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Investimento de impacto: “Precisa começar com um propósito genuíno”

Entrevista com o co-fundador da Vox Capital, primeira gestora de investimentos de impacto do país, sobre a evolução e perspectivas deste segmento no Brasil

Investimentos: entrevistamos Daniel Izzo, co-fundador e diretor executivo da Vox Capital, primeira gestora de investimentos de impacto do país (Thithawat_s/Getty Images)
JR

Janaína Ribeiro

Publicado em 4 de agosto de 2020 às 08h30.

Última atualização em 7 de agosto de 2020 às 01h08.

Entrevistamos Daniel Izzo, co-fundador e diretor executivo da Vox Capital, primeira gestora de investimentos de impacto do país, sobre a evolução e perspectivas deste segmento no Brasil.

1) Daniel, hoje você está à frente de uma das principais gestoras de investimentos de impacto do Brasil, aVox Capital. Desde 2009, quando vocês começaram esta empreitada, você poderia nos contar sobre alguns dos projetos mais marcantes para você?

Entre os projetos que marcaram, falando de mercado, e que nós estávamos envolvidos também, eu cito os fóruns de finanças sociais, de negócios de impacto. Aconteceu uma versão 2016, outra em 2018 e uma online em 2020. E o evento foi crescendo. Em 2018, mais de 1000 pessoas participaram. A primeira versão contou com umas 300 ou 400 pessoas. Esse crescimento demonstrou como aumentava o interesse sobre o tema. Ainda sobre o mercado, foi muito interessante o lançamento do capítulo brasileiro da ANDE ( Aspen Network of Development Entrepreneurs ) em 2010. Acho que foi a primeira vez que conseguimos trazer um organismo global para vir para o Brasil para fazer essa ponte do ecossistema brasileiro com alguma iniciativa global. Destaco também o lançamento da Força Tarefa de Finanças Sociais, que agora é a Aliança para os Negócios e Investimentos de Impacto, que também foi marcante como construção de ecossistema. Também marcante foi a criação do grupo de trabalho dentro do governo, a ENIMPACTO ( Estratégia Nacional de Investimentos e Negócios de Impacto ), unindo diversas organizações públicas e da sociedade civil.

Como Vox, o primeiro grande marco foi o lançamento do nosso primeiro fundo em 2012, que também foi o primeiro fundo de investimento de impacto do Brasil. O fato de conseguirmos colocar no regulamento uma taxa de sucesso relacionada ao impacto que gerávamos foi algo inovador, um ponto que, inclusive, os advogados responsáveis à época eram contra. Esse mecanismo posteriormente virou referência no mundo, não só aqui no Brasil. Outro ponto que destaco é que, a partir de 2012 ou 2013, passamos a ser nomeados como um dos 50 principais fundos de investimento de impacto no mundo, o ImpactAssets 50. Também foi marcante para nós quando, a partir de 2013, passamos a ser convidados pelo pessoal de Oxford, da Saïd Business School, para dar aula no curso de investimento de impacto. E a gente tem voltado todo ano! Inclusive, somos um case da Harvard Business School: Pioneering Impact Investing in Brazil. E houve também, em 2018, uma primeira saída de um investimento em participação acionária de impacto, que foi a venda da nossa participação na tem . Tivemos um bom retorno, de 26% ao ano, criando um negócio de saúde de impacto: um cartão pré-pago para saúde.

2) Para muita gente, negócios com fins lucrativos e geração de impacto social são segmentos desconectados. Você acredita que, cada vez mais, lucratividade e geração de impacto passarão a caminhar juntos? Por quê?

Sim. Primeiro por uma questão ética. Homens e mulheres de negócio não podem se isentar dos impactos causados na sociedade. Costumo brincar que investir sem se preocupar com o impacto que geramos é um hábito tão velho quanto fumar no avião ou jogar lixo na rua, por exemplo. “Lembra quando a gente jogava lixo na rua? Lembra quando a gente fumava no avião? Lembra quando a gente investia e não se preocupava com o impacto gerado?”. Eu brinco, mas acho que faz parte do mesmo grupo. Então, esse é o lado ético da questão.

