Microcrédito gera impacto social?
Um estudo analisou os empréstimos concedidos a empreendedores por uma empresa de microcrédito e chegou a algumas conclusões inesperadas
Publicado em 29 de maio de 2020 às, 12h27.
Última atualização em 31 de janeiro de 2022 às, 11h09.
Três pesquisadores do Insper Metricis – Leandro Nardi, Sergio Lazzarini e Sandro Cabral – analisaram dados de empréstimos de uma empresa de microcrédito concedidos aos beneficiários com dois objetivos: geração de lucro e impacto social. Para inferir a influência do crédito na vida dos favorecidos, o estudo compara empreendedores que tiveram o crédito aprovado a outros empreendedores similares que solicitaram o empréstimo, mas não tiveram o valor liberado. Os dados referem-se ao período entre julho de 2016 e março de 2018. Você encontra o estudo completo aqui.
Para que fosse possível a comparação, localizou-se, para cada beneficiário que recebeu crédito, um empreendedor com características similares, tais como gênero, idade, histórico de crédito, número de empregados, entre outras características. Comparou-se, então, como as receitas líquidas do empreendedor evoluíram ao longo do tempo (antes e depois do empréstimo). Com maiores receitas, a renda do beneficiário aumentaria, resultando, por fim, em melhorias de vida e de trabalho.
O estudo conclui, no entanto, que houve variação negativa das receitas líquidas após a contração do empréstimo entre os empreendedores observados (2.738 indivíduos, sendo quase 80% do sexo feminino). Ecoando preocupações da literatura de microcrédito, é possível que os beneficiários assumam dívidas sem gerar aumento de renda compatível com o crédito tomado.
Resultados distintos, porém, foram obtidos em alguns grupos de empreendedores. Por exemplo, o crédito gerou resultados positivos entre beneficiários com histórico mais longo de relacionamento com a empresa de microcrédito. Isso sugere que ações de suporte aos empreendedores podem contribuir para aumentar a efetividade dos ganhos provenientes com o crédito.
Porém isso gera um paradoxo: porque os recursos são escassos, os maiores ganhos obtidos pelos empreendedores que detêm esses recursos ficarão restritos à minoria da população––um resultado que não interessa muito a uma organização que tenha por objetivo gerar impacto social amplo.
Uma forma de resolver este dilema é desenhar intervenções que diminuam a parcela dos empreendedores que não têm acesso a esses recursos. Por exemplo, com o intuito de aumentar o acesso dos empreendedores a capital humano, é possível pensar em intervenções que ensinem princípios básicos de administração ou finanças pessoais aos empreendedores, com foco principal naqueles que têm menor acesso à educação ou que acumulam menor experiência no mercado de trabalho. Um exemplo de iniciativa como a sugerida você encontra aqui.