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Qual tecnologia irá nos levar para a era verde?

O Brasil precisa incentivar as inovações que nos deixarão prontos para aproveitar o melhor da transição econômica socioambiental

(Luis Alvarez/Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 23 de março de 2022 às 12h16.

Por Gaston Santi Kremer

Tem-se como lugar comum que as grandes transições dos tempos modernos foram causadas por avanços tecnológicos vertiginosos. Da primeira à quarta revolução industrial, da máquina a vapor à internet das coisas, a ideia de que essas transições acontecem por saltos de inovação tecnológica que aparentemente se dão em um vácuo é amplamente difundida, passando a equivocada impressão de que esses avanços acontecem quase que independentemente do contexto social, institucional e econômico. Por outro lado, o Centro Yunus da Universidade de Griffith na Austrália, argumenta que para que as inovações tecnológicas contribuam para as grandes transições, ciclos de inovação social, pública e cívicas devem permear e ser permeados por esses desenvolvimentos de soluções.

Ao que tudo indica, incluindo o último relatório do IPCC, estamos em um momento crítico em relação a necessidade de uma transição em direção a uma era verde, sustentável e até regenerativa, a depender do interlocutor. É imperativo sair da armadilha de que o desenvolvimento tecnológico é a força motriz dessa transição tão imprescindível. Mas como? Em teoria e já em alguns casos práticos, existem exemplos de inovação tecnológica participativa e de processos sociais sendo permeados pelo desenvolvimento tecnológico. Transition Design , por exemplo, é uma resposta crítica ao Design Thinking, metodologia amplamente difundida por inovadores de todos os matizes. Essa nova escola do design se caracteriza como uma prática emergente baseada na proposição de que estamos inseridos em uma transição caracterizada por complexos desafios sociais, econômicos e ambientais. Sua premissa central: a prática do design tem um papel essencial para vislumbrar e dar origem a um futuro mais sustentável.

Distintos países, notadamente do norte do globo, têm desenhado suas transições levando em consideração essa complexidade, reconhecendo a interdependência que as soluções devem endereçar neste processo. Dan Hiller, por exemplo, é Designer estratégico na Vinnova, Agência de Inovação sueca. Seu trabalho consiste em “arrastar essas grandes questões, esses desafios sistêmicos, para baixo e tentando torná-los o mais tangíveis possível, para então descobrir o que e quem reunimos, a fim de abordar o desafio, bem como a forma que o trabalho pode assumir.” Exemplificando, ainda que de forma genérica, reflete seu papel na instituição com a seguinte digressão: “talvez você tenha o financiamento, mas precisa mudar uma política ou lei para desbloquear novos resultados, talvez você não precise necessariamente de novo financiamento para isso, mas precisa tanto de adesão política quanto de cidadãos a bordo, para que isso seja legítimo.” Outro conceito importante para navegar os tempos da transição vigente e que vem ganhando tração, especialmente na última década, é o de Mission Oriented Innovation (MOI). Recentemente esta mesma Vinnova, lançou um estudo abordando o tema no contexto sueco, assim como o Canadá lançou o seu Canada’s Moonshot: Solving grand challenges through transformational innovation. Este último conta com uma premissa que talvez seja denominador comum nas políticas inseridas no conceito de MOI: Como adotar uma abordagem mais holística para repensar as políticas de inovação do Canadá, centrando a inclusão, a equidade e a reconciliação?

E o Brasil com isso? Estamos preparados para esse momento de inflexão na história? Em 2016, através da CGEE – Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, foi lançado o estudo O Sistema de Inovação Brasileiro: uma proposta orientada por missões, de autoria de Mariana Mazzucato e Caetano Penna. Este estudo já preconizava, de forma muito pioneira no Sul global, a adoção de políticas de inovação que enderecem grandes missões da transição atual a partir de abordagem sistêmica, considerando nossos desafios e potencialidades socioambientais. Após oito anos, os desafios se aprofundaram, mas pouco avançamos na orquestração do sistema nacional de inovação. No último dia 9 de Março, no lançamento da “Série Projeto para um novo Brasil – Seminário Ciência, Tecnologia e Inovação”, da SBPC, a pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco e ex-presidente do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), Lucia Melo, ressaltou a necessidade de missões de CT&I voltadas a objetivos definidos pela sociedade em parceria com os entes federativos. Algumas instituições vêm buscando, ainda que de forma relativamente isolada, adotar a lógica de missões, como a Fapesp em algumas linhas de financiamento e a própria ABDE, inclusive ambas realizando eventos contando com a participação da já citada rockstar de MOI, Professora Mazzucato.

É inegável de que estamos vivendo uma fase de transição devido ao acavalamento de crises e soluções. Para garantir que esse fenômeno enderece de forma sustentável e justa esta transição, uma abordagem holística de inovação deve ser adotada. Endereçar os grandes desafios dos nossos tempos através da lógica de missões permite a construção de futuros desejáveis. No Brasil, existe a profunda necessidade de articulação, participação, direcionalidade e financiamento para as inovações que darão conta do gigantesco potencial e dos complexos desafios que podem tornar-nos líderes da nova época que se avizinha. Os ventos de mudança já sopram fortes e é mais do que a hora de adaptar-nos para a transição que já começou.

*Gaston Santi Kremer é Diretor de Programas da World-Transforming Technologies (WTT).

Por Gaston Santi Kremer

Tem-se como lugar comum que as grandes transições dos tempos modernos foram causadas por avanços tecnológicos vertiginosos. Da primeira à quarta revolução industrial, da máquina a vapor à internet das coisas, a ideia de que essas transições acontecem por saltos de inovação tecnológica que aparentemente se dão em um vácuo é amplamente difundida, passando a equivocada impressão de que esses avanços acontecem quase que independentemente do contexto social, institucional e econômico. Por outro lado, o Centro Yunus da Universidade de Griffith na Austrália, argumenta que para que as inovações tecnológicas contribuam para as grandes transições, ciclos de inovação social, pública e cívicas devem permear e ser permeados por esses desenvolvimentos de soluções.

Ao que tudo indica, incluindo o último relatório do IPCC, estamos em um momento crítico em relação a necessidade de uma transição em direção a uma era verde, sustentável e até regenerativa, a depender do interlocutor. É imperativo sair da armadilha de que o desenvolvimento tecnológico é a força motriz dessa transição tão imprescindível. Mas como? Em teoria e já em alguns casos práticos, existem exemplos de inovação tecnológica participativa e de processos sociais sendo permeados pelo desenvolvimento tecnológico. Transition Design , por exemplo, é uma resposta crítica ao Design Thinking, metodologia amplamente difundida por inovadores de todos os matizes. Essa nova escola do design se caracteriza como uma prática emergente baseada na proposição de que estamos inseridos em uma transição caracterizada por complexos desafios sociais, econômicos e ambientais. Sua premissa central: a prática do design tem um papel essencial para vislumbrar e dar origem a um futuro mais sustentável.

Distintos países, notadamente do norte do globo, têm desenhado suas transições levando em consideração essa complexidade, reconhecendo a interdependência que as soluções devem endereçar neste processo. Dan Hiller, por exemplo, é Designer estratégico na Vinnova, Agência de Inovação sueca. Seu trabalho consiste em “arrastar essas grandes questões, esses desafios sistêmicos, para baixo e tentando torná-los o mais tangíveis possível, para então descobrir o que e quem reunimos, a fim de abordar o desafio, bem como a forma que o trabalho pode assumir.” Exemplificando, ainda que de forma genérica, reflete seu papel na instituição com a seguinte digressão: “talvez você tenha o financiamento, mas precisa mudar uma política ou lei para desbloquear novos resultados, talvez você não precise necessariamente de novo financiamento para isso, mas precisa tanto de adesão política quanto de cidadãos a bordo, para que isso seja legítimo.” Outro conceito importante para navegar os tempos da transição vigente e que vem ganhando tração, especialmente na última década, é o de Mission Oriented Innovation (MOI). Recentemente esta mesma Vinnova, lançou um estudo abordando o tema no contexto sueco, assim como o Canadá lançou o seu Canada’s Moonshot: Solving grand challenges through transformational innovation. Este último conta com uma premissa que talvez seja denominador comum nas políticas inseridas no conceito de MOI: Como adotar uma abordagem mais holística para repensar as políticas de inovação do Canadá, centrando a inclusão, a equidade e a reconciliação?

E o Brasil com isso? Estamos preparados para esse momento de inflexão na história? Em 2016, através da CGEE – Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, foi lançado o estudo O Sistema de Inovação Brasileiro: uma proposta orientada por missões, de autoria de Mariana Mazzucato e Caetano Penna. Este estudo já preconizava, de forma muito pioneira no Sul global, a adoção de políticas de inovação que enderecem grandes missões da transição atual a partir de abordagem sistêmica, considerando nossos desafios e potencialidades socioambientais. Após oito anos, os desafios se aprofundaram, mas pouco avançamos na orquestração do sistema nacional de inovação. No último dia 9 de Março, no lançamento da “Série Projeto para um novo Brasil – Seminário Ciência, Tecnologia e Inovação”, da SBPC, a pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco e ex-presidente do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), Lucia Melo, ressaltou a necessidade de missões de CT&I voltadas a objetivos definidos pela sociedade em parceria com os entes federativos. Algumas instituições vêm buscando, ainda que de forma relativamente isolada, adotar a lógica de missões, como a Fapesp em algumas linhas de financiamento e a própria ABDE, inclusive ambas realizