Dados e evidências: a cura contra preconceitos e estigmas
Preconceitos por produtos ou marcas só porque são associados a uma determinada nacionalidade têm aumentado consideravelmente, segundo pesquisa feita nos EUA
Janaína Ribeiro
Publicado em 8 de setembro de 2020 às 09h00.
Ultimamente tenho ficado surpreso com a quantidade de comentários que escuto de pessoas ao meu redor—ou que leio em mídias sociais —sobre preconceitos por produtos ou marcas só porque são associados a uma determinada nacionalidade. Esse fenômeno é apenas uma manifestação de algo muito maior e enraizado em grande parte da população mundial: o “estigma de ser estrangeiro” (do inglês liability of foreignness ). Isto é, na visão da população local, existe uma expectativa sobre a qualidade, caráter ou atitude do estrangeiro (sendo ele uma empresa, governo ou pessoa) baseada em estereótipos ou generalizações. Ou seja, antes mesmo de termos quaisquer dados, informações ou experiências a respeito do ente estrangeiro, já criamos expectativas e pré-julgamentos.
Obviamente esse estigma para com estrangeiros não é uniforme para todas as nacionalidades (isto é, não enxergamos estrangeiros de origens distintas com os mesmos olhos). Em uma pesquisa de campo recente feita nos Estados Unidos com uma amostra nacionalmente representativa de 3.000 pessoas, perguntei (via uma plataforma virtual) aos entrevistados sobre a preferência deles a respeito de aquisições de empresas domésticas. A metodologia utilizada oferecia pares de possíveis empresas compradoras com quatro características (origem da empresa, quem são os donos dessa empresa, qual o plano para os funcionários atuais e preço oferecido) totalmente aleatorizadas entre cinco opções para cada categoria. Os participantes então escolhiam qual dos dois candidatos dariam preferência para ser o comprador da empresa doméstica.
Os resultados dessa pesquisa indicam um forte estigma contra empresas estrangeiras. Comparado a uma empresa de origem americana com as mesmas características, é quase 10% mais improvável que um americano prefira uma empresa canadense, 12% se a empresa for australiana, 15% se for mexicana e quase 27% mais improvável a preferência por uma empresa chinesa.
Dado o caráter aleatório da metodologia (chamada Conjoint Analysis ) é possível isolar o efeito causal—isso é, o verdadeiro impacto que A causa em B independentemente de outros fatores—de cada uma das dimensões estudadas. Assim, garantimos que os efeitos reportados podem ser atribuídos exclusivamente ao “estigma de ser estrangeiro” e aos estereótipos associados a cada nacionalidade.
E qual a relação de estigma, preconceito e impacto social? São temas muito relacionados, apesar de inicialmente não parecerem. A boa análise empírica, sendo de impacto ou para qualquer outro assunto, deve ser baseada em fatos e dados (apenas isso!). Não há lugar para estigmas, estereótipos, crenças ou suposições.
Ultimamente tenho ficado surpreso com a quantidade de comentários que escuto de pessoas ao meu redor—ou que leio em mídias sociais —sobre preconceitos por produtos ou marcas só porque são associados a uma determinada nacionalidade. Esse fenômeno é apenas uma manifestação de algo muito maior e enraizado em grande parte da população mundial: o “estigma de ser estrangeiro” (do inglês liability of foreignness ). Isto é, na visão da população local, existe uma expectativa sobre a qualidade, caráter ou atitude do estrangeiro (sendo ele uma empresa, governo ou pessoa) baseada em estereótipos ou generalizações. Ou seja, antes mesmo de termos quaisquer dados, informações ou experiências a respeito do ente estrangeiro, já criamos expectativas e pré-julgamentos.
Obviamente esse estigma para com estrangeiros não é uniforme para todas as nacionalidades (isto é, não enxergamos estrangeiros de origens distintas com os mesmos olhos). Em uma pesquisa de campo recente feita nos Estados Unidos com uma amostra nacionalmente representativa de 3.000 pessoas, perguntei (via uma plataforma virtual) aos entrevistados sobre a preferência deles a respeito de aquisições de empresas domésticas. A metodologia utilizada oferecia pares de possíveis empresas compradoras com quatro características (origem da empresa, quem são os donos dessa empresa, qual o plano para os funcionários atuais e preço oferecido) totalmente aleatorizadas entre cinco opções para cada categoria. Os participantes então escolhiam qual dos dois candidatos dariam preferência para ser o comprador da empresa doméstica.
Os resultados dessa pesquisa indicam um forte estigma contra empresas estrangeiras. Comparado a uma empresa de origem americana com as mesmas características, é quase 10% mais improvável que um americano prefira uma empresa canadense, 12% se a empresa for australiana, 15% se for mexicana e quase 27% mais improvável a preferência por uma empresa chinesa.
Dado o caráter aleatório da metodologia (chamada Conjoint Analysis ) é possível isolar o efeito causal—isso é, o verdadeiro impacto que A causa em B independentemente de outros fatores—de cada uma das dimensões estudadas. Assim, garantimos que os efeitos reportados podem ser atribuídos exclusivamente ao “estigma de ser estrangeiro” e aos estereótipos associados a cada nacionalidade.
E qual a relação de estigma, preconceito e impacto social? São temas muito relacionados, apesar de inicialmente não parecerem. A boa análise empírica, sendo de impacto ou para qualquer outro assunto, deve ser baseada em fatos e dados (apenas isso!). Não há lugar para estigmas, estereótipos, crenças ou suposições.