Liderança escolar de impacto: equilibrando participação e direcionamento
Gestão democrática e participação nas escolas não substitui a necessidade de uma liderança atuante, que ofereça direção e mobilize pessoas
Publicado em 17 de agosto de 2021 às, 10h00.
Última atualização em 17 de agosto de 2021 às, 12h54.
Por Gustavo M. Tavares*
Quando assunto é liderança escolar, ideias como gestão democrática, liderança compartilhada e participação dominam o debate. Formas mais horizontais e participativas de liderança têm um bom encaixe com o contexto educacional, onde os trabalhadores estão em contato direto com os beneficiários na prestação do serviço público. O trabalho exige respostas rápidas e adaptação constante. Cada sala de aula é um universo e os professores não só precisam, mas demandam autonomia.
Especialmente para aqueles que estão intrinsicamente interessados em fazer a diferença na sociedade através do seu trabalho, poder participar das decisões da escola e ter sua necessidade de autonomia suprida têm impacto direto na motivação. Além disso, entende-se que o debate e a participação da comunidade escolar aumentam a qualidade das decisões na escola.
Contudo, a despeito do enorme potencial dessas formas horizontais de liderança, o efeito da gestão democrática e participação sobre os resultados da escola não é garantido. Um ponto importante é que não se pode confundir gestão democrática com abstenção do dever de gerir e liderar. Muitas vezes, a pretexto de estarem sendo “democráticos”, alguns gestores e gestoras escolares podem acabar delegando o indelegável e deixando de atuar ativamente no processo — muitas vezes árduo — de dar direcionamento, alinhar e mobilizar pessoas. Ou seja, adotam uma postura de não-liderança, ou laissez-faire. Quando isso ocorre, pode até haver a percepção de que a gestão é democrática e de que os servidores têm voz na escola, contudo, os resultados não aparecem. É isso que mostra uma pesquisa realizada com os colegas Ula Lagowska (NEOMA Business School) e Filipe Sobral (FGV/EBAPE).
Neste estudo, buscamos superar a lógica do “ou isto ou aquilo” que marca os estudos de liderança, especialmente no contexto escolar. Propomos que nem a liderança vertical do diretor da escola (que dá direção, alinha e mobiliza), nem a existência de uma liderança “horizontal” (compartilhamento e participação) isoladamente garantem resultados efetivos na escola, mas, sim, a combinação das duas coisas. Usando dados coletados em 74 escolas da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, os resultados confirmaram que o nível de liderança compartilhada na escola por si só não está associado a uma melhoria significante do desempenho dos alunos (medido a partir do IDEB). Apenas quando existe uma liderança vertical forte e atuante por parte dos diretores e diretoras — que orienta, clarifica objetivos, alinha e mobiliza pessoas — o nível de liderança compartilhada e participação dos professores mostra-se positivamente associado à melhoria no IDEB. Ou seja, o compartilhamento da liderança e participação dos funcionários sem uma direção clara e alinhamento não produz os efeitos esperados.
Em se tratando de gestão escolar, não existe panaceia. Para que a gestão democrática na escola entregue resultados, é preciso que diretores e diretoras atuem como líderes neste processo.
*Gustavo M. Tavares é professor do Insper na área de comportamento organizacional e liderança. Tem especial interesse sobre temas comportamentais aplicados ao setor público.