Greenwashing: como identificar?
Como avaliar se as empresas estão realmente fazendo seu papel no âmbito ESG ou apenas reportando seu impacto ambiental “para inglês ver”?
Da Redação
Publicado em 3 de agosto de 2021 às 15h00.
Por Ligia Azevedo-Rezende, Pedro Makhoul, Aldo Musacchio e Leandro Pongeluppe
Nos últimos anos, a sigla ESG tem estampado manchetes na área de finanças e investimentos. O termo, que remete a boas práticas ambientais, sociais e de governança, vem ganhando cada vez mais espaço nos noticiários e nas carteiras de investimentos de pessoas físicas e jurídicas. Contudo, como avaliar se as empresas estão realmente fazendo seu papel nessas áreas ou apenas reportando seu impacto ambiental “para inglês ver”?
Em um estudo ainda em construção, nós, os autores desta coluna, tentamos responder a esta pergunta avaliando uma série de relatórios corporativos das principais empresas brasileiras listadas na bolsa de valores. Em uma abordagem inovadora, os relatórios têm sido avaliados em três dimensões: textual, sentimental e visual.
Por meio de técnicas computacionais, avaliamos o texto dos relatórios e medimos o grau de conteúdo ambiental presente nestes documentos. Além disso, verificamos qual é o sentimento associado ao relatório, ou seja, se as empresas estão falando sobre meio ambiente com um tom mais positivo ou mais negativo. Por fim, verificamos a quantidade de conteúdo visual verde, o qual está associado a um maior número de pixels por página com tonalidades verdes.
Os resultados preliminares apontam que ao longo do tempo as empresas passaram a usar mais palavras relacionadas às temáticas ambientais, em geral associadas a mais emoções e com mais visuais verdes. Ainda mais interessante é ver que as empresas que operam em áreas onde as pressões ambientais são mais fortes como, por exemplo, em áreas amazônicas, têm utilizado ainda mais essas estratégias em seus relatórios.
O problema começa quando analisamos a evolução dos indicadores ESG dessas empresas. Há uma correlação negativa entre o aumento desses conteúdos textuais, sentimentais e visuais com os escores em “controvérsias ESG”, indicador que mede o grau de envolvimento das empresas com alguma polêmica ou disputa nas áreas ambiental, social ou de governança. Em suma, apesar dos relatórios estarem mais direcionados a questões socioambientais, na prática nem tudo está tão “verde.”
Fundos de investimento estão atentos a isso e já vêm utilizando métodos computacionais para verificar se as empresas estão realmente fazendo o que divulgam fazer. Nosso estudo contribui com esse esforço por trazer uma verificação ainda mais holística. Ao verificarmos os diferentes elementos – textuais, sentimentais e visuais – conseguimos melhor identificar práticas de greenwashing nos relatórios corporativos. Isso permite que investidores tenham uma melhor dimensão do comportamento das empresas e, assim, ajustem seus portfólios.
É animador ver que empresas cada vez mais se preocupam com práticas ESG e com investimentos que tenham um impacto positivo nesses aspectos para além dos lucros. Contudo, é importante ter atenção para a sociedade não continuar recebendo apenas informações superficiais que potencialmente mascarem a realidade.
Por Ligia Azevedo-Rezende, Pedro Makhoul, Aldo Musacchio e Leandro Pongeluppe
Nos últimos anos, a sigla ESG tem estampado manchetes na área de finanças e investimentos. O termo, que remete a boas práticas ambientais, sociais e de governança, vem ganhando cada vez mais espaço nos noticiários e nas carteiras de investimentos de pessoas físicas e jurídicas. Contudo, como avaliar se as empresas estão realmente fazendo seu papel nessas áreas ou apenas reportando seu impacto ambiental “para inglês ver”?
Em um estudo ainda em construção, nós, os autores desta coluna, tentamos responder a esta pergunta avaliando uma série de relatórios corporativos das principais empresas brasileiras listadas na bolsa de valores. Em uma abordagem inovadora, os relatórios têm sido avaliados em três dimensões: textual, sentimental e visual.
Por meio de técnicas computacionais, avaliamos o texto dos relatórios e medimos o grau de conteúdo ambiental presente nestes documentos. Além disso, verificamos qual é o sentimento associado ao relatório, ou seja, se as empresas estão falando sobre meio ambiente com um tom mais positivo ou mais negativo. Por fim, verificamos a quantidade de conteúdo visual verde, o qual está associado a um maior número de pixels por página com tonalidades verdes.
Os resultados preliminares apontam que ao longo do tempo as empresas passaram a usar mais palavras relacionadas às temáticas ambientais, em geral associadas a mais emoções e com mais visuais verdes. Ainda mais interessante é ver que as empresas que operam em áreas onde as pressões ambientais são mais fortes como, por exemplo, em áreas amazônicas, têm utilizado ainda mais essas estratégias em seus relatórios.
O problema começa quando analisamos a evolução dos indicadores ESG dessas empresas. Há uma correlação negativa entre o aumento desses conteúdos textuais, sentimentais e visuais com os escores em “controvérsias ESG”, indicador que mede o grau de envolvimento das empresas com alguma polêmica ou disputa nas áreas ambiental, social ou de governança. Em suma, apesar dos relatórios estarem mais direcionados a questões socioambientais, na prática nem tudo está tão “verde.”
Fundos de investimento estão atentos a isso e já vêm utilizando métodos computacionais para verificar se as empresas estão realmente fazendo o que divulgam fazer. Nosso estudo contribui com esse esforço por trazer uma verificação ainda mais holística. Ao verificarmos os diferentes elementos – textuais, sentimentais e visuais – conseguimos melhor identificar práticas de greenwashing nos relatórios corporativos. Isso permite que investidores tenham uma melhor dimensão do comportamento das empresas e, assim, ajustem seus portfólios.
É animador ver que empresas cada vez mais se preocupam com práticas ESG e com investimentos que tenham um impacto positivo nesses aspectos para além dos lucros. Contudo, é importante ter atenção para a sociedade não continuar recebendo apenas informações superficiais que potencialmente mascarem a realidade.