Estabilidade de empregos públicos desincentiva formação de poupança
Luís Bettoni analisa o potencial impacto de uma reforma que alinhasse o mercado de trabalho do setor público e privado sobre produto, capital e bem-estar
Da Redação
Publicado em 9 de novembro de 2022 às 09h00.
Por Luís Gustavo Bettoni*
Empregos no setor público geralmente são associados a maiores salários, estabilidade e menor risco de demissão comparado ao setor privado. Em artigo de minha tese, junto ao professor Marcelo Santos, procuramos quantificar o impacto dessas diferenças sobre poupança e oferta de trabalho no Brasil. Adicionalmente, analisamos o potencial impacto de uma reforma que alinhasse o mercado de trabalho do setor público e privado sobre produto, capital e bem-estar.
Inicialmente, utilizando dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), do IBGE, documentamos que os trabalhadores do setor público poupam em média quase 5 pontos percentuais a menos que os trabalhadores do setor privado. Em particular, enquanto os trabalhadores do setor privado poupam em média 6,5% da sua renda disponível em ativos líquidos (ativos que podem rapidamente ser convertidos em dinheiro), trabalhadores do setor público poupam apenas 2,6%.
A maior poupança dos trabalhadores do setor privado, principalmente em ativos líquidos, sugere que a diferença no comportamento de poupança dos trabalhadores pode estar ligada a diferenças no risco de renda entre os setores. De fato, utilizando dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério da Economia, encontramos que os salários no setor público são mais estáveis e o risco de demissão é menor do que no setor privado.
Em seguida, em um exercício em linha com uma reforma que alinhasse as características do emprego do setor público com o privado, encontramos que 70% da diferença na taxa de poupança entre funcionários do setor público e privado pode ser explicada pela maior estabilidade e menor risco do setor público, que desincentivam o acúmulo de poupança precaucionaria. Como os funcionários públicos se concentram no topo da distribuição de renda no Brasil, onde se encontra a maior parte da poupança do país, com essa reforma, a poupança agregada aumentaria, bem como o emprego e o nível de bem-estar da população.
*Luís Gustavo Bettoni é bacharel e doutor em Economia dos Negócios pelo Insper.
Por Luís Gustavo Bettoni*
Empregos no setor público geralmente são associados a maiores salários, estabilidade e menor risco de demissão comparado ao setor privado. Em artigo de minha tese, junto ao professor Marcelo Santos, procuramos quantificar o impacto dessas diferenças sobre poupança e oferta de trabalho no Brasil. Adicionalmente, analisamos o potencial impacto de uma reforma que alinhasse o mercado de trabalho do setor público e privado sobre produto, capital e bem-estar.
Inicialmente, utilizando dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), do IBGE, documentamos que os trabalhadores do setor público poupam em média quase 5 pontos percentuais a menos que os trabalhadores do setor privado. Em particular, enquanto os trabalhadores do setor privado poupam em média 6,5% da sua renda disponível em ativos líquidos (ativos que podem rapidamente ser convertidos em dinheiro), trabalhadores do setor público poupam apenas 2,6%.
A maior poupança dos trabalhadores do setor privado, principalmente em ativos líquidos, sugere que a diferença no comportamento de poupança dos trabalhadores pode estar ligada a diferenças no risco de renda entre os setores. De fato, utilizando dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério da Economia, encontramos que os salários no setor público são mais estáveis e o risco de demissão é menor do que no setor privado.
Em seguida, em um exercício em linha com uma reforma que alinhasse as características do emprego do setor público com o privado, encontramos que 70% da diferença na taxa de poupança entre funcionários do setor público e privado pode ser explicada pela maior estabilidade e menor risco do setor público, que desincentivam o acúmulo de poupança precaucionaria. Como os funcionários públicos se concentram no topo da distribuição de renda no Brasil, onde se encontra a maior parte da poupança do país, com essa reforma, a poupança agregada aumentaria, bem como o emprego e o nível de bem-estar da população.
*Luís Gustavo Bettoni é bacharel e doutor em Economia dos Negócios pelo Insper.