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Monetização de impacto: como incorporar aos demonstrativos contábeis da empresa?

A metodologia, até o momento, tem dado ênfase a variáveis que podem ter efeito direto nos resultados financeiros das empresas

Metodologia em fase de desenvolvimento que tem como objetivo incorporar aos demonstrativos contábeis, para além do desempenho econômico (Krisanapong Detraphiphat/Getty Images)
Metodologia em fase de desenvolvimento que tem como objetivo incorporar aos demonstrativos contábeis, para além do desempenho econômico (Krisanapong Detraphiphat/Getty Images)
I
Impacto Social

Publicado em 25 de agosto de 2022 às, 00h06.

Por Jorge Ikawa* e Octavio Augusto de Barros**

Escrevemos recentemente aqui no blog sobre diferentes abordagens de monetização de impacto[1], entre elas as análises de Custo-Efetividade (CE)[2], de Custo-Benefício (CB)[3] e SROI[4]. Neste texto, falaremos em mais detalhe sobre Impact-Weighted Accounts, metodologia em fase de desenvolvimento que tem como objetivo incorporar aos demonstrativos contábeis, para além do desempenho econômico, as consequências sociais e ambientais promovidas pela companhia. Um panorama mais completo sobre esse assunto pode ser encontrado aqui[5], em documento elaborado pelo Insper Metricis[6], em parceria com a GK Ventures[7].

A abordagem Impact-Weighted Accounts busca mensurar de modo padronizado, assim como ocorre com a contabilidade financeira tradicional, as ações nos campos social e ambiental de determinada companhia. Espera-se que, com essas informações, investidores tenham uma visão mais completa da empresa, não ficando restritos à performance econômica. Para que isso seja possível, a metodologia sugere a fragmentação do produto socioambiental da instituição em uma série de dimensões, calculadas de forma individual e posteriormente incorporadas ao balanço patrimonial. O método aspira tornar-se um padrão para a gestão de investimentos ESG[8] (sigla em inglês para ambiental, social e governança).

Como um exemplo aplicado, a metodologia foi utilizada para calcular em quanto o resultado contábil da Intel[9], empresa do segmento de tecnologia, seria afetado caso os efeitos da companhia sobre o mercado de trabalho fossem considerados nos demonstrativos financeiros. De acordo com essa abordagem, a empresa seria responsável por uma geração de valor de USD 3,858 bilhões, um acréscimo de 26,97% aos mais de USD 14 bilhões de receita gerada pela companhia em 2018. Esses números levam em consideração seis dimensões ligadas ao mercado de trabalho, quatro delas relacionadas aos funcionários da própria companhia (qualidade do salário, avanço na carreira, oportunidades e saúde e bem-estar) e duas vinculadas ao mercado de trabalho local (diversidade e localização).

Uma vez que a abordagem Impact-Weighted Accounts tem por objetivo tornar-se um padrão de governança, sua implementação tende a seguir medidas previamente estabelecidas, ainda em desenvolvimento. A metodologia, até o momento, tem dado ênfase a variáveis que podem ter efeito direto nos resultados financeiros das empresas – o que é chamado de materialidade financeira. Este ponto tem provocado críticas, uma vez que variáveis afetadas por estratégias corporativas podem ter resultados relevantes não financeiros. Há, inclusive, um movimento mais recente de se tentar contabilizar efeitos mais gerais da empresa sobre diversos stakeholders.

Outro ponto de críticas diz respeito ao fato de a metodologia geralmente não se apoiar na construção de um cenário contrafactual para comparação do que teria acontecido na ausência da empresa. Esse fato diminui em muito a capacidade de atribuição causal ao possível impacto socioambiental positivo porventura proveniente das ações da companhia. Na próxima publicação sobre o assunto, traremos uma comparação entre as metodologias apresentadas. Não perca!

*Jorge Ikawa é doutor em Economia dos Negócios pelo Insper, bacharel em Economia pela FEARP-USP e formado em Jornalismo pela ECA-USP.

** Octavio Augusto de Barros é doutorando em Economia dos Negócios pelo Insper. É graduado em Economia pela FGV-SP e mestre em Estratégia Empresarial pela mesma instituição. Atua como pesquisador nas áreas de Avaliação de Impacto Socioambiental e Estratégia Organizacional.


[1] Link: https://exame.com/colunistas/impacto-social/como-avaliar-projetos-sob-o-ponto-de-vista-economico/

[2] Link: https://exame.com/colunistas/impacto-social/monetizacao-de-impacto-a-avalicao-de-custo-efetividade-de-um-projeto/

[3] Link: https://exame.com/colunistas/impacto-social/monetizacao-de-impacto-o-custo-beneficio-de-um-projeto-socioambiental/

[4] Link: https://exame.com/colunistas/impacto-social/monetizacao-de-impacto-sroi-e-o-retorno-social-de-um-investimento/

[5] Link: https://www.insper.edu.br/wp-content/uploads/2022/01/2021-12-GUIA-MONETIZAC%CC%A7A%CC%83O-DE-IMPACTO-SOCIAL-INSPER-2021-Portugue%CC%82s.pdf

[6] Link: https://www.insper.edu.br/pesquisa-e-conhecimento/centro-de-gestao-e-politicas-publicas/nucleo-medicao-investimentos-de-impacto/

[7] Link: https://gkventures.com/

[8] Link: https://exame.com/blog/impacto-social/desmistificando-conceitos-diferencas-entre-investimentos-esg-e-de-impacto/

[9] Link: https://www.hbs.edu/ris/Publication%20Files/21-050_02b3dec4-b30f-4fd4-aa41-2d6a4933383b.pdf