Algumas dicas para construir a sua teoria de mudança
Com a teoria de mudança, gestores e gestoras de projetos de impacto podem ter mais clareza de como suas intervenções podem gerar melhorias na população-alvo
Da Redação
Publicado em 28 de julho de 2022 às 09h00.
Última atualização em 2 de agosto de 2022 às 13h18.
O conteúdo desse blog é gerenciado pelo Insper Metricis, o núcleo do Insper especializado em realizar estudos sobre estratégias organizacionais e práticas de gestão envolvendo projetos com potencial de gerar alto impacto socioambiental.
Por Sérgio G. Lazzarini*
Há um crescente consenso de que a construção da teoria de mudança é um passo crucial e necessário antes de se pensar em métricas ou avaliação de impacto. Com a teoria de mudança , gestores e gestoras de projetos de impacto podem ter mais clareza de como suas intervenções podem gerar melhorias na sua população-alvo. Especialistas têm até proposto que uma boa estratégia deriva de uma boa teoria – clara, fácil de compreender e indicativa do que deve ser observado para pôr à prova os efeitos propostos.
No entanto, muitas pessoas ainda têm dúvidas sobre o que incluir e como montar boas teorias de mudança. Apresento abaixo algumas dicas derivadas da experiência de projetos do Insper Metricis e pesquisas conduzidas por nossa equipe:
- A teoria de mudança não é apenas um conjunto de “caixinhas” (insumos, atividades, etc.), mas principalmente relações causais entre elas. Por exemplo, se um projeto educacional inclui “professores treinados” (insumos) usados para “realizar atividades extracurriculares” (atividades), de tal forma que, ao final, “alunos desenvolvem competências socioemocionais” (resultados), é preciso que a gestão tenha clareza sobre os mecanismos embasando essa cadeia de efeitos. Um detalhado benchmarking com revisão de literatura e casos similares é crucial para justificar cada efeito proposto.
- A teoria de mudança não precisa ser complexa e incluir toda e qualquer intervenção possível. A ferramenta serve menos para “representar o mundo como ele é” e mais para trazer à gestão clareza sobre os possíveis efeitos de suas intervenções específicas.
- Muitas vezes, entretanto, teorias de mudança precisam ser complexas por procurarem responder a diversos problemas entrelaçados. Por exemplo, colaboramos com a Fundação Tide Setubal, Fundação Itaú Social e a Prefeitura de São Paulo para gerar uma grande teoria de mudança para desenvolvimento de áreas urbanas vulneráveis. A teoria de mudança resultante ficou imensa, com 37 indicadores de resultado respondendo a oito problemas prementes nessas áreas (como segurança, educação, saneamento e outros). Uma possibilidade, nesses casos, é que diferentes organizações, públicas ou privadas, possam se inserir em partes distintas da teoria da mudança, como se colocassem foco em “subteorias” em colaboração com outros atores atuantes na população-alvo.
- Há vários formatos e terminologias usados na construção de teoria de mudança. Respeitando essa diversidade, é preciso tomar cuidado com definições. Por exemplo, um formato recorrente coloca “impacto” como o efeito final e mais amplo das intervenções previstas. Porém, em projetos de avaliação, impacto é definido como um resultado que não teria ocorrido sem as intervenções propostas. Ou seja, impacto deve ser observado posteriormente, a partir de resultados indicados pela teoria de mudança. Por isso, o Guia Metricis propõe uma terminologia distinta, separando entre resultados da atividade e resultados para a sociedade. Usando o exemplo do projeto de educação, “alunos desenvolvem competências socioemocionais” é um resultado da atividade, que pode gerar diversos resultados para a sociedade, como melhoria da qualidade da educação e maior empregabilidade. Resultados para a sociedade podem também ser facilmente ligados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
- Finalmente, é fortemente recomendado que a teoria de mudança seja construída com amplo envolvimento da gestão e dos vários stakeholders No projeto citado anteriormente, focalizado em áreas vulneráveis, participaram das discussões a Prefeitura, fundações e institutos parceiros, empresas apoiadoras e foram consultados os moradores do local. Essa construção conjunta garante melhor engajamento e intervenções mais apoiadas no contexto e problemas locais.
Já virou lugar-comum dizer que “nada é mais prático do que uma boa teoria”. Para além de prática, a teoria de mudança é uma oportunidade de diálogo e aprendizado. Utilizando e constantemente refinando a teoria de mudança, a gestão pode abortar caminhos não promissores e descobrir novas trilhas de potencial impacto, permitindo propor intervenções informadas e aderentes ao seu contexto.