Tem também o lado do negócio em si. Quando você olha para o longo prazo, se você tem um negócio que gera impacto positivo, que trabalha para resolver um problema e gerar impacto positivo, por um lado, você vai ter menos riscos reputacionais ou riscos de escândalos, por outro, você terá uma marca ou um produto muito bom, que gera lealdade do consumidor. E isso, no longo prazo, para mim, faz todo o sentido ter mais retorno. Sou até um pouco mais radical. Acho que só os negócios que conseguem comprovar o valor positivo para a sociedade vão, no longo prazo, sobreviver. Faz sentido, desde já, você pensar em trazer produtos ou serviços que resolvam problemas intencionalmente e que tornem a vida das pessoas que têm acesso a esses serviços melhor, como uma forma também de trazer um retorno mais sustentável e talvez maior no longo prazo.

E tem mais uma brincadeira aí. Quando o pessoal pergunta: “o que você está abrindo mão de retorno para fazer impacto social?”. A melhor resposta é “o que você está abrindo mão de retorno de longo prazo para tentar maximizar seu lucro de curto prazo?”. Porque, na minha opinião, o que “mais briga” com valor de longo prazo é a busca por maximização de valor de curto prazo.

3) Em artigo recente você escreve sobre as consequências da Covid-19: “Se o fluxo do dinheiro estivesse preocupado em resolver problemas do mundo real, ou sendo gerenciado com esse objetivo, os efeitos do vírus seriam menos graves ou, pelo menos,poderiam ser solucionados em menor tempo”. Para você, como o setor empresarial pode incorporar cada vez mais a variável impacto social nas decisões de negócios?

Eu acho que se estivéssemos preocupados em entregar uma saúde de melhor qualidade, um melhor acesso à educação e acesso a melhores serviços financeiros, as pessoas estariam em situações menos frágeis. Então, estaríamos criando pessoas mais resilientes com modelos que fossem mais inclusivos. Agora, na minha opinião, a implementação do impacto precisa partir de um propósito real. Eu sinto que há uma onda chegando, e que está acelerando por causa da pandemia, de investimentos ESG ( environmental, social and governance, em inglês), de preocupações socioambientais, preocupações com o impacto que se está gerando. O CEO da BlackRock, maior gestora de recursos do mundo, falou que eles estão preocupados com isso agora. Então, há muita gente indo para esse segmento como “agora eu preciso fazer” ou “isso é uma oportunidade agora”. Mas eu acho que tem uma pegadinha aí. Isso não pode ser visto como uma oportunidade, isso é um propósito, é quase um dever de estar preocupado com o além. Na minha opinião, começa com um propósito genuíno de ir buscar soluções que cada vez mais causam impacto e com uma visão de longo prazo.

Precisamos reverter a polaridade dos negócios porque hoje o sistema financeiro, que é o investimento de impacto, trabalha para aumentar a acumulação. Então, concentramos renda, na média, quando precisamos ir para um lugar que causa mais equidade, mais abundância para todo mundo. Então, para colocar uma noção temporal disso, eu gosto de usar o Eduardo Galeano, filósofo e poeta uruguaio, que fala: “A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar”. Há muita coisa que deveríamos mudar na forma de fazer negócio, na forma de distribuir o lucro. É necessário ter um comprometimento profundo. Quem não fizer isso, eu sinto que vai ficar pelo caminho. Não é só levantar a bandeira de impacto porque, quando você levanta a bandeira de impacto, você entra em um caminho sem volta. Precisa começar com um propósito genuíno de trabalhar para fazer as coisas ficarem melhores.

4) Por fim, nestes mais de 10 anos de experiência junto à Vox Capital, os desafios deste segmento mudaram muito? Poderia dar um panorama de quais eram as dificuldades à época, quando vocês começaram, e agora? O que está faltando e como pode ser feito para o ecossistema de impacto no Brasil decolar?

Eu vou usar a reação ao que a gente falava para mostrar como as coisas foram evoluindo. Em 2009, quando começamos, nem havia o “guarda-chuva” de investimento de impacto. Isso surgiu, para se ter alguma referência, em 2010. Em 2009, quando falávamos com as pessoas, ou as pessoas absolutamente não entendiam o que a gente estava falando, ou elas achavam que não fazia sentido. Alguns até ridicularizavam dizendo: “o que esses moleques aí estão falando?”.

