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A concessão do Parque Ibirapuera e o papel da avaliação de impacto

O uso de indicadores de gestão, precedidos de uma teoria de mudança, também pode fornecer informações relevantes para medir impacto

Parque Ibirapuera: espaço foi concedido à iniciativa privada. (Germano Lüders/Exame)
Parque Ibirapuera: espaço foi concedido à iniciativa privada. (Germano Lüders/Exame)
I
Impacto Social

Publicado em 10 de fevereiro de 2022 às, 09h00.

Última atualização em 11 de fevereiro de 2022 às, 13h55.

Por Renata Loew Weiss*

O Parque Ibirapuera, um ícone da cidade de São Paulo, carecia de investimentos. Suas receitas eram pouco conhecidas pela própria prefeitura, dado o baixo controle sobre as atividades comerciais exercidas por terceiros e por se diluírem em diferentes áreas da prefeitura. A alternativa encontrada pela administração pública foi então realizar um contrato de concessão. O processo de seleção decorreu mesmo com o pedido de suspensão por parte do Ministério Público Estadual e a gestão da concessão no Parque Ibirapuera iniciou em outubro de 2020.

A concessão prevê até 35 anos de duração, ganho estimado em mais de R$ 1,6 bilhão aos cofres públicos (veja os dados) e mecanismos de avaliação de performance. Os critérios de avaliação são divididos em quatro áreas: zeladoria, conservação dos recursos, bem-estar e experiência do usuário. A performance influencia o valor da outorga e é avaliada tanto pelo poder concedente quanto por pesquisa de satisfação do usuário (veja a tabela 1). Porém, não há o detalhamento sobre como o poder concedente avaliará cada indicador. Além do Parque Ibirapuera, o edital incluiu outros 5 parques menores, em regiões de maior vulnerabilidade social.

Pouco mais de um ano após o início da concessão, alguns dos frequentadores relatam melhorias. Frente a questionamentos relacionados à publicidade das informações de desempenho, um ponto de melhoria seria a concessionária implementar canais de comunicação diretos com a sociedade para melhor acesso às informações sobre o cumprimento do contrato.

O fato é que a concessionária decide como conciliará os compromissos do contrato com o plano de negócio da concessão. De acordo com Samuel Lloyd, diretor comercial da concessionária Urbia, o plano de negócio no Ibirapuera busca equacionar geração de valor público com viabilidade econômico-financeira. Inclui, entre outros indicadores, a meta de transformar 100% da oferta de ambulantes em pequenos empreendedores formais em 2022, assim como reduzir 90% do lixo encaminhado ao aterro sanitário até 2024.

É preciso pontuar que, embora a concessão utilize-se de indicadores para avaliar a gestão, nesse caso, ainda não estamos falando de avalição de impacto. Para medir o impacto da concessão, seria necessário comparar como os indicadores evoluíram no Parque Ibirapuera após a intervenção em relação a um grupo de controle. Por exemplo, comparar a evolução das condições de trabalho dos microempreendedores do Ibirapuera com a de ambulantes informais em outro parque, com características similares (saiba mais aqui).

Ao mesmo tempo, indicadores de gestão podem fornecer informações relevantes para a medição de impacto, principalmente quando precedidos de uma teoria de mudança. Neste sentido, pode servir como inspiração o trabalho desenvolvido pelo Insper Metricis, em parceria com a Fundação Tide Setúbal, voltado a territórios urbanos vulneráveis. Pensando no exemplo da concessão do Parque Ibirapuera, os indicadores apresentados nesse trabalho poderiam nortear o desenvolvimento dos demais parques que fizeram parte da concessão: Jacintho Alberto (Pirituba), Lajeado (Guaianases), Tenente Faria Lima (Parque Novo Mundo), Jardim Felicidade (Jardim Felicidade) e Eucaliptos (Morumbi).

Indicadores e cálculo da nota de avaliação de desempenho do concessionário. (Prefeitura de SP)

*Renata Loew Weiss é Mestre em Políticas Públicas pela PUC-Chile.