O tipo de proprietário afeta o rating ESG da empresa?
Há uma discussão em curso sobre quais fatores podem influenciar a orientação ESG das empresas
Publicado em 19 de outubro de 2021 às, 11h00.
Por Alexandre dos Reis Marques
Tem-se observado um crescimento exponencial na preocupação dos investidores e das empresas com o tema ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança). A análise dos indicadores de desempenho ESG, desenvolvida por diferentes empresas de rating, representa uma importante ferramenta para a avaliação da estrutura de sustentabilidade corporativa das empresas, para a tomada de decisão dos investidores e, em especial, para a análise de desempenho de longo prazo e a avaliação dos riscos. Há, entretanto, uma discussão em curso sobre quais fatores podem influenciar a orientação ESG das empresas. Um desses fatores é a estrutura de propriedade, já que os proprietários podem influenciar a forma pela qual as empresas são administradas, o que, por sua vez, reflete-se nas preocupações destas com o desempenho ESG.
Utilizando dados da Thomson Reuters ASSET4 do período de 2013 a 2019, construí um painel com 120 empresas brasileiras de capital aberto de diferentes setores e analisei, em minha dissertação, o desempenho delas em cada pilar ESG ao longo do tempo. A pesquisa teve por objetivo procurar relações entre os ratings ESG com os diferentes tipos de proprietários: institucionais, familiares e empresas controladas pelo governo.
Os resultados mais robustos encontrados indicaram uma associação negativa da propriedade familiar e da propriedade do governo com o pilar ESG de governança. No primeiro caso, apontaram que o controle familiar pode impor interesses pessoais, renunciando às melhores práticas de governança corporativa; no segundo, dificuldades políticas e problemas na gestão das empresas de propriedade do governo podem deteriorar os indicadores de desempenho do pilar ESG de governança.
As demais variáveis de propriedade mostraram pouco poder explicativo sobre o desempenho dos pilares ESG, mostrando que classificações genéricas de proprietários não ajudaram a explicar o desempenho ESG das empresas. Existe muita variação dentro do mesmo tipo de proprietário, sendo necessário mergulhar mais nestas nuances (tipos diferentes de famílias e seu envolvimento com a empresa).
O estudo identificou ainda que outros fatores específicos das empresas influenciam o desempenho ESG, tais como o rating ESG passado da empresa, tamanho da organização e se ela possui uma dívida controlada.
Outro ponto interessante observado foi que as conclusões podem variar a depender do rating ESG utilizado. O estudo apresentou resultados distintos para diferentes agências de rating dos indicadores de desempenho ESG, mostrando que resultados obtidos com base em dados de uma agência ESG podem não ser replicáveis com os dados de desempenho ESG de outra agência.
Apesar do crescimento da importância do tema ESG, principalmente após o lançamento pela ONU em 2006 dos “Princípios para investimento responsável”, esta ainda é uma agenda relativamente nova, principalmente para as empresas e investidores brasileiros, apresentando um grande campo para aprofundamento das discussões e estudos inerentes ao tema. As evidências encontradas em minha dissertação contribuem para esse debate. Elas apontaram que diferentes proprietários estão associados a distintos resultados no pilar ESG de governança, com empresas familiares ou controladas pelo governo registrando pior desempenho neste quesito.