Em 2012, quando lançamos nosso próprio fundo, até conseguíamos agendar com grandes bancos e grandes family offices. Eles estavam começando a ouvir sobre esse tema, mas o papo ainda era no nível “deixa eu ver se isso é para mim ou não. Já ouvi falar desse negócio de impacto, mas não sei se é para o nosso banco” ou “não sei se isso é para a nossa family office ”.

Em 2016, quando levantamos nosso segundo fundo, a lógica já era na linha do “eu sei que um dia eu vou ter de fazer isso, mas não sei como. Deixa eu tentar entender como”. Agora, principalmente com a pandemia, está todo mundo lançando e correndo desesperado para lançar suas áreas de investimento ESG e de impacto: o BTG lançou sua área de impacto, a XP anunciou que estava lançando área de ESG , Itaú quer lançar produto de impacto. Agora, está todo mundo tentando lançar produtos que se chamam de ESG, que se chamam de impacto, para, de alguma forma, se posicionar como alguém que já tem uma atividade e já participa do mercado. Isso aconteceu de fevereiro para cá.

E o que ainda falta? Eu acho que agora é questão de tempo. Cada vez mais vamos ver produtos financeiros sendo lançados, cada vez mais teremos opções novas de investimentos. Eu acho que falta educação/informação para as pessoas conseguirem diferenciar o que é ESG e o que é de impacto. E eu acho que falta mais uma coisa, não só para o mercado brasileiro, mas para todo o setor de impacto, que é uma infraestrutura mais robusta. Aqui eu faço um paralelo com os resultados financeiros. Quando você fala de impacto, você está propondo um resultado a mais, você fala “olha, se você investir comigo, eu não só te dou retorno financeiro como também te dou impacto social”. No caso de resultados financeiros, você tem um arcabouço de infraestruturas muito bem definidas. Você já tem métricas comumente acordadas, você já tem um perfil de CFO, você já tem contabilidade e já tem auditoria. No caso de investimentos de impacto, você já não tem nada disso. Você promete retorno financeiro e impacto social. Para o retorno financeiro, você já tem tudo pronto. Para o outro componente, que é o impacto, você não tem nada disso ainda.

Então, o risco é você poder falar que é impacto, mesmo sem ser impacto. Se você fizer impacto de uma forma séria e eu não, e eu falar que eu sou impacto, vai ser muito difícil alguém conseguir diferenciar nossas práticas, porque não há quem valide e quem invalide. Podem surgir várias “Enron’s do impacto”, que falam que têm determinado resultado, mas não têm. Acredito que a infraestrutura é um componente importante para o investimento de impacto explodir, no bom

Colaborou Vinícius Kronfly da Mata

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1) Daniel, hoje você está à frente de uma das principais gestoras de investimentos de impacto do Brasil, aVox Capital. Desde 2009, quando vocês começaram esta empreitada, você poderia nos contar sobre alguns dos projetos mais marcantes para você?

Entre os projetos que marcaram, falando de mercado, e que nós estávamos envolvidos também, eu cito os fóruns de finanças sociais, de negócios de impacto. Aconteceu uma versão 2016, outra em 2018 e uma online em 2020. E o evento foi crescendo. Em 2018, mais de 1000 pessoas participaram. A primeira versão contou com umas 300 ou 400 pessoas. Esse crescimento demonstrou como aumentava o interesse sobre o tema. Ainda sobre o mercado, foi muito interessante o lançamento do capítulo brasileiro da ANDE ( Aspen Network of Development Entrepreneurs ) em 2010. Acho que foi a primeira vez que conseguimos trazer um organismo global para vir para o Brasil para fazer essa ponte do ecossistema brasileiro com alguma iniciativa global. Destaco também o lançamento da Força Tarefa de Finanças Sociais, que agora é a Aliança para os Negócios e Investimentos de Impacto, que também foi marcante como construção de ecossistema. Também marcante foi a criação do grupo de trabalho dentro do governo, a ENIMPACTO ( Estratégia Nacional de Investimentos e Negócios de Impacto ), unindo diversas organizações públicas e da sociedade civil.

