Monetização de impacto: SROI e o retorno social de um investimento
Na coluna de hoje, Jorge Ikawa e Octavio Augusto de Barros comentam sobre o Retorno Social sobre o Investimento
Publicado em 7 de julho de 2022 às, 09h00.
Por Jorge Ikawa* e Octavio Augusto de Barros**
Recentemente iniciamos uma discussão sobre algumas das abordagens mais recorrentes para monetização de impacto. Já escrevemos sobre as análises de Custo-Efetividade (CE) e de Custo-Benefício (CB). Neste texto, discorremos sobre o Retorno Social sobre o Investimento (do inglês, Social Return on Investment ou SROI). Informações mais aprofundadas sobre o assunto estão disponíveis aqui, em material desenvolvido pelo Insper Metricis, em parceria com a GK Ventures.
A abordagem SROI segue uma lógica similar à da análise de CB, porém procura examinar da forma mais completa possível os benefícios e investimentos do projeto, especialmente do ponto de vista dos stakeholders envolvidos no processo. Há inclusive um manual com os procedimentos a serem adotados. Assim como no cálculo de Retorno Sobre o Investimento (do inglês, Return on Investment ou ROI), usualmente adotado em análises com foco econômico-financeiro, a técnica procura oferecer um indicador que calcule uma relação entre o impacto social gerado (estimado em reais) e o investimento efetuado.
Como ilustração, considere o caso de um projeto de capacitação para adultos. A abordagem SROI procura incorporar aos cálculos não apenas os efeitos relacionados ao mercado de trabalho, mas também impactos indiretos, como maior realização pessoal e autoestima, contatos com outras pessoas durante o treinamento, entre outros. Dado que muitos desses efeitos não são facilmente convertidos em valores monetários, a abordagem comumente utiliza-se de entrevistas com os participantes e/ou a contribuição dos demais stakeholders para atribuição de valores (em reais) aos ganhos de participar da ação.
No exemplo acima, os participantes seriam questionados sobre qual o valor (em reais) eles atribuiriam ao aumento da autoestima, bem como quanto valeria o contato feito com os demais beneficiários durante treinamento. Suponha que, neste caso, o avaliador do programa estime que cada R$ 1,00 investido gere um benefício de R$ 4,00 após considerar as percepções dos beneficiários sobre a iniciativa. A taxa SROI apontará ao final quantos reais foram gerados a partir de cada real investido. Nesse caso, teremos uma taxa SROI de 4:1.
Um exemplo aplicado dessa abordagem pode ser visto aqui, na avaliação do CEAP (Centro Educacional Assistencial Profissionalizante), uma escola profissionalizante gratuita, ou aqui, sobre o retorno social de ambientes não clínicos em pacientes com câncer.
Embora a abordagem estabeleça o uso de análise contrafactual, avaliações com o uso de SROI usualmente se valem de dados obtidos a partir da percepção dos próprios beneficiários, o que torna seu cômputo mais impreciso e a atribuição de causalidade mais baixa. No entanto, caso dados mais objetivos sejam utilizados, e estimativas contrafactuais partam de estudos com grupos de controle, a precisão e a capacidade de inferência causal das estimativas podem aumentar. A baixa capacidade de atribuição causal também é um dos pontos fracos da abordagem Impact-Weighted Accounts, metodologia ainda em desenvolvimento e tema de uma próxima publicação. Voltaremos ao tema monetização de impacto social em breve!
*Jorge Ikawa é doutor em Economia dos Negócios pelo Insper, bacharel em Economia pela FEARP-USP e formado em Jornalismo pela ECA-USP.
**Octavio Augusto de Barros é doutorando em Economia dos Negócios pelo Insper. É graduado em Economia pela FGV-SP e mestre em Estratégia Empresarial pela mesma instituição. Atua como pesquisador nas áreas de Avaliação de Impacto Socioambiental e Estratégia Organizacional.