Economia circular e azul: influência do plástico e do transporte marítimo
Essa economia envolve as interconexões do sistema “azul” e as relações sistêmicas entre bacias hidrográficas, rios e oceano
Da Redação
Publicado em 14 de abril de 2022 às 09h30.
O conteúdo desse blog é gerenciado pelo Insper Metricis , o núcleo do Insper especializado em realizar estudos sobre estratégias organizacionais e práticas de gestão envolvendo projetos com potencial de gerar alto impacto socioambiental.
Por Tatiana Zanardi*, Aline Homrich** e Angélica Rotondaro***
A Economia Circular e Azul é uma das grandes oportunidades das próximas décadas. Essa economia envolve as interconexões do sistema “azul” e as relações sistêmicas entre bacias hidrográficas, rios e oceano. Refere-se também aos desafios das cidades costeiras, às mudanças climáticas, aos elementos de conservação da biodiversidade e, finalmente, a uma estrutura de abordagem regenerativa sobre os recursos providos pelo oceano.
O elemento “circular” está associado ao repensar, reusar, reduzir, reutilizar e reciclar. Envolve um processo que vai além da logística reversa em modelos terceirizados de coleta manual. Inclui o ciclo de retroalimentação, novas formas de produção, a busca por matéria-prima de menor impacto socioambiental, o comportamento do consumidor nas cidades, a gestão de resíduos, dentre outros. Como exemplo da conexão entre o circular e o azul, está o desafio do resíduo plástico em todo o sistema “azul”. Atualmente, 25 milhões de toneladas de resíduos sólidos são despejados por ano no mar, sendo que mais de 8 milhões são plásticos.
O Brasil é o quarto país no ranking de geração de lixo plástico, com uma taxa de apenas 1,28% de reciclagem. Desde uma perspectiva econômica, quando o assunto são os plásticos de uso único ( single-use), estima-se que aproximadamente US$ 120 bilhões são “desperdiçados” por ano em valores de embalagens. Imagine as oportunidades ligadas à circularidade, uma vez que o mercado de gestão de resíduo plástico deve movimentar cerca de US$ 40 bilhões até o final de 2026.
Um segundo exemplo de possíveis ganhos refere-se ao que denominamos de ir além de um ESG-FOB, ou seja, a inclusão da indústria do transporte marítimo na análise de impacto das cadeias de transporte de commodities. De acordo com estudo da UNEP, os principais drivers de impacto da indústria de transporte marítimo podem ser classificados em duas categorias: operação da embarcação (incluindo navegação, alimentação e gerenciamento de resíduos) e ciclo de vida da embarcação (incluindo construção, destruição e reciclagem). Esse mesmo estudo aponta que o financiamento desta indústria – desde navios a cargas — requer, no total, mais de US$ 200 bilhões por ano. Mais de 80% das empresas de transporte marítimo são privadas e fundos de private equity detêm cerca de 70% das empresas de transporte marítimo listadas.
A Economia Azul e Circular refere-se à construção de novos mercados a partir de soluções que envolvam economia circular, gestão de resíduos de diversas indústrias, bioeconomia azul e verde, turismo responsável, conservação de manguezais e o potencial do carbono azul. Além de novos compromissos e responsabilidades, são necessários instrumentos econômicos para subsidiar a Economia Circular e Azul e os novos empregos, negócios e mercados que surgirão a partir dela. E isso inclui incentivos ficais, financeiros e creditícios propiciados pelos governos ou mesmo pelo capital privado. Há um terreno fértil para as transformações, mas elas dependem de trabalho em conjunto, da colaboração e da compreensão de que o sucesso depende da construção coletiva. Isso tudo, sem deixar de lado linhas de financiamento adequadas.
* Tatiana Zanardi é diretora do Comitê de Economia Circular e Azul do Climate Smart Institute e cofundadora do Ocean Eyes Productions.
** Aline Homrich é pesquisadora pós-doutoranda da USP em Economia Circular e consultora associada na Alimi Impact Ventures.
*** Angélica Rotondaro é cofundadora da Alimi Impact Ventures, diretora executiva do Climate Smart Institute e membro do conselho do Insper Metricis.
O conteúdo desse blog é gerenciado pelo Insper Metricis , o núcleo do Insper especializado em realizar estudos sobre estratégias organizacionais e práticas de gestão envolvendo projetos com potencial de gerar alto impacto socioambiental.
Por Tatiana Zanardi*, Aline Homrich** e Angélica Rotondaro***
A Economia Circular e Azul é uma das grandes oportunidades das próximas décadas. Essa economia envolve as interconexões do sistema “azul” e as relações sistêmicas entre bacias hidrográficas, rios e oceano. Refere-se também aos desafios das cidades costeiras, às mudanças climáticas, aos elementos de conservação da biodiversidade e, finalmente, a uma estrutura de abordagem regenerativa sobre os recursos providos pelo oceano.
O elemento “circular” está associado ao repensar, reusar, reduzir, reutilizar e reciclar. Envolve um processo que vai além da logística reversa em modelos terceirizados de coleta manual. Inclui o ciclo de retroalimentação, novas formas de produção, a busca por matéria-prima de menor impacto socioambiental, o comportamento do consumidor nas cidades, a gestão de resíduos, dentre outros. Como exemplo da conexão entre o circular e o azul, está o desafio do resíduo plástico em todo o sistema “azul”. Atualmente, 25 milhões de toneladas de resíduos sólidos são despejados por ano no mar, sendo que mais de 8 milhões são plásticos.
O Brasil é o quarto país no ranking de geração de lixo plástico, com uma taxa de apenas 1,28% de reciclagem. Desde uma perspectiva econômica, quando o assunto são os plásticos de uso único ( single-use), estima-se que aproximadamente US$ 120 bilhões são “desperdiçados” por ano em valores de embalagens. Imagine as oportunidades ligadas à circularidade, uma vez que o mercado de gestão de resíduo plástico deve movimentar cerca de US$ 40 bilhões até o final de 2026.
Um segundo exemplo de possíveis ganhos refere-se ao que denominamos de ir além de um ESG-FOB, ou seja, a inclusão da indústria do transporte marítimo na análise de impacto das cadeias de transporte de commodities. De acordo com estudo da UNEP, os principais drivers de impacto da indústria de transporte marítimo podem ser classificados em duas categorias: operação da embarcação (incluindo navegação, alimentação e gerenciamento de resíduos) e ciclo de vida da embarcação (incluindo construção, destruição e reciclagem). Esse mesmo estudo aponta que o financiamento desta indústria – desde navios a cargas — requer, no total, mais de US$ 200 bilhões por ano. Mais de 80% das empresas de transporte marítimo são privadas e fundos de private equity detêm cerca de 70% das empresas de transporte marítimo listadas.
A Economia Azul e Circular refere-se à construção de novos mercados a partir de soluções que envolvam economia circular, gestão de resíduos de diversas indústrias, bioeconomia azul e verde, turismo responsável, conservação de manguezais e o potencial do carbono azul. Além de novos compromissos e responsabilidades, são necessários instrumentos econômicos para subsidiar a Economia Circular e Azul e os novos empregos, negócios e mercados que surgirão a partir dela. E isso inclui incentivos ficais, financeiros e creditícios propiciados pelos governos ou mesmo pelo capital privado. Há um terreno fértil para as transformações, mas elas dependem de trabalho em conjunto, da colaboração e da compreensão de que o sucesso depende da construção coletiva. Isso tudo, sem deixar de lado linhas de financiamento adequadas.
* Tatiana Zanardi é diretora do Comitê de Economia Circular e Azul do Climate Smart Institute e cofundadora do Ocean Eyes Productions.
** Aline Homrich é pesquisadora pós-doutoranda da USP em Economia Circular e consultora associada na Alimi Impact Ventures.
*** Angélica Rotondaro é cofundadora da Alimi Impact Ventures, diretora executiva do Climate Smart Institute e membro do conselho do Insper Metricis.