Como Vox, o primeiro grande marco foi o lançamento do nosso primeiro fundo em 2012, que também foi o primeiro fundo de investimento de impacto do Brasil. O fato de conseguirmos colocar no regulamento uma taxa de sucesso relacionada ao impacto que gerávamos foi algo inovador, um ponto que, inclusive, os advogados responsáveis à época eram contra. Esse mecanismo posteriormente virou referência no mundo, não só aqui no Brasil. Outro ponto que destaco é que, a partir de 2012 ou 2013, passamos a ser nomeados como um dos 50 principais fundos de investimento de impacto no mundo, o ImpactAssets 50. Também foi marcante para nós quando, a partir de 2013, passamos a ser convidados pelo pessoal de Oxford, da Saïd Business School, para dar aula no curso de investimento de impacto. E a gente tem voltado todo ano! Inclusive, somos um case da Harvard Business School: Pioneering Impact Investing in Brazil. E houve também, em 2018, uma primeira saída de um investimento em participação acionária de impacto, que foi a venda da nossa participação na tem . Tivemos um bom retorno, de 26% ao ano, criando um negócio de saúde de impacto: um cartão pré-pago para saúde.

2) Para muita gente, negócios com fins lucrativos e geração de impacto social são segmentos desconectados. Você acredita que, cada vez mais, lucratividade e geração de impacto passarão a caminhar juntos? Por quê?

Sim. Primeiro por uma questão ética. Homens e mulheres de negócio não podem se isentar dos impactos causados na sociedade. Costumo brincar que investir sem se preocupar com o impacto que geramos é um hábito tão velho quanto fumar no avião ou jogar lixo na rua, por exemplo. “Lembra quando a gente jogava lixo na rua? Lembra quando a gente fumava no avião? Lembra quando a gente investia e não se preocupava com o impacto gerado?”. Eu brinco, mas acho que faz parte do mesmo grupo. Então, esse é o lado ético da questão.

Tem também o lado do negócio em si. Quando você olha para o longo prazo, se você tem um negócio que gera impacto positivo, que trabalha para resolver um problema e gerar impacto positivo, por um lado, você vai ter menos riscos reputacionais ou riscos de escândalos, por outro, você terá uma marca ou um produto muito bom, que gera lealdade do consumidor. E isso, no longo prazo, para mim, faz todo o sentido ter mais retorno. Sou até um pouco mais radical. Acho que só os negócios que conseguem comprovar o valor positivo para a sociedade vão, no longo prazo, sobreviver. Faz sentido, desde já, você pensar em trazer produtos ou serviços que resolvam problemas intencionalmente e que tornem a vida das pessoas que têm acesso a esses serviços melhor, como uma forma também de trazer um retorno mais sustentável e talvez maior no longo prazo.

E tem mais uma brincadeira aí. Quando o pessoal pergunta: “o que você está abrindo mão de retorno para fazer impacto social?”. A melhor resposta é “o que você está abrindo mão de retorno de longo prazo para tentar maximizar seu lucro de curto prazo?”. Porque, na minha opinião, o que “mais briga” com valor de longo prazo é a busca por maximização de valor de curto prazo.

3) Em artigo recente você escreve sobre as consequências da Covid-19: “Se o fluxo do dinheiro estivesse preocupado em resolver problemas do mundo real, ou sendo gerenciado com esse objetivo, os efeitos do vírus seriam menos graves ou, pelo menos,poderiam ser solucionados em menor tempo”. Para você, como o setor empresarial pode incorporar cada vez mais a variável impacto social nas decisões de negócios?

Eu acho que se estivéssemos preocupados em entregar uma saúde de melhor qualidade, um melhor acesso à educação e acesso a melhores serviços financeiros, as pessoas estariam em situações menos frágeis. Então, estaríamos criando pessoas mais resilientes com modelos que fossem mais inclusivos. Agora, na minha opinião, a implementação do impacto precisa partir de um propósito real. Eu sinto que há uma onda chegando, e que está acelerando por causa da pandemia, de investimentos ESG ( environmental, social and governance, em inglês), de preocupações socioambientais, preocupações com o impacto que se está gerando. O CEO da BlackRock, maior gestora de recursos do mundo, falou que eles estão preocupados com isso agora. Então, há muita gente indo para esse segmento como “agora eu preciso fazer” ou “isso é uma oportunidade agora”. Mas eu acho que tem uma pegadinha aí. Isso não pode ser visto como uma oportunidade, isso é um propósito, é quase um dever de estar preocupado com o além. Na minha opinião, começa com um propósito genuíno de ir buscar soluções que cada vez mais causam impacto e com uma visão de longo prazo.

Precisamos reverter a polaridade dos negócios porque hoje o sistema financeiro, que é o investimento de impacto, trabalha para aumentar a acumulação. Então, concentramos renda, na média, quando precisamos ir para um lugar que causa mais equidade, mais abundância para todo mundo. Então, para colocar uma noção temporal disso, eu gosto de usar o Eduardo Galeano, filósofo e poeta uruguaio, que fala: “A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar”. Há muita coisa que deveríamos mudar na forma de fazer negócio, na forma de distribuir o lucro. É necessário ter um comprometimento profundo. Quem não fizer isso, eu sinto que vai ficar pelo caminho. Não é só levantar a bandeira de impacto porque, quando você levanta a bandeira de impacto, você entra em um caminho sem volta. Precisa começar com um propósito genuíno de trabalhar para fazer as coisas ficarem melhores.

4) Por fim, nestes mais de 10 anos de experiência junto à Vox Capital, os desafios deste segmento mudaram muito? Poderia dar um panorama de quais eram as dificuldades à época, quando vocês começaram, e agora? O que está faltando e como pode ser feito para o ecossistema de impacto no Brasil decolar?

Eu vou usar a reação ao que a gente falava para mostrar como as coisas foram evoluindo. Em 2009, quando começamos, nem havia o “guarda-chuva” de investimento de impacto. Isso surgiu, para se ter alguma referência, em 2010. Em 2009, quando falávamos com as pessoas, ou as pessoas absolutamente não entendiam o que a gente estava falando, ou elas achavam que não fazia sentido. Alguns até ridicularizavam dizendo: “o que esses moleques aí estão falando?”.

Em 2012, quando lançamos nosso próprio fundo, até conseguíamos agendar com grandes bancos e grandes family offices. Eles estavam começando a ouvir sobre esse tema, mas o papo ainda era no nível “deixa eu ver se isso é para mim ou não. Já ouvi falar desse negócio de impacto, mas não sei se é para o nosso banco” ou “não sei se isso é para a nossa family office ”.

Em 2016, quando levantamos nosso segundo fundo, a lógica já era na linha do “eu sei que um dia eu vou ter de fazer isso, mas não sei como. Deixa eu tentar entender como”. Agora, principalmente com a pandemia, está todo mundo lançando e correndo desesperado para lançar suas áreas de investimento ESG e de impacto: o BTG lançou sua área de impacto, a XP anunciou que estava lançando área de ESG , Itaú quer lançar produto de impacto. Agora, está todo mundo tentando lançar produtos que se chamam de ESG, que se chamam de impacto, para, de alguma forma, se posicionar como alguém que já tem uma atividade e já participa do mercado. Isso aconteceu de fevereiro para cá.

E o que ainda falta? Eu acho que agora é questão de tempo. Cada vez mais vamos ver produtos financeiros sendo lançados, cada vez mais teremos opções novas de investimentos. Eu acho que falta educação/informação para as pessoas conseguirem diferenciar o que é ESG e o que é de impacto. E eu acho que falta mais uma coisa, não só para o mercado brasileiro, mas para todo o setor de impacto, que é uma infraestrutura mais robusta. Aqui eu faço um paralelo com os resultados financeiros. Quando você fala de impacto, você está propondo um resultado a mais, você fala “olha, se você investir comigo, eu não só te dou retorno financeiro como também te dou impacto social”. No caso de resultados financeiros, você tem um arcabouço de infraestruturas muito bem definidas. Você já tem métricas comumente acordadas, você já tem um perfil de CFO, você já tem contabilidade e já tem auditoria. No caso de investimentos de impacto, você já não tem nada disso. Você promete retorno financeiro e impacto social. Para o retorno financeiro, você já tem tudo pronto. Para o outro componente, que é o impacto, você não tem nada disso ainda.

Então, o risco é você poder falar que é impacto, mesmo sem ser impacto. Se você fizer impacto de uma forma séria e eu não, e eu falar que eu sou impacto, vai ser muito difícil alguém conseguir diferenciar nossas práticas, porque não há quem valide e quem invalide. Podem surgir várias “Enron’s do impacto”, que falam que têm determinado resultado, mas não têm. Acredito que a infraestrutura é um componente importante para o investimento de impacto explodir, no bom

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