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Como fatores contextuais influenciam a tomada de riscos em cadeias de suprimentos?

Quando as operações e gestão da cadeia de suprimentos ocorrem como o esperado, gestores tendem a ser mais aversos a riscos

Escolhas. Foto: eyetoeyePIX / Getty Images (eyetoeyePIX/Getty Images)
Escolhas. Foto: eyetoeyePIX / Getty Images (eyetoeyePIX/Getty Images)
I
Impacto Social

Publicado em 12 de dezembro de 2022 às, 18h44.

O conteúdo desse blog é gerenciado pelo Insper Metricis, o núcleo do Insper especializado em realizar estudos sobre estratégias organizacionais e práticas de gestão envolvendo projetos com potencial de gerar alto impacto socioambiental. 

Por Fernando Picasso*

Em um mundo cada vez mais complexo e dinâmico, gestores têm lidado frequentemente com interrupções em suas cadeias de suprimentos. Eventos como Covid-19, guerra entre Ucrânia e Rússia, falta de contêineres e um possível conflito entre China e Taiwan têm elevado os riscos de paradas nas cadeias suprimentos ao redor do mundo. Em cenários normais, nos quais as operações acontecem de acordo com o planejado e as cadeias de suprimentos operam como o esperado, gestores têm pouco ou nenhum incentivo para tomar riscos como, por exemplo, acelerar o desenvolvimento de um novo produto. Já quando a cadeia de suprimentos sofre uma ruptura, isso muda e tomar riscos pode ser importante para esses gestores recuperarem suas operações.

Quando as operações e gestão da cadeia de suprimentos ocorrem como o esperado, gestores tendem a ser mais aversos a riscos, pois arriscar traz uma ideia de colocar muito mais a perder do que se pode ganhar com esse comportamento. Por exemplo, se em condições normais um gestor tem de um lado a decisão de manter o lançamento de um produto no prazo planejado com 100% de chance de aumentar a receita da organização em R$ 10 milhões e, do outro lado, a decisão de adiantar o lançamento desse mesmo produto de uma forma mais arriscada, com 50% de chance de aumentar a receita da organização em R$ 15 milhões, esse gestor muito provavelmente escolherá a primeira opção.

Esse tipo de decisão tende a mudar quando esse mesmo gestor está em uma situação na qual sua operação ou cadeias de suprimentos sofre uma ruptura. Nesse contexto, esse gestor parte de uma situação de crise para tomar decisão e sua aversão a riscos muda. O comportamento desse gestor em uma situação de crise pode ser visto como não tomar riscos com 100% de chance de ter a operação comprometida ou tomar riscos com 50% de chance de ter a sua operação e cadeia de suprimentos recuperadas. Em conversa recente que tive com gestores da cadeia de suprimentos[1], um executivo de uma multinacional americana comentou que “se você está sob ameaça, seu apetite ao risco é diferente e isso pode te levar muito mais além”. Outro executivo da indústria farmacêutica que esteve envolvido no lançamento de testes rápidos e vacina para Covid-19 comentou que “nós tivemos que iniciar o processo de comercialização nos EUA em paralelo com outros lugares do mundo e, assumindo os riscos envolvidos, nós conseguimos fazer os lançamentos antes do esperado”.

As cadeias de suprimento de ambos os executivos conseguiram se recuperar de forma bem-sucedida principalmente porque riscos foram tomados da forma correta e no momento certo. A ideia de aversão e apetite a riscos é bem discutida na teoria de prospecção[2], desenvolvida por Kahneman e Tversky, que exploram como as pessoas tendem a se comportar em relação aos riscos e incertezas com base em fatores contextuais.

*Fernando Picasso é doutor em administração pela FGV – EAESP e professor no Insper, onde leciona as disciplinas de Gestão da Cadeia de Suprimentos e Riscos e Resiliência em Cadeias de Suprimentos. Seus temas de pesquisa incluem sustentabilidade e risco e resiliência em cadeias de suprimentos