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Economia Circular Azul – negócios de impacto e o resíduo urbano no oceano

A cada ano, cerca de 25 milhões de toneladas de resíduos sólidos são despejados no oceano, sendo o plástico mais da metade desse volume

Estima-se que em 2.050 haverá mais plástico no oceano do que peixes (Ocean Eyes Productions/Divulgação)
Estima-se que em 2.050 haverá mais plástico no oceano do que peixes (Ocean Eyes Productions/Divulgação)
I
Impacto Social

Publicado em 22 de setembro de 2020 às, 17h00.

Última atualização em 23 de setembro de 2020 às, 22h07.

O Dia Mundial da Limpeza (World Cleanup Day), comemorado dia 19, movimenta 21 milhões de voluntários em 180 países coletando resíduo urbano – em sua grande maioria, plástico e latas de alumínio – que teriam como destino final o oceano. Trata-se de um trabalho hercúleo, já que, a cada ano, cerca de 25 milhões de toneladas de resíduos sólidos são despejados no oceano, sendo o plástico mais da metade desse volume.

Para se ter uma ideia do problema, estima-se que em 2.050 haverá mais plástico no oceano do que peixes. Inclusive, a ingestão de plástico, ou de microplástico, já é observada em todos os níveis da cadeia alimentar, afetando também os peixes que consumimos. Um dos eixos do problema é que esse efeito é invisível, já que 99% dos resíduos que vão para o oceano afundam ou ficam à “meia água”, enquanto somente 1% flutua na superfície formando linhas e ilhas de plástico.

Nos referimos a oceano no singular porque, diferentemente das divisas geográficas, há uma universalidade intrínseca das águas, correntezas, rios e ventos. Por exemplo, a grande concentração de lixo que flutua no Mar do Caribe entre Honduras e Guatemala é foco de discussões entre esses dois países sobre quem é o responsável pelos prejuízos causados por essa correnteza de lixo na região.

Há um negócio? Seguramente! Em um mapeamento preliminar da Economia Azul Circular, realizado pelo Climate-Smart Institute, em parceria com a Bloom, o CORS (Centro de Estudos das Organizações) e a Paiche, há no Brasil os pilares fundamentais para a construção desta economia.

Pelo lado da originação, há startups orientadas à busca de soluções que vão desde materiais alternativos, os biodegradáveis de origem vegetal, a combinação entre materiais 100% de plástico reciclado com processo de coleta, lavagem e reuso.

Pelo lado da solução do plástico já disposto no meio ambiente, há startups transformando fibras com base nas redes de pescador, iniciativas de rastreabilidade, materiais alternativos na moda, gestão de resíduos com certificado de reciclagem e coleta de resíduos em comunidades vulneráveis.

Unindo a ponta da startup ao capital financeiro e estratégico necessário, há um crescente interesse dos investidores. Em 2017, a gestora de fundos de impacto Positive Ventures investiu em rodada de seed capital na eureciclo, startup que desenvolveu um software capaz de rastrear a cadeia de reciclagem e, com lastro nas notas fiscais, emitir certificados de logística reversa para garantir a compensação de embalagens pós-consumo. Já são mais de 3.000 empresas adquirindo certificados no Brasil e Chile, aumentando a renda de catadores, cooperativas e operadores de reciclagem, ao mesmo tempo que oferece uma solução para as empresas.

No entanto, para essas soluções serem eficientes, será necessário mudarmos nossos hábitos de consumo. Isso vale desde a disposição adequada dos resíduos que geramos, evitar os produtos de single-use, questionar o fast fashion e tecidos com fibras sintéticas, refrear o uso de embalagens desnecessárias. Afinal, o uso inconsciente de plástico tem um destino certo, se não reciclado: o oceano.

Tatiana Zanardi é co-fundadora do Ocean Eyes Productions e do Climate-Smart Institute
Angélica Rotondaro é co-fundadora da Alimi Impact Ventures e do Climate-Smart Institute e membro do Insper Metricis