ESG: novos modelos de funding para inclusão socioeconômica com foco no "E"
A inovação em modelos de financiamento também é chave para viabilização da agenda de desenvolvimento do pequeno(a) produtor rural
Publicado em 10 de dezembro de 2020 às, 15h00.
Em um texto anterior, abordamos o papel da educação e tecnologia para a produção de alimentos de maneira sustentável. No entanto, em muitos casos, a captação de recursos torna-se um ponto crítico para a implementação de boas soluções. Dessa forma, inovação em modelos de funding (financiamento a investimento de impacto) também é chave para viabilização da agenda de desenvolvimento do pequeno(a) produtor rural.
Microcrédito e plataformas de crowdfunding (baseadas em desintermediação financeira), valendo-se de modelos de blended finance (que combinam capital que funciona com objetivo filantrópico e capital que busca rentabilidade), permitem que esses pequenos produtores rurais tenham acesso a capital (e a recursos acoplados, como assistência e educação) que está fora desse segmento social, seja por conta do alto risco associado ou pelo baixo ticket. Nesse contexto, grandes empresas podem contribuir significativamente com essa agenda, não apenas como doadoras para projetos que empoderem pequenos produtores a desenvolverem a educação e a qualidade de vida de suas comunidades, mas também como investidoras ou garantidoras de compras dos produtos gerados.
As linhas de financiamento dos grandes bancos estão voltadas ao financiamento das próprias operações das empresas. No entanto, não aplicam um olhar de sustentabilidade à cadeia de suprimentos. São estruturas que dão fôlego financeiro, mas retiram rentabilidade da cadeia de valor das grandes empresas. Há, portanto, oportunidade para novos mecanismos de financiamento por meio dessas grandes empresas que reduzam o custo do capital destinado à sua cadeia de valor e, ao mesmo tempo, criando incentivos para que transformem suas cadeias, educando e desenvolvendo pequenos fornecedores (produtores) para maior sustentabilidade.
A sustentabilidade do sistema alimentar, com impactos positivos no meio ambiente, passa necessariamente pelo aprimoramento das condições de trabalho de homens e mulheres que compõem o ecossistema de pequenos produtores rurais. No contexto de uma agenda ESG, sem priorizar o “S” nessa população – melhora na distribuição de renda ao longo da cadeia, educação para o uso de meios produtivos em equilíbrio com a natureza e inclusão social e econômica – não adianta insistirmos no “E”. Precisamos começar por resgatar a real sustentabilidade na vida das pessoas que alimentam nosso planeta para que esse movimento reverbere sistemicamente ao longo da cadeia de valor e no meio ambiente.
*Rodrigo Castro é Diretor de País da Solidaridad Brasil, biólogo e empreendedor social da rede Ashoka.
**Carolina da Costa, PhD, board member Latam da rede Solidaridad, sócia da Mauá Capital para novos negócios e funding ESG e Impacto. Professora do Insper.