* Sérgio G. Lazzarini é professor da Ivey Business School na Western University e Chafi Haddad Senior Research Fellow no Insper.
O conteúdo desse blog é gerenciado pelo Insper Metricis, o núcleo do Insper especializado em realizar estudos sobre estratégias organizacionais e práticas de gestão envolvendo projetos com potencial de gerar alto impacto socioambiental.
Por Sérgio G. Lazzarini*
Há um crescente consenso de que a construção da teoria de mudança é um passo crucial e necessário antes de se pensar em métricas ou avaliação de impacto. Com a teoria de mudança , gestores e gestoras de projetos de impacto podem ter mais clareza de como suas intervenções podem gerar melhorias na sua população-alvo. Especialistas têm até proposto que uma boa estratégia deriva de uma boa teoria – clara, fácil de compreender e indicativa do que deve ser observado para pôr à prova os efeitos propostos.
No entanto, muitas pessoas ainda têm dúvidas sobre o que incluir e como montar boas teorias de mudança. Apresento abaixo algumas dicas derivadas da experiência de projetos do Insper Metricis e pesquisas conduzidas por nossa equipe:
- A teoria de mudança não é apenas um conjunto de “caixinhas” (insumos, atividades, etc.), mas principalmente relações causais entre elas. Por exemplo, se um projeto educacional inclui “professores treinados” (insumos) usados para “realizar atividades extracurriculares” (atividades), de tal forma que, ao final, “alunos desenvolvem competências socioemocionais” (resultados), é preciso que a gestão tenha clareza sobre os mecanismos embasando essa cadeia de efeitos. Um detalhado benchmarking com revisão de literatura e casos similares é crucial para justificar cada efeito proposto.
- A teoria de mudança não precisa ser complexa e incluir toda e qualquer intervenção possível. A ferramenta serve menos para “representar o mundo como ele é” e mais para trazer à gestão clareza sobre os possíveis efeitos de suas intervenções específicas.
- Muitas vezes, entretanto, teorias de mudança precisam ser complexas por procurarem responder a diversos problemas entrelaçados. Por exemplo, colaboramos com a Fundação Tide Setubal, Fundação Itaú Social e a Prefeitura de São Paulo para gerar uma grande teoria de mudança para desenvolvimento de áreas urbanas vulneráveis. A teoria de mudança resultante ficou imensa, com 37 indicadores de resultado respondendo a oito problemas prementes nessas áreas (como segurança, educação, saneamento e outros). Uma possibilidade, nesses casos, é que diferentes organizações, públicas ou privadas, possam se inserir em partes distintas da teoria da mudança, como se colocassem foco em “subteorias” em colaboração com outros atores atuantes na população-alvo.
- Há vários formatos e terminologias usados na construção de teoria de mudança. Respeitando essa diversidade, é preciso tomar cuidado com definições. Por exemplo, um formato recorrente coloca “impacto” como o efeito final e mais amplo das intervenções previstas. Porém, em projetos de avaliação, impacto é definido como um resultado que não teria ocorrido sem as intervenções propostas. Ou seja, impacto deve ser observado posteriormente, a partir de resultados indicados pela teoria de mudança. Por isso, o Guia Metricis propõe uma terminologia distinta, separando entre resultados da atividade e resultados para a sociedade. Usando o exemplo do projeto de educação, “alunos desenvolvem competências socioemocionais” é um resultado da atividade, que pode gerar diversos resultados para a sociedade, como melhoria da qualidade da educação e maior empregabilidade. Resultados para a sociedade podem também ser facilmente ligados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
- Finalmente, é fortemente recomendado que a teoria de mudança seja construída com amplo envolvimento da gestão e dos vários stakeholders No projeto citado anteriormente, focalizado em áreas vulneráveis, participaram das discussões a Prefeitura, fundações e institutos parceiros, empresas apoiadoras e foram consultados os moradores do local. Essa construção conjunta garante melhor engajamento e intervenções mais apoiadas no contexto e problemas locais.
Já virou lugar-comum dizer que “nada é mais prático do que uma boa teoria”. Para além de prática, a teoria de mudança é uma oportunidade de diálogo e aprendizado. Utilizando e constantemente refinando a teoria de mudança, a gestão pode abortar caminhos não promissores e descobrir novas trilhas de potencial impacto, permitindo propor intervenções informadas e aderentes ao seu contexto.
* Sérgio G. Lazzarini é professor da Ivey Business School na Western University e Chafi Haddad Senior Research Fellow no Insper.