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A visibilidade da realidade: a importância de falarmos sobre diversidade

Sem dúvida, a competência para qualquer cargo é essencial. Mas a diversidade não é menos importante e, falar sobre ela, crucial para mudanças

The Crown: Série da Netflix que faz um relato histórico e parcialmente ficcional sobre a família real britânica. (Netflix/Divulgação)
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marianamartucci

Publicado em 15 de dezembro de 2020 às 15h00.

Em uma das primeiras cenas da quarta temporada de The Crown, é possível assistir a uma conversa entre a Rainha Elizabeth e a primeira-ministra Margaret Thatcher, que havia sido eleita há pouco. A Rainha pergunta a Thatcher se todos os ministros seriam homens. Thatcher, um pouco surpresa com a pergunta, afirma que sim, pois, além de não ter nenhuma mulher apta para assumir um cargo tão importante, mulheres também seriam muito emotivas. Isso ocorreu em uma conversa entre as mulheres que, naquela época, ocupavam os dois cargos mais elevados do país.

Não sabemos se esse diálogo realmente existiu, o fato é que essa fala deveria soar bastante antiquada e, infelizmente, ela se repete até hoje. Nas últimas eleições municipais, tivemos não somente um número recorde de mulheres, negros, LGBTQIA+ como candidatos, mas eles(as) foram efetivamente eleitos(as). Não foi surpresa escutarmos alguns comentários das alas mais conservadoras afirmando que não interessava essa diversidade, mas sim a competência das pessoas eleitas.

Sem dúvida, a competência para qualquer cargo – eletivo ou não – é essencial. Mas a diversidade não é menos importante e, falar sobre ela, crucial para mudanças.

Em um artigo publicado em 2006, Campbell e Wolbrecht analisam o impacto da eleição de mulheres nas atitudes políticas de meninas. Os autores mostram que, ao concorrer a cargos de elevada importância e assumir em maior número esses postos, as políticas eleitas influenciam garotas a participar mais – e mais cedo – da vida política, até mesmo via ativismo. O interessante desse artigo é que ele mostra que isso não ocorre – como talvez fosse esperado – pelo simples efeito de haver mais mulheres no poder ou pelo impacto que elas poderiam causar em políticas efetivas, mas sim porque a discussão intrafamiliar sobre essas questões aumentava e era isso que impulsionava a maior participação das meninas na vida política.

Ou seja, é sim muito importante darmos visibilidade para pessoas que pertençam aos recortes sociais que permitam a diversidade. Termos pessoas trans eleitas não só aumenta a voz sobre seus direitos e necessidades, como também os torna parte da realidade visível de pessoas – muitas delas, crianças e adolescentes – que não convivem com pessoas declaradamente trans e, talvez até mesmo por isso, não os tenha imaginado com esse poder.

O mesmo raciocínio se dá para mulheres eleitas, negros eleitos, pessoas LGBTQIA+ eleitas. Ao se elegerem, essas pessoas facilitam a escolha por discutirmos mais profundamente suas situações de discriminação e violência. É a partir da visibilidade dessas pessoas – e seus potenciais de capacidade – que podemos ter a esperança de um país mais justo e, em seguida (não a priori, como alguns imaginam), meritocrático.

Não estamos em tempos que podemos dizer que não temos “mulheres aptas” para qualquer cargo ou usarmos características estereotipadas sobre qualquer pessoa ou grupo para negarmos a participação destes no jogo político. E precisamos falar muito sobre isso!

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Em uma das primeiras cenas da quarta temporada de The Crown, é possível assistir a uma conversa entre a Rainha Elizabeth e a primeira-ministra Margaret Thatcher, que havia sido eleita há pouco. A Rainha pergunta a Thatcher se todos os ministros seriam homens. Thatcher, um pouco surpresa com a pergunta, afirma que sim, pois, além de não ter nenhuma mulher apta para assumir um cargo tão importante, mulheres também seriam muito emotivas. Isso ocorreu em uma conversa entre as mulheres que, naquela época, ocupavam os dois cargos mais elevados do país.

Não sabemos se esse diálogo realmente existiu, o fato é que essa fala deveria soar bastante antiquada e, infelizmente, ela se repete até hoje. Nas últimas eleições municipais, tivemos não somente um número recorde de mulheres, negros, LGBTQIA+ como candidatos, mas eles(as) foram efetivamente eleitos(as). Não foi surpresa escutarmos alguns comentários das alas mais conservadoras afirmando que não interessava essa diversidade, mas sim a competência das pessoas eleitas.

Sem dúvida, a competência para qualquer cargo – eletivo ou não – é essencial. Mas a diversidade não é menos importante e, falar sobre ela, crucial para mudanças.

Em um artigo publicado em 2006, Campbell e Wolbrecht analisam o impacto da eleição de mulheres nas atitudes políticas de meninas. Os autores mostram que, ao concorrer a cargos de elevada importância e assumir em maior número esses postos, as políticas eleitas influenciam garotas a participar mais – e mais cedo – da vida política, até mesmo via ativismo. O interessante desse artigo é que ele mostra que isso não ocorre – como talvez fosse esperado – pelo simples efeito de haver mais mulheres no poder ou pelo impacto que elas poderiam causar em políticas efetivas, mas sim porque a discussão intrafamiliar sobre essas questões aumentava e era isso que impulsionava a maior participação das meninas na vida política.

Ou seja, é sim muito importante darmos visibilidade para pessoas que pertençam aos recortes sociais que permitam a diversidade. Termos pessoas trans eleitas não só aumenta a voz sobre seus direitos e necessidades, como também os torna parte da realidade visível de pessoas – muitas delas, crianças e adolescentes – que não convivem com pessoas declaradamente trans e, talvez até mesmo por isso, não os tenha imaginado com esse poder.

O mesmo raciocínio se dá para mulheres eleitas, negros eleitos, pessoas LGBTQIA+ eleitas. Ao se elegerem, essas pessoas facilitam a escolha por discutirmos mais profundamente suas situações de discriminação e violência. É a partir da visibilidade dessas pessoas – e seus potenciais de capacidade – que podemos ter a esperança de um país mais justo e, em seguida (não a priori, como alguns imaginam), meritocrático.

Não estamos em tempos que podemos dizer que não temos “mulheres aptas” para qualquer cargo ou usarmos características estereotipadas sobre qualquer pessoa ou grupo para negarmos a participação destes no jogo político. E precisamos falar muito sobre isso!

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