ESG: como integrar a teoria dos stakeholders na decisão de investimentos?
A teoria dos stakeholders ganhou destaque em 1984, quando Freeman publicou o livro Strategic Management: A Stakeholder Approach
Publicado em 3 de março de 2022 às, 09h00.
Por Mariana Palandi Medeiros Pacheco*
No início do ano, Larry Fink, presidente do Conselho de Administração e diretor executivo da Black Rock, maior gestora de ativos do mundo, publicou a tradicional Carta Anual aos CEOs, onde comunica a estratégia de investimentos da gestora e suas principais percepções sobre a tendência de comportamento do mercado de ativos.
A carta, intitulada O Poder do Capitalismo, descreve a percepção de Fink sobre como a forma como as empresas lidam com as questões socioambientais evoluiu. Ele destaca que nos últimos trinta anos observou que o que diferencia as empresas “verdadeiramente excelentes” das demais “é um claro senso de propósito; valores consistentes; e, de forma crucial, reconhecimento da importância de se envolver e atender aos principais stakeholders”. Em outras palavras, Fink destaca a importância da teoria dos stakeholders para explicar a excelência das empresas.
A teoria dos stakeholders ganhou destaque em 1984, quando Freeman publicou o livro Strategic Management: A Stakeholder Approach, em que detalha o impacto dessa teoria na gestão organizacional e ética dos negócios. A publicação foi um divisor de águas em relação ao papel social das empresas, uma vez que afirma que a administração das empresas deveria considerar todos os seus stakeholders, e não somente os acionistas, na tomada de decisão. Essa visão surge em contraponto ao famoso artigo publicado por Milton Friedman (1970) na New York Times Magazine, que afirmava que o único papel social das empresas era aumentar seu lucro ou valor de mercado para o acionista.
Freeman, considerado o “pai da teoria dos stakeholders”, provocou estudiosos do mundo todo a questionar o papel social das empresas como sendo unicamente a maximização do lucro para o acionista. De acordo com Freeman e McVea, a ideia central presente no livro de Freeman é de que os gestores devem formular e implementar estratégias coerentes com todos os grupos que de alguma forma afetam e são afetados pelos negócios da empresa. Assim, segundo eles, a principal tarefa dos tomadores de decisão nas empresas seria gerenciar e integrar os relacionamentos e interesses desses grupos, sejam eles acionistas, funcionários, clientes, fornecedores ou comunidades, tornando possível à empresa garantir vantagem competitiva de longo prazo.
Uma das formas de incorporar tais interesses é a partir da aplicação de recursos financeiros na empresa, ou pela empresa, através dos investimentos, como vem sendo apontado pela Black Rock (ver Carta aos CEOs de anos anteriores). Esse movimento teve início com os investimentos socialmente responsáveis e foi evoluindo ao longo tempo, até a chamada integração dos aspectos ESG à decisão de investimentos.
A integração ESG consiste em considerar os aspectos ambientais, sociais e de governança corporativa na análise do ativo, tendo em vista a forma como essa empresa se relaciona com todos seus stakeholders, ou seja, com aqueles grupos que afetam e são afetados pelos seus negócios, sem desconsiderar o retorno financeiro do investimento.
Nesse sentido, Fink destaca o que ele chama de “capitalismo de stakeholders”, que é “conduzido por relacionamentos mutuamente benéficos entre você e os funcionários, clientes, fornecedores e comunidades nos quais sua empresa depende para prosperar”, de forma a oferecer valor de longo prazo para os acionistas e todos os stakeholders. No entanto, a carta não para por aí. Mas esse é assunto para um próximo texto. Não perca!
*Mariana Palandi Medeiros Pacheco é mestre em Administração de Empresas pelo Insper e Bacharel em Ciências Econômicas pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Possui experiência em estratégia de negócios e finanças corporativas, além de estudar e pesquisar temas relacionados à agenda ESG.