investimentos presentes também serão responsáveis por gerar vantagens competitivas no futuro. É necessário ter uma visão de longo prazo no quesito sustentabilidade socioambiental.
Por Andrea M. A. F. Minardi
Para atingir o objetivo do Acordo de Paris de evitar que a temperatura se eleve acima de 2º C em relação aos níveis pré-industriais, é essencial que o mundo se torne carbono neutro até 2050. O mercado financeiro passou a se preocupar mais com o risco climático e há um aumento substancial dos investimentos em fundos sustentáveis, com alocação de recursos em ativos com rating ESG elevado (indicador de boas práticas sociais, ambientais e de governança). Vários desses fundos se recusam a investir em empresas com escore ESG baixo, que incluem, em muitos casos, companhias pertencentes à indústria de base, como mineradoras, petroquímicas, madeireiras, siderúrgicas e cimenteiras.
Apesar disso, o mundo continuará a depender dessas empresas, até mesmo para a produção de bens ecologicamente sustentáveis, como baterias elétricas, painéis solares e pás eólicas, por exemplo. Dado esse cenário, não será possível atingir as metas de carbono neutro em 2050 sem a adesão das empresas da indústria de base a essa agenda. É preciso incentivar para que as indústrias responsáveis pela maior parte das emissões desses gases tenham um plano de investimentos e ações de transição, com cronograma de metas, métricas e acompanhamento de desempenho, prestação de contas e premiação para as companhias que estão liderando essa transição.
Boa parte das pessoas concordam que as empresas que não abraçarem de maneira séria o compromisso com práticas mais sustentáveis estão fadadas a desaparecer no longo prazo. Porém, é necessário enxergar que a transição para um modelo carbono neutro não é trivial. A migração para um modelo de zero emissões envolve investimentos gigantescos em novas tecnologias, muitas delas ainda em desenvolvimento, como eletrólise de hidrogênio e eletrificação de processos produtivos, que não estão prontas para implementação em escala. Além disso, depende-se ainda de novas infraestruturas e a desmobilização de ativos, muitos deles já depreciados e grandes geradores de caixa. A Agência Internacional de Energia estima investimentos anuais da ordem de US$ 5 trilhões em 2030 (hoje o investimento em energia é da ordem de US$ 2,3 trilhões) para o caminho de carbono neutro até 2050.
Vários dos investimentos necessários, se forem ignorados os cenários em que os fluxos de caixa são impactados pelo risco climático, têm Valor Presente Líquido (VPL) negativo e são desincentivados e penalizados por acionistas e investidores do mercado financeiro que não querem abrir mão de rentabilidade no curto prazo em favor do longo prazo. Porém, são os investimentos feitos hoje que permitirão que a empresa tenha uma maior flexibilidade gerencial e esteja mais apta para reagir às externalidades como, por exemplo, adaptar-se melhor a impactos socioambientais decorrentes de eventos climáticos. Os mesmos investimentos presentes também serão responsáveis por gerar vantagens competitivas no futuro. É necessário ter uma visão de longo prazo no quesito sustentabilidade socioambiental.