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Fogueira doce: o Índice de Equilíbrio Racial

A agenda racial não só esquentou, como também, existe a possibilidade de se tornar um dos assuntos mais quentes do debate público nos próximos anos

A agenda racial não só esquentou, como também, existe a possibilidade de se tornar um dos assuntos mais quentes do debate público nos próximos anos (99Jobs/Divulgação)
AM

André Martins

Publicado em 18 de fevereiro de 2021 às 08h41.

A agenda racial não só esquentou, como também, existe a possibilidade de se tornar um dos assuntos mais quentes do debate público nos próximos anos.

De certa forma, isso é decorrente do novo cenário racial vivido pelo país. Uma expressiva elite intelectual negra foi formada. Líderes não brancos estão em plena ascensão. O movimento negro cresceu e se estruturou. Existe uma ampliação na conscientização das injustiças raciais.

Assim, é crescente a pressão para se lidar de forma mais assertiva com a desigualdade e a exclusão social. Um meio de avançar nessa agenda é usando instrumentos de avaliação e monitoramento da situação racial no mercado de trabalho formal.

Em um trabalho recente, eu e os pesquisadores Sergio Firpo e Lucas Rodrigues propusemos usar uma métrica para acompanhar a evolução da desigualdade racial nas ocupações das organizações. Para isso, sugerimos o Índice de Equilíbrio Racial (IER).

Esta métrica consiste em uma estimativa do quanto a distribuição racial dentro das ocupações no mercado de trabalho formal está distante da distribuição racial da população economicamente ativa.

O IER pode assumir valores negativos, indicando que a empresa apresenta sobrerrepresentação de brancos, ou apresentar valores positivos, apontando que ela está com sobrerrepresentação de negros. Por sua vez, um IER próximo de zero indica que existe certo equilíbrio racial dentro da empresa.

Nesse âmbito, o índice revela as empresas, setores e regiões que não estão avançando na promoção da equidade racial. Com este monitoramento, será possível procurar entender as razões pelas quais isso está ocorrendo e criar iniciativas e políticas públicas para reverter o quadro.

O IER também permitirá identificar onde a equidade racial está progredindo mais rapidamente ao longo do tempo. Deste modo, será factível investigar as razões e, eventualmente, difundir as melhores iniciativas.

É possível que a revelação das empresas, cidades e estados que estão avançando nessa agenda coloque pressão naqueles lugares em que não há progresso. Entretanto, não se deve esperar que as empresas superem toda a exclusão promovida pela a sociedade.

De uma forma geral, a lógica é semelhante à do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). O IER representa uma métrica relativamente simples em que, com apenas um número, é possível revelar a situação do desequilíbrio de uma determinada organização ou região ao longo do tempo.

Com isso, haverá uma transparência maior da evolução da desigualdade no mercado de trabalho. Isso permitirá intervenções mais efetivas e gerará incentivos para mudança na trajetória.

Deste modo, o IER apresenta potencial de se tornar em um indutor relevante em prol de iniciativas e política públicas voltadas para a promoção da equidade racial. Assim como poderá deixar o debate racial ainda mais aquecido.

*

O título representa uma homenagem à música Fogueira Doce, de Mateus Aleluia.

Nota: 80 das 96 empresas listadas no IBr-X100 foram encontradas nos dados da RAIS (2017) (Elaboração realizada por Lucas Rodrigues e Rafael Tavares)

 

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A agenda racial não só esquentou, como também, existe a possibilidade de se tornar um dos assuntos mais quentes do debate público nos próximos anos.

De certa forma, isso é decorrente do novo cenário racial vivido pelo país. Uma expressiva elite intelectual negra foi formada. Líderes não brancos estão em plena ascensão. O movimento negro cresceu e se estruturou. Existe uma ampliação na conscientização das injustiças raciais.

Assim, é crescente a pressão para se lidar de forma mais assertiva com a desigualdade e a exclusão social. Um meio de avançar nessa agenda é usando instrumentos de avaliação e monitoramento da situação racial no mercado de trabalho formal.

Em um trabalho recente, eu e os pesquisadores Sergio Firpo e Lucas Rodrigues propusemos usar uma métrica para acompanhar a evolução da desigualdade racial nas ocupações das organizações. Para isso, sugerimos o Índice de Equilíbrio Racial (IER).

Esta métrica consiste em uma estimativa do quanto a distribuição racial dentro das ocupações no mercado de trabalho formal está distante da distribuição racial da população economicamente ativa.

O IER pode assumir valores negativos, indicando que a empresa apresenta sobrerrepresentação de brancos, ou apresentar valores positivos, apontando que ela está com sobrerrepresentação de negros. Por sua vez, um IER próximo de zero indica que existe certo equilíbrio racial dentro da empresa.

Nesse âmbito, o índice revela as empresas, setores e regiões que não estão avançando na promoção da equidade racial. Com este monitoramento, será possível procurar entender as razões pelas quais isso está ocorrendo e criar iniciativas e políticas públicas para reverter o quadro.

O IER também permitirá identificar onde a equidade racial está progredindo mais rapidamente ao longo do tempo. Deste modo, será factível investigar as razões e, eventualmente, difundir as melhores iniciativas.

É possível que a revelação das empresas, cidades e estados que estão avançando nessa agenda coloque pressão naqueles lugares em que não há progresso. Entretanto, não se deve esperar que as empresas superem toda a exclusão promovida pela a sociedade.

De uma forma geral, a lógica é semelhante à do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). O IER representa uma métrica relativamente simples em que, com apenas um número, é possível revelar a situação do desequilíbrio de uma determinada organização ou região ao longo do tempo.

Com isso, haverá uma transparência maior da evolução da desigualdade no mercado de trabalho. Isso permitirá intervenções mais efetivas e gerará incentivos para mudança na trajetória.

Deste modo, o IER apresenta potencial de se tornar em um indutor relevante em prol de iniciativas e política públicas voltadas para a promoção da equidade racial. Assim como poderá deixar o debate racial ainda mais aquecido.

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O título representa uma homenagem à música Fogueira Doce, de Mateus Aleluia.

Nota: 80 das 96 empresas listadas no IBr-X100 foram encontradas nos dados da RAIS (2017) (Elaboração realizada por Lucas Rodrigues e Rafael Tavares)

 

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