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Como monitorar o desenvolvimento de áreas urbanas vulneráveis?

Com o objetivo de criar um painel de indicadores voltado a territórios vulneráveis, o Insper Metricis desenvolveu recentemente o estudo "A Lupa na Cidade"

 (Leandro Fonseca/Exame)
(Leandro Fonseca/Exame)
I
Impacto Social

Publicado em 28 de outubro de 2021 às, 15h00.

Por Lígia Vasconcellos* e Geraldo Setter**

Com o objetivo de produzir um painel de indicadores socioambientais voltado a territórios urbanos vulneráveis, o Insper Metricis desenvolveu recentemente, com o apoio da Fundação Tide Setubal, o estudo A Lupa na Cidade – Painel de Indicadores de Desenvolvimento de Áreas Urbanas Vulneráveis.

O documento foi construído para análise de territórios urbanos vulneráveis, bem como apresenta uma primeira aplicação focando o Jardim Lapenna, em São Miguel Paulista, foco de atuação da Fundação Tide Setubal.

A construção do painel partiu do conceito de urbanismo social e do entendimento de que várias dimensões de problemas são interligadas. Desse modo, as soluções e os resultados esperados estão também interrelacionados. A análise considera oito macro temas: segurança pública, emprego e renda, educação, capital social, saúde pública, infraestrutura básica (incluindo lazer), moradia e mobilidade urbana. A partir dos problemas elencados foi desenvolvida uma teoria de mudança, relacionando intervenções em cada área, resultados esperados e possíveis interrelações para, a partir deste quadro lógico, gerar o painel de indicadores.

Os resultados foram agregados em quatro categorias amplas: oportunidades, qualidade de vida, convivência e governança, e infraestrutura. A categoria oportunidades reúne, essencialmente, os resultados de atividade mais diretamente associados à educação, ao emprego e à renda. A segunda categoria, qualidade de vida, inclui principalmente saúde e segurança. Já a categoria convivência e governança traz resultados ligados à governança do território e pertencimento comunitário. Por fim, infraestrutura engloba infraestrutura no território e moradia.

O painel de indicadores sugere tanto o uso de dados secundários (disponíveis para o município de São Paulo) como a possibilidade de coleta de dados primários. Uma questão relevante aqui é o grau de desagregação das informações. Muitas vezes, o interesse de acompanhamento é no nível do território. No entanto, como nem todas os dados estão desagregados nesse nível, torna-se necessária uma escolha entre a busca por informações mais aderentes ao território de interesse (e, consequentemente, os custos mais elevados, dada a necessidade de pesquisa de campo) ou o uso de informações publicamente disponíveis, mesmo que não tão específicas.

O painel de indicadores estimula, em um primeiro momento, a criação de uma linha de base para o território de interesse (ou territórios) e, a partir daí, um monitoramento periódico poderá gerar informação relevante sobre o resultado das intervenções ao longo do tempo. Para se garantir que a evolução dos indicadores seja de fato consequência das ações, é importante a previsão de uma avaliação de impacto, o que significa monitorar também territórios similares para a comparação dos indicadores.

O painel proposto possui mais de 30 indicadores, trazendo uma ampla visão sobre o desenvolvimento sistêmico do território. Ele pretende prover um auxílio relevante para a gestão, seja pública ou de entidades da sociedade civil. Dada a sua flexibilidade, o painel pode ser adaptado ou usado parcialmente, facilitando sua aplicação em diferentes situações.

*Lígia Vasconcellos é consultora em avaliação de impacto social e pesquisadora associada do Insper Metricis – Núcleo para Medição de Impacto Socioambiental.

**Geraldo Setter é professor do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa e Coordenador Executivo do Insper Metricis – Núcleo para Medição de Impacto Socioambiental.