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Divergência de ratings ESG e incorporação de práticas sustentáveis no valor das empresas

Em apenas um ano, o valor dos ativos sob gestão de investidores que se comprometem a incorporar os princípios ESG nas análises e tomada de decisão no processo de investimento aumentou de US$ 86,3 trilhões para US$ 103,4 trilhões ao final de março de 2020

 (manusapon kasosod/Getty Images)
(manusapon kasosod/Getty Images)
I
Impacto Social

Publicado em 16 de março de 2021 às, 15h00.

Grandes investidores estão cada vez mais conscientes, são cobrados por seus clientes e governos e sofrem pressões regulatórias para incorporar aspectos ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês) na estratégia de alocação de ativos e construção de carteiras.  Isso é evidenciado pelo crescimento global dos ativos sob gestão dos signatários do PRI – Principle for Responsible Investment da ONU. Em apenas um ano, o valor dos ativos sob gestão de investidores que se comprometem a incorporar os princípios ESG nas análises e tomada de decisão no processo de investimento aumentou de US$ 86,3 trilhões para US$ 103,4 trilhões ao final de março de 2020.

Consequentemente, o fluxo de capital direcionado para fundos mútuos que investem de acordo com ratings de sustentabilidade tem aumentado significativamente.  Esses fundos valorizam empresas com bom desempenho ESG e penalizam as com desempenho ruim, utilizando os ratings como proxy das práticas corporativas socioambientais e de governança.  Há aumento da demanda por ações de empresas com rating ESG mais elevado, o que resulta na valorização do preço da ação e do valor de mercado da empresa.  As ações das empresas com piores rating têm diminuição de demanda e pressão de venda, o que resulta em queda de preço e de valor de mercado dessas empresas.

Os ratings ESG têm um papel importante. Permitem aos investidores selecionar empresas de acordo com o desempenho socioambiental e de governança e direcionam práticas corporativas.  No entanto, estão baseados em valores ainda em evolução.  Boa parte do serviço dos provedores de rating é interpretar as informações coletadas dos relatórios das empresas e várias outras fontes e agregar nas três dimensões – E (ambiental), S (social) e G (governamental) – e ESG (integrado). Entretanto, existem diversos padrões de relatórios de sustentabilidade seguidos pelas empresas e há muita discricionariedade sobre o que e como divulgar.

Berg, Kölbel e Rigobon analisaram a divergência entre os ratings de sustentabilidade de seis grandes provedores.  A correlação entre os ratings ESG média é 0,54 e varia entre 0,38 e 0,71.  A correlação média na dimensão ambiental é 0,53; na social é 0,42 e na de governança é 0,3.  A dispersão de ratings entre empresas também é grande: a intersecção entre os conjuntos das 186 empresas classificadas no primeiro quintil – 20% com maior rating ESG – por cada um dos seis provedores é composta por apenas 15 observações, ou seja, 8,15%.  Para investigar a causa dessa dispersão, os autores analisaram escopo (conjunto de atributos que descreve o desempenho ESG da empresa, por exemplo, igualdade de gênero), medição (indicadores utilizados para gerar um valor numérico por cada atributo, por exemplo, percentual de mulheres no conselho e gap de salário entre gêneros) e ponderação (diferenças na função de agregação para traduzir múltiplos indicadores em E, S, G e ESG).  A divergência de medição é a principal causa de dispersão entre os ratings, seguida de perto pela divergência de escopo, enquanto a divergência de ponderação é bem menos importante.

Essa grande dispersão entre ratings de diferentes provedores indica que o desempenho ESG de uma empresa provavelmente não está bem refletido no preço de suas ações e seus títulos de dívida. Mostra também que as empresas recebem sinais ambíguos sobre o que é valorizado como prática sustentável pelo mercado e sobre qual é a melhor forma de reportar. 

A busca pela padronização da taxonomia ESG é muito importante para a diminuição de dispersão entre os ratings e para uma melhor incorporação das práticas sustentáveis no valor das empresas. Há alguns esforços importantes nesse sentido, como o SSB (Sustainable Standard Board), criado pela IFRS Foundation com o propósito de padronizar a divulgação das práticas sustentáveis e integrá-la a relatórios financeiros;  os esforços do CFA Institute para padronizar a rotulagem de fundos; da União Europeia para padronizar a rotulagem de gestoras e fundos sustentáveis de acordo com a taxonomia verde, seguindo o Sustainable Financial Disclosure Regulation (SFDR); e o conjunto de métricas baseadas em padrões já existentes para aumentar a consistência e a comparabilidade das informações corporativas sobre sustentabilidade, pela  EY, PwC, KPMG, Deloitte e International Business Council, do Fórum Econômico Mundial.