Nosso futuro depende de cadeias produtivas inclusivas e inteligentes
Com o crescimento da população global estimado para cerca de 10 bilhões de pessoas até 2050, todos os desafios ambientais aumentarão
Publicado em 12 de novembro de 2020 às, 15h00.
Última atualização em 13 de novembro de 2020 às, 15h48.
O agroalimento é o maior setor econômico do mundo. A produção de alimentos e a expansão relacionada a terras agrícolas são os maiores vetores de mudança ambiental. Metade da vegetação do planeta está na agricultura, provocando mudanças sistêmicas no solo, impacto no clima, perda de biodiversidade, escassez de água potável, interferência nos ciclos de nitrogênio e fósforo e poluição química.
As mudanças climáticas já afetam a disponibilidade e acesso aos alimentos à medida que a magnitude e frequência de eventos climáticos disruptivos aumentam. Pela crescente demanda de alimentos, a humanidade foi capaz de estabelecer uma relação perversa entre expansão agrícola, degradação ambiental e impactos climáticos, com consequências negativas para a própria agricultura.
Com o crescimento da população global estimado para cerca de 10 bilhões de pessoas até 2050, todos os desafios ambientais aumentarão. A demanda geral por comida está projetada para crescer mais de 50%. O atual modelo de produção e consumo está longe de respeitar as restrições ambientais do planeta, que estabelecem um espaço seguro de operação do sistema alimentar para salvaguardar a integridade da população.
Mais de 2 bilhões de pessoas trabalham nesse sistema, com metade da população economicamente ativa do mundo na agricultura. O sistema agroalimentar falha em prover para a maioria dessas pessoas renda adequada: 83% de todos os produtores globais (o equivalente a 475 milhões) possuem menos de dois hectares de terras, o que representa 12% de todas as terras cultivadas. Três quartos de todos os produtores rurais vivem em situação de pobreza em contextos vulneráveis de trabalho, expostos a riscos, insalubridade, abuso econômico e extrema desigualdade. Na média, apenas entre 4% a 7% do preço de varejo dos produtos alimentares finais ficam nas mãos de produtoras e produtores rurais.
Esses mesmos produtores rurais são crucias para garantir a conservação da biodiversidade e evitar a aceleração de impactos climáticos. O solo é a segunda maior reserva de carbono do planeta, seguido dos oceanos. Ele armazena quatro vezes mais carbono que todas as plantas e árvores do planeta. Porém, a lavoura intensa de baixa tecnicidade danificou seriamente um terço de toda terra agrícola do mundo nas últimas quatro décadas. Se agricultura regenerativa é necessária para se reverter esse cenário, pequenos produtores são chave nesse caminho em que a melhor gestão do solo gera produtividade e renda.
As cadeias agroalimentares do futuro devem se basear em três elementos fortemente pautados em um ecossistema sustentável: maior prosperidade (melhora de distribuição de renda ao longo da cadeia de suprimentos), equilíbrio com a natureza (produtividade em harmonia com a conservação do solo, água e ar) e inclusão (empoderamento das comunidades e inclusão de mulheres, jovens e minorias indígenas).
No próximo post falaremos sobre exemplos concretos de como educação e tecnologia podem auxiliar no processo de construção de um ambiente de produção alimentar sustentável. Não perca!
*Rodrigo Castro é Diretor de País da Solidaridad Brasil, biólogo e empreendedor social da rede Ashoka.
**Carolina da Costa, PhD, board member Latam da rede Solidaridad, sócia da Mauá Capital para novos negócios e funding ESG e Impacto. Professora do Insper.