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Inserção de alunas em Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática

Pesquisas recentes mostram que o percentual de meninas e mulheres na área ainda é minoritário

 (Maria Ponomariova/Getty Images)
(Maria Ponomariova/Getty Images)

O conteúdo desse blog é gerenciado pelo Insper Metricis, o núcleo do Insper especializado em realizar estudos sobre estratégias organizacionais e práticas de gestão envolvendo projetos com potencial de gerar alto impacto socioambiental.

Por Graziela Simone Tonin*

De acordo com o Fórum Econômico Mundial, levaríamos 300 anos para alcançar a plena igualdade de gênero. Quando fazemos um recorte para STEM (sigla em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática), pesquisas recentes mostram que o percentual de meninas e mulheres na área ainda é minoritário. Somos apenas 35% dos estudantes matriculadas na área, segundo a ONU. No âmbito do mercado de trabalho, essa disparidade persiste, com as mulheres representando apenas 34% da força de trabalho global. Em áreas de suma importância e estratégicas como inteligência artificial, a sub-representação é ainda mais evidente. As mulheres correspondem a apenas 22% dessa população e possuem uma escassa representação de 11% na liderança mundial em tecnologia (NGPC, 2023).

Esses vieses começam a ser imputados nas crianças quando pais não estimulam suas filhas a considerarem carreiras em engenharia e ciências. De fato, o relatório do PISA de 2018 demonstra o profundo impacto da educação na influência das jovens na escolha de áreas STEM. Aos 15 anos, apenas 7% das meninas na mesma faixa etária expressam o desejo de seguir carreiras em Ciência ou Engenharia, em comparação com 15% dos meninos (OECD, 2018).

Uma notícia encorajadora é que o interesse dos jovens pelas áreas STEM tem aumentado nos últimos anos, com um incremento de 1,1 ponto percentual entre os meninos e 0,2 ponto percentual entre as meninas (OECD, 2019). Contudo, embora seja um progresso positivo, ainda é insuficiente para reduzir significativamente a disparidade de gênero nessas áreas.

Equipes diversas são mais inovadoras (GPTW, 2023) e capazes de criar soluções adequadas às necessidades atuais. Além de gerar melhores resultados, como é mostrado na pesquisa da Mckinsey (2020). Além disso, a inclusão das mulheres no mundo digital pode atingir um público mais amplo. A exclusão delas custou 1 bilhão de dólares ao PIB de países de baixa e média renda na última década (ONU,2022).

O mundo está, progressivamente, mais dependente e influenciado por tecnologia. A presença maior de meninas nesse campo pode desempenhar um papel crucial na mitigação de preconceitos na construção de software e no uso de disciplinas poderosas, como a inteligência artificial e as ciências de dados. Em paralelo à crescente adoção da tecnologia, testemunhamos uma aceleração nas mudanças e uma ampliação da complexidade dos desafios que enfrentamos. Para estarmos à altura dessas transformações, é imperativo que haja uma maior presença feminina na área.

É crucial promover uma ação global e coordenada para acelerar a inclusão de meninas e mulheres na tecnologia. Isso envolve conscientizar e capacitar os pais para incentivar suas filhas desde cedo, introduzir atividades tecnológicas na infância, criar ambientes universitários inclusivos com professoras femininas e modelos femininos de sucesso, e proporcionar interações com profissionais do mesmo gênero no campo da tecnologia.

Ao ingressar no mercado de trabalho, elas também devem se sentir respaldadas e seguras em seus ambientes profissionais, contando com o apoio tanto de homens quanto de mulheres. Para garantir um ambiente inclusivo e igualitário, é necessário estabelecer políticas claras que atendam às necessidades das mulheres e impor sanções rigorosas em caso de abusos ou violações de seus direitos. A colaboração global é essencial para que essas mudanças ocorram de forma efetiva.

* Graziela Simone Tonin é professora de Ciência da Computação do Insper, onde lidera o Women in Tech, programa voltado para ampliar a presença das mulheres em profissões na área de STEM. Doutora em Ciência da Computação pela Universidade de São Paulo com intercâmbio pela UMBC/Maryland-US. Está na liderança do Comitê Mundo Digital do núcleo São Paulo do Grupo Mulheres do Brasil, onde atua como voluntária.