Índices ESG: bons preditivos de desvios morais futuros das empresas?
Estes índices foram desenvolvidos por agências de rating com o objetivo de reduzir a assimetria de informação entre empresas e agentes de mercado
Da Redação
Publicado em 27 de julho de 2021 às 10h00.
Por Mariana Palandi Medeiros Pacheco
Apesar de o conceito de investimento socialmente responsável não ser novo, o crescente destaque dado aos investimentos que se valem de critérios ESG (sigla em inglês para Environmental, Social, and Governance ) tem trazido importantes temas para discussão. É o caso, por exemplo, do questionamento quanto à real eficácia e acuracidade dos parâmetros de sustentabilidade.
Estes índices foram desenvolvidos por agências de rating com o objetivo de reduzir a assimetria de informação entre empresas e agentes de mercado, a fim de permitir a rápida identificação de empresas com melhor posicionamento para enfrentar os riscos e aproveitar as oportunidades relacionadas às questões ambientais, sociais e de governança corporativa.
Espera-se que as empresas com altos indicadores sejam aquelas que adotaram um arcabouço de medidas capazes de diminuir a probabilidade de se envolverem em escândalos ou casos graves de desvios morais, evitando que sua imagem seja afetada significativamente. Esse arcabouço pode consistir em medidas como o uso de ações afirmativas para (i) reduzir o impacto ambiental da empresa; (ii) alinhar seu propósito e operação com o bem-estar das pessoas dentro e fora da organização; ou ainda, (iii) garantir maior aderência aos aspectos de governança corporativa, inibindo casos de corrupção.
Ocorre, no entanto, que não há padrões obrigatórios e nem uma metodologia única no mercado para a estimação dos índices ESG. Nesse sentido, na minha dissertação de mestrado, busquei testar se, de fato, empresas com melhores indicadores ESG em um dado ano estarão associadas a menores casos de desvio moral em anos futuros.
Com uma base de dados contendo 1.625 observações de índices ESG de 117 empresas brasileiras de capital aberto de diversos setores entre 2007 e 2020, observou-se que o índice ESG não é um bom preditivo para os desvios morais futuros das empresas, medido a partir do Índice de Controvérsias estimado pela Asset4 (Refinitiv). Tal índice varia de 0 a 100, em que 100 é a nota atribuída a empresas que, no período analisado, enfrentaram polêmicas significativas nos âmbitos de meio ambiente, sociedade e governança corporativa e 0 para os casos em que não houve quaisquer escândalos. O resultado da pesquisa de que os índices ESG não são bons preditivos para desvios morais futuros das empresas é robusto para os principais índices ESG disponíveis no mercado e a uma série de testes estatísticos realizados.
O estudo possui conclusões similares a outros precedentes, que buscaram testar a confiabilidade dos índices ESG relacionando-os a notícias ESG futuras. Entretanto, minha dissertação faz um recorte relacionado a empresas brasileiras de capital aberto e questiona o protagonismo do uso dos índices ESG como única fonte de informação para embasar decisões de investimento.
Nesse sentido, apesar o desvio moral futuro não ser explicado pelos índices ESG passados, observou-se na pesquisa que o desvio moral do ano anterior é estatisticamente significante para prever o desvio moral no ano corrente. Esse resultado indica que parece importante observar o próprio comportamento passado das empresas como indicativo do seu comportamento futuro, ao invés de apenas olhar os seus ratings ESG.
De todo modo, questões relacionadas à agenda ESG estão apenas começando a ser discutidas no ambiente corporativo e de investimentos. O campo de estudo é fértil e a necessidade de discussão latente.
Por Mariana Palandi Medeiros Pacheco
Apesar de o conceito de investimento socialmente responsável não ser novo, o crescente destaque dado aos investimentos que se valem de critérios ESG (sigla em inglês para Environmental, Social, and Governance ) tem trazido importantes temas para discussão. É o caso, por exemplo, do questionamento quanto à real eficácia e acuracidade dos parâmetros de sustentabilidade.
Estes índices foram desenvolvidos por agências de rating com o objetivo de reduzir a assimetria de informação entre empresas e agentes de mercado, a fim de permitir a rápida identificação de empresas com melhor posicionamento para enfrentar os riscos e aproveitar as oportunidades relacionadas às questões ambientais, sociais e de governança corporativa.
Espera-se que as empresas com altos indicadores sejam aquelas que adotaram um arcabouço de medidas capazes de diminuir a probabilidade de se envolverem em escândalos ou casos graves de desvios morais, evitando que sua imagem seja afetada significativamente. Esse arcabouço pode consistir em medidas como o uso de ações afirmativas para (i) reduzir o impacto ambiental da empresa; (ii) alinhar seu propósito e operação com o bem-estar das pessoas dentro e fora da organização; ou ainda, (iii) garantir maior aderência aos aspectos de governança corporativa, inibindo casos de corrupção.
Ocorre, no entanto, que não há padrões obrigatórios e nem uma metodologia única no mercado para a estimação dos índices ESG. Nesse sentido, na minha dissertação de mestrado, busquei testar se, de fato, empresas com melhores indicadores ESG em um dado ano estarão associadas a menores casos de desvio moral em anos futuros.
Com uma base de dados contendo 1.625 observações de índices ESG de 117 empresas brasileiras de capital aberto de diversos setores entre 2007 e 2020, observou-se que o índice ESG não é um bom preditivo para os desvios morais futuros das empresas, medido a partir do Índice de Controvérsias estimado pela Asset4 (Refinitiv). Tal índice varia de 0 a 100, em que 100 é a nota atribuída a empresas que, no período analisado, enfrentaram polêmicas significativas nos âmbitos de meio ambiente, sociedade e governança corporativa e 0 para os casos em que não houve quaisquer escândalos. O resultado da pesquisa de que os índices ESG não são bons preditivos para desvios morais futuros das empresas é robusto para os principais índices ESG disponíveis no mercado e a uma série de testes estatísticos realizados.
O estudo possui conclusões similares a outros precedentes, que buscaram testar a confiabilidade dos índices ESG relacionando-os a notícias ESG futuras. Entretanto, minha dissertação faz um recorte relacionado a empresas brasileiras de capital aberto e questiona o protagonismo do uso dos índices ESG como única fonte de informação para embasar decisões de investimento.
Nesse sentido, apesar o desvio moral futuro não ser explicado pelos índices ESG passados, observou-se na pesquisa que o desvio moral do ano anterior é estatisticamente significante para prever o desvio moral no ano corrente. Esse resultado indica que parece importante observar o próprio comportamento passado das empresas como indicativo do seu comportamento futuro, ao invés de apenas olhar os seus ratings ESG.
De todo modo, questões relacionadas à agenda ESG estão apenas começando a ser discutidas no ambiente corporativo e de investimentos. O campo de estudo é fértil e a necessidade de discussão latente.