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Como a academia pode ajudar as organizações avaliarem impacto

Uma opção muitas vezes inexplorada por essas organizações é a construção de parcerias com centros de pesquisa acadêmicos

(manusapon kasosod/Getty Images)
AM

André Martins

Publicado em 30 de março de 2021 às 09h00.

Motivadas pela crescente popularidade de investimentos ESG e das práticas de responsabilidade social corporativa, além da ascensão dos investimentos de impacto, diversas organizações têm buscado integrar avaliação e monitoramento de impacto social às suas rotinas gerenciais e operacionais. Nesse contexto, uma miríade de desafios técnicos precisa ser enfrentada pelos gestores dessas organizações. Por exemplo, pode ser preciso desenvolver competências organizacionais ligadas à coleta, gestão e manutenção de bases de dados, montagem de fluxos lógicos (como a teoria de mudança ) e de painéis de indicadores e aplicação de ferramentais estatísticos e econométricos mais avançados.

A dificuldade e o alto custo associados ao desenvolvimento de tais competências são frequentemente citados como alguns dos principais entraves à adoção de práticas de avaliação e monitoramento de impacto por organizações, particularmente pelas de porte mais reduzido. Uma opção muitas vezes inexplorada por essas organizações é a construção de parcerias com centros de pesquisa acadêmicos. Esses centros frequentemente detêm o conhecimento necessário para conduzir avaliações de impacto e, ao mesmo tempo, estão interessados em obter acesso a dados únicos que lhes permitam explorar questões específicas de pesquisa. Caso a organização ofereça dados que sejam posteriormente usados na pesquisa acadêmica, pode ser possível desenhar parcerias com tais centros de modo a se construir instrumentos de avaliação de impacto social de alto nível técnico, a um custo substancialmente menor e de maneira relativamente célere.

Para serem bem-sucedidas, essas parcerias entre organizações e academia devem obedecer a alguns critérios. Em primeiro lugar, é essencial que as partes construam, conjuntamente, um acordo de confidencialidade que satisfaça as devidas exigências legais –– incluindo aspectos ligados à segurança de dados –– sem, no entanto, comprometer o acesso a informações relevantes e a posterior publicação dos resultados. Além disso, é importante garantir que exista bom “fit” entre os interesses das partes envolvidas. Por exemplo, os dados oferecidos pela organização devem efetivamente interessar ao pesquisador. É também crucial que a organização disponha dos meios necessários para coletar esses dados, sem quaisquer prejuízos à sua qualidade (conforme definida pelos critérios do pesquisador). Por fim, é necessário garantir que o pesquisador tenha canal aberto com a gerência da organização, já que certas etapas do processo de avaliação –– incluindo o acesso a informações e dados e a montagem de desenhos experimentais ou quasi-experimentais –– podem depender de decisões tomadas em nível tático ou estratégico.

A título de exemplo, durante meu doutorado no Insper, construímos uma parceria com um fundo de investimentos de impacto e uma das empresas em seu portfólio. O fundo e a empresa buscavam desenvolver uma ferramenta para avaliar o impacto observado nos clientes finais da organização. Nessa parceria, em colaboração com Sérgio Lazzarini e Sandro Cabral, professores do Insper e coordenadores do Insper Metricis, construímos uma ferramenta com bom desempenho técnico e custo relativamente baixo, a qual foi adotada como ferramenta de monitoramento pelo fundo de impacto. Em contrapartida, tivemos acesso a dados únicos provenientes das bases de dados mantidas pela empresa, os quais foram aproveitados em nossa pesquisa acadêmica. Um dos frutos dessa parceria é o artigo que você pode acessar aqui [8].

* Leandro Nardi é research fellow do Society & Organizations Institute – HEC Paris, pesquisador associado ao Insper Metricis e possui doutorado em Economia dos Negócios pelo Insper (2021).

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Motivadas pela crescente popularidade de investimentos ESG e das práticas de responsabilidade social corporativa, além da ascensão dos investimentos de impacto, diversas organizações têm buscado integrar avaliação e monitoramento de impacto social às suas rotinas gerenciais e operacionais. Nesse contexto, uma miríade de desafios técnicos precisa ser enfrentada pelos gestores dessas organizações. Por exemplo, pode ser preciso desenvolver competências organizacionais ligadas à coleta, gestão e manutenção de bases de dados, montagem de fluxos lógicos (como a teoria de mudança ) e de painéis de indicadores e aplicação de ferramentais estatísticos e econométricos mais avançados.

A dificuldade e o alto custo associados ao desenvolvimento de tais competências são frequentemente citados como alguns dos principais entraves à adoção de práticas de avaliação e monitoramento de impacto por organizações, particularmente pelas de porte mais reduzido. Uma opção muitas vezes inexplorada por essas organizações é a construção de parcerias com centros de pesquisa acadêmicos. Esses centros frequentemente detêm o conhecimento necessário para conduzir avaliações de impacto e, ao mesmo tempo, estão interessados em obter acesso a dados únicos que lhes permitam explorar questões específicas de pesquisa. Caso a organização ofereça dados que sejam posteriormente usados na pesquisa acadêmica, pode ser possível desenhar parcerias com tais centros de modo a se construir instrumentos de avaliação de impacto social de alto nível técnico, a um custo substancialmente menor e de maneira relativamente célere.

Para serem bem-sucedidas, essas parcerias entre organizações e academia devem obedecer a alguns critérios. Em primeiro lugar, é essencial que as partes construam, conjuntamente, um acordo de confidencialidade que satisfaça as devidas exigências legais –– incluindo aspectos ligados à segurança de dados –– sem, no entanto, comprometer o acesso a informações relevantes e a posterior publicação dos resultados. Além disso, é importante garantir que exista bom “fit” entre os interesses das partes envolvidas. Por exemplo, os dados oferecidos pela organização devem efetivamente interessar ao pesquisador. É também crucial que a organização disponha dos meios necessários para coletar esses dados, sem quaisquer prejuízos à sua qualidade (conforme definida pelos critérios do pesquisador). Por fim, é necessário garantir que o pesquisador tenha canal aberto com a gerência da organização, já que certas etapas do processo de avaliação –– incluindo o acesso a informações e dados e a montagem de desenhos experimentais ou quasi-experimentais –– podem depender de decisões tomadas em nível tático ou estratégico.

A título de exemplo, durante meu doutorado no Insper, construímos uma parceria com um fundo de investimentos de impacto e uma das empresas em seu portfólio. O fundo e a empresa buscavam desenvolver uma ferramenta para avaliar o impacto observado nos clientes finais da organização. Nessa parceria, em colaboração com Sérgio Lazzarini e Sandro Cabral, professores do Insper e coordenadores do Insper Metricis, construímos uma ferramenta com bom desempenho técnico e custo relativamente baixo, a qual foi adotada como ferramenta de monitoramento pelo fundo de impacto. Em contrapartida, tivemos acesso a dados únicos provenientes das bases de dados mantidas pela empresa, os quais foram aproveitados em nossa pesquisa acadêmica. Um dos frutos dessa parceria é o artigo que você pode acessar aqui [8].

* Leandro Nardi é research fellow do Society & Organizations Institute – HEC Paris, pesquisador associado ao Insper Metricis e possui doutorado em Economia dos Negócios pelo Insper (2021).

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