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Gênero e negócios: mulheres que empreendem nas periferias do Brasil

Dados mostram que, mesmo com a redução do número de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, a pobreza extrema ainda tem rosto de mulher

Mulher negra: 51,16% das empreendedoras se autodeclaram pretas (Getty Images/Getty Images)
Mulher negra: 51,16% das empreendedoras se autodeclaram pretas (Getty Images/Getty Images)

O conteúdo desse blog é gerenciado pelo Insper Metricis, o núcleo do Insper especializado em realizar estudos sobre estratégias organizacionais e práticas de gestão envolvendo projetos com potencial de gerar alto impacto socioambiental. 

Por Livia Picchi* e Silvia Caironi** 

Os dados mostram que, mesmo com a redução do número de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, a pobreza extrema ainda tem rosto de mulher. A crise do coronavírus não afetou homens e mulheres de forma igualitária. Entre os postos de trabalho fechados, 9 em cada 10 vagas eram de mulheres. Segundo o DataFavela, R$ 119,8 bilhões é o valor que as periferias brasileiras movimentam em suas economias por ano. Esse contexto fez crescer ainda mais o número de empreendedoras por necessidade, com negócios voltados ao empreendedorismo em suas comunidades. 

Os dados relativos aos projetos executados pela Aventura de Construir (AdC) mostram como essa desigualdade no mercado de trabalho formal ainda é uma realidade latente, que impulsiona as mulheres periféricas a encontrar no empreendedorismo uma forma de sobrevivência dentro dos territórios em que vivem. Nos projetos atuais executados pela OSC, 78% do público que participa são mulheres, localizadas nas mais diversas regiões do Brasil. Dentre essas empreendedoras, 51,16% se autodeclaram pretas, 13,95% se autodeclaram pardas e 34,88% se autodeclaram brancas, com a renda per capita média de até dois salários-mínimos. 

Desde o início do trabalho em 2011, já foram atendidas 7.738 microempreendedoras, em 590 capacitações e 5.031 assessorias realizadas, com abrangência nas cinco regiões do país. Tais ações forneceram apoio ao crescimento pessoal e à transformação socioeconômica para proporcionar a elas uma formação humana e uma integração digna, por meio do fortalecimento de seu protagonismo e de sua inclusão produtiva. 

O trabalho da AdC tem por objetivo gerar transformação! A preocupação está na consolidação e evolução não só do empreendimento, mas também no empoderamento pessoal dessas mulheres, através do trabalho humanizado, da escuta atenta e acolhedora. Busca-se conceber melhoria na autoestima, na percepção de sua potência e protagonismo enquanto indivíduo, gerando efeitos positivos nas pessoas ao redor, sejam família, clientes, amigos ou vizinhos, com negócios voltados aos moradores das comunidades ou ao empreendedorismo social. Elas fortalecem as regiões mais longínquas e desfavorecidas do Brasil. 

Sonhar e se apropriar de sua própria trajetória são fundamentais. Por isso, o norte é ter um método para dar subsídios e ferramentas para que elas se apropriem e se enxerguem como protagonistas de suas vidas. Só assim essas mulheres, que buscam no empreendedorismo sua estratégia de sobrevivência, conseguem modificar suas realidades, inspirar outras mulheres a investir em seus sonhos e acreditar em seu potencial empreendedor. Agora é que são elas! 

*Livia Picchi é gerente operacional da Aventura de Construir, cientista social graduada pela Universidade Federal de São Paulo, mestre em Relações Internacionais pela Universidade Federal da Paraíba e doutoranda em Ciência Política pela Universidade Federal de São Carlos. 

** Silvia Caironi é coordenadora geral da Aventura de Construir, economista graduada pela Universidade Católica de Milão e mestre em Gerenciamento de Projetos pela George Washington University.