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Recuperar florestas na Amazônia é a maneira mais barata de salvar o clima

Estudo aponta que, a um preço de US$ 20 a tonelada de carbono, é mais atrativo deixar a floresta ser restaurada do que criar gado

Floresta Amazônica (Andre Pinto/Getty Images)
Floresta Amazônica (Andre Pinto/Getty Images)

Por Alexandre Mansur*

Nossos esforços atuais não serão suficientes para conter o aquecimento global. A temperatura da Terra pode aumentar em 2,6ºC até o ano de 2100. Uma elevação catastrófica já alertada pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCC), no último mês de setembro, que divulgou o primeiro relatório do painel de cientistas que acompanha os efeitos de ações globais para conter o colapso climático do planeta.

Esse aumento de temperatura coloca a civilização como conhecemos em cheque. Tudo pode ser afetado: agricultura, disponibilidade de água, economia, cidades, etc. Por isso, cientistas do mundo todo seguem empenhados em soluções tecnológicas que possam reduzir ou mitigar os efeitos. A prioridade é tirar carbono da atmosfera. Vários institutos pesquisam máquinas para isso. Porém a solução surpreendentemente mais acessível e efetiva segue ao nosso alcance: plantar florestas.

As florestas tropicais possuem ampla vantagem na captura de carbono. A Amazônia, a maior de todas elas, pode ser chave nesse processo. No caso da Amazônia brasileira, temos uma área equivalente aos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo, que já foi desmatada e poderia ser utilizada para a captura de carbono por meio da regeneração natural e restauração florestal. Pois, conforme aponta o projeto Amazônia 2030, dos 86 milhões de hectares abertos na região, 90% é ocupado com pastos, sendo que boa parte estão abandonados.

Os economistas José Alexandre Scheinkman e Juliano Assunção, autores do estudo "Carbono e o Destino da Amazônia", do projeto Amazônia 2030, enxergam essa situação como uma oportunidade. Podemos revitalizar a economia da região, melhorar a qualidade de vida das comunidades locais e mitigar as mudanças climáticas, tudo através da gestão do carbono, especificamente pela captura e compensação de carbono.

Contudo, esse potencial está atrelado a um fator decisivo: o preço.

Eles explicam que atualmente, a Amazônia tem 9% do PIB brasileiro e 50% das emissões de gases de efeito estufa. É uma conta que claramente não compensa para o país. O descolamento entre o desmatamento e a riqueza gerada é flagrante nos péssimos indicadores de qualidade de vida da região em comparação com o resto do país. Diante desse panorama desafiador, surge uma pergunta crucial: qual seria o custo para resgatar a Amazônia?

A eficácia no uso das áreas desmatadas da Amazônia reside na escolha de sua destinação. Os pesquisadores analisaram os benefícios comparativos de destiná-las à pecuária ou à geração de créditos de carbono.

Com um valor de 20 dólares por tonelada de CO2, a opção pela regeneração florestal se torna muito mais atrativa do que a pecuária. Em um mercado global com uma média de 90 dólares por tonelada de CO2, o Brasil possui uma posição favorável para negociar com outros governos e empresas interessadas em compensação de carbono.

A estimativa do potencial de captura é de 16 gigatoneladas, ou seja, 16 bilhões de toneladas de carbono. A um preço de US$ 20 por tonelada, isso equivale a US$ 320 bilhões. No entanto, como já dissemos, esse é um valor conservador. Se considerarmos US$ 40 por tonelada, estamos falando de US$ 640 bilhões. Dinheiro que poderia ser utilizado de diferentes formas na região para melhorar a economia e a vida da população.

No entanto, para que essa visão ideal se concretize, três condições cruciais precisam ser atendidas. Em primeiro lugar, é imperativo eliminar completamente o desmatamento. Porque não dá para vender crédito de regeneração florestal de um lado e desmatar de outro. Para zerar o desmatamento, o Brasil precisa fazer valer o Código Florestal nas áreas privadas e expulsar e punir os grileiros e invasores de terras nas áreas públicas.

Em segundo lugar, é essencial recompensar aqueles que protegem e preservam a floresta, seja através de Unidades de Conservação, Terras Indígenas ou propriedades privadas. Por último, é também necessário criar formas para recompensar quem faz a regeneração ativa da floresta, sejam proprietários de pastagens improdutivas (muitas vezes desmatadas ilegalmente) ou as autoridades responsáveis  pelas terras públicas invadidas (essas sempre desmatadas ilegalmente).

A compensação financeira pelo carbono capturado é uma peça-chave para alcançar essas condições. Além de promover a regeneração da Amazônia, representa uma oportunidade valiosa para combater as mudanças climáticas. Vale ressaltar que a floresta regenerada pode oferecer não apenas créditos de carbono, mas também uma ampla gama de bens, incluindo produtos alimentares (como cacau, café e açaí), madeira (sim, madeira manejada), pesca, turismo e outras atividades sustentáveis.

A receita dessas atividades representa um ganho extra para o país. Na verdade, segundo alguns outros pesquisadores, o dinheiro dessas atividades da floresta já rende muito mais do que a pecuária. Os bilhões de dólares de crédito de carbono seriam apenas um troco adicional. E aí? Vamos ganhar dinheiro com a Amazônia?