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Mudanças climáticas, insegurança alimentar e desafios no celeiro do mundo

A Cúpula de Sistemas Alimentares, que aconteceu em setembro de 2021, trouxe o desafio para países encontrarem soluções para este problema

Daqui para frente, a alta dos alimentos, conforme analistas de mercado, tende a ser menor do que a dos combustíveis, já que a defasagem da gasolina frente ao exterior leva a uma necessidade de correção estimada em algo entre 5% e 10%.
 (Paulo Whitaker/Reuters)
Daqui para frente, a alta dos alimentos, conforme analistas de mercado, tende a ser menor do que a dos combustíveis, já que a defasagem da gasolina frente ao exterior leva a uma necessidade de correção estimada em algo entre 5% e 10%. (Paulo Whitaker/Reuters)
I
Impacto Social

Publicado em 4 de novembro de 2021 às, 10h00.

Última atualização em 5 de novembro de 2021 às, 08h29.

Por Fernanda K. Lemos* e Rodrigo A.C. Lima**

A segurança alimentar é um direito comum a todos. Em dois anos, a situação de insegurança alimentar agravou-se em todo o mundo, alcançando 811 milhões de pessoas, segundo relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). No Brasil, considerado celeiro do mundo, o número de pessoas em situação de fome extrema chegou a 19 milhões e cerca de 116,8 milhões passaram por alguma situação de insegurança alimentar. Diante desses dados, qual o papel do Brasil sobre a saúde, abastecimento e bem-estar de sua população e de países parceiros?

A Cúpula de Sistemas Alimentares, que aconteceu em setembro de 2021, trouxe o desafio para países encontrarem soluções para este problema. Os debates aconteceram em cinco eixos temáticos: 1) Assegurar acesso a alimentos seguros e nutritivos a todos; 2) Mudar para padrões de consumo sustentáveis; 3) Impulsionar a produção "positiva com a natureza"; 4) Promover meios de subsistência equitativos e 5) Construir resiliência a vulnerabilidades, choques e estresses.

Os temas debatidos convidaram os países a apresentar sugestões que permitissem aperfeiçoar os sistemas alimentares. No documento Brazil National Pathways to Sustainable Food Systems” foram apresentados 9 caminhos para aprimorar seus sistemas alimentares em concordância com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis: 1) Pesquisa e inovação contínua e inclusiva; 2) Desenvolvimento de sistemas alimentares adaptados às circunstâncias locais que estimulem a redução de emissões de gases de efeito estufa; 3) Agricultura como solução para as mudanças climáticas; 4) Impulso ao uso de energias renováveis; 5) Impulso à biodiversidade agrícola integrada nos sistemas alimentares; 6) Acesso a alimentos seguros, saudáveis e nutritivos para todos; 7) Apoio a pequenos produtores e à agricultura familiar; 8) Combate à perda e ao desperdício de alimentos e 9) Comércio justo.

Esses caminhos serão desdobrados em ações efetivas, políticas e estratégias que envolvam diversos atores para que se produzam alimentos seguros e saudáveis para melhorar a vida e acesso aos alimentos, bem como acabar com a fome no país.

O Brasil tem gargalos enormes para vencer quando se trata de segurança alimentar. Precisa fomentar inovação para produzir mais, abrangendo pequenos produtores, adotando boas práticas produtivas e produzindo alimentos diversificados. A educação alimentar é outro pilar que precisa ser aprimorado. A alimentação nas escolas é um passo relevante neste sentido. A população pode aprender a comer e a diversificar sua alimentação. No entanto, para isso, é preciso também que as condições sociais e a qualidade de vida aumentem para se ter acesso a alimentos saudáveis.

Há inúmeros desafios para avançar na agenda dos sistemas alimentares. Cabe ao país definir ações e políticas estratégicas; ao setor privado, sociedade civil e outros atores, buscar esses aprimoramentos, pois há muito a ser feito pelo bem-estar dos brasileiros e de outros países abastecidos pelo país.

*Fernanda K. Lemos é pesquisadora associada na Universidade de York e pesquisadora visitante no Insper. Doutora em Administração de Empresas pela Universidade de São Paulo (FEA/USP).

**Rodrigo A.C. Lima é sócio-diretor da Agroicone. advogado, doutor em Direito das Relações Econômicas Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Possui 17 anos de experiência em comércio internacional, meio ambiente e desenvolvimento sustentável no setor agropecuário e de energias renováveis.