Diversidade racial: como inserir alunos e docentes negros na universidade?
"Embora sejamos a maioria, não ocupamos cargos em posição de liderança na mesma proporção"
Publicado em 20 de outubro de 2020 às, 14h45.
A população brasileira hoje é composta de 54% de negros (sendo estes pretos e pardos), de acordo com o IBGE. Entretanto, embora sejamos a maioria, não ocupamos cargos em posição de liderança na mesma proporção. Isso vale tanto para o mundo coorporativo quanto nas instituições de ensino. Por exemplo, você já parou para pensar em quantos professores negros você teve durante a vida universitária? Nesta mesma linha, quantos colegas de turma negros fizeram faculdade com você?
Diante deste contexto, como mulher, negra e professora do Insper, entendendo que a universidade tem um papel fundamental no processo de construção do ser humano e na redução das desigualdades sociais entre eles. Neste sentido, gostaria de compartilhar dois projetos dos quais faço parte com o objetivo de aumentar a diversidade racial no corpo discente (atuando como integrante e mentora do Coletivo Estudantil Raposas Negras) e no corpo docente (líder da frente de atração de docentes da Comissão de Diversidade).
Coletivo Estudantil Raposas Negras
O Coletivo foi criado em 2018 (o termo “raposa” faz alusão à mascote da escola), com o objetivo de construir, fortalecer e promover a diversidade racial no Insper. Antes de definirmos nossa missão, realizamos visitas a museus, debates de filmes, livros e séries que abordavam a questão racial para entendermos o real papel em nossa sociedade como professores, alunos e cidadãos pretos. Após esta fase, começamos a trabalhar em três frentes:
Atração de alunos negros: foram realizadas visitas em escolas de São Paulo e em outros estados para divulgação dos cursos disponíveis no Insper, contando com apoio de um grupo de alunos embaixadores e aproveitando da oportunidade para divulgação do programa de bolsas (excelente aliado de diversidade).
Retenção: o ponto mais crítico do processo. Muitas empresas/instituições buscam a atração de funcionários/alunos, sem se letrarem racialmente e sem entender o papel da branquitude. Diante disso, vimos a necessidade de sermos uma rede de apoio para estas alunas e alunos, contando com a ajuda do MultiInsper, professores, colaboradores e comunidade de ex-alunos neste processo de adaptação à escola. Vimos o quão importante é a representatividade nesta fase retenção, para motivação no sentido de “eu posso”, “outras pessoas já conseguiram”.
Mercado de trabalho: visa à inserção da comunidade negra Insper no mercado de trabalho. Para isso, temos uma rede de empresas parceiras para nossa participação em processos seletivos.
Com dois anos de criação, em uma iniciativa inédita no Insper, vimos a necessidade de trazer esta inclusão também para o corpo docente.
Atração Docentes Negros – comissão de diversidade
Um censo realizado em 2018 pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) mostra que os professores negros representam apenas 16% do número total de docentes no Brasil no Ensino Superior. A frase “nunca tive professores negros” se faz muito presente. Estamos em fase inicial do projeto em atrair novos docentes negros para a escola, trabalhando de forma conjunta: direção da faculdade, recursos humanos, área de Desenvolvimento de Ensino e Aprendizagem (DEA) e Comissão de Diversidade.
Embora em fase embrionária, a ação já rende bons frutos, como a criação de um banco de talentos onde recebemos, em menos de uma semana de projeto, mais de 800 currículos de profissionais declarados pretos ou pardos nas mais diversas áreas do conhecimento. Estamos aprendendo com erros e acertos, mas dispostos a buscarmos a igualdade, reconhecendo as diferenças existentes e todas as riquezas que ela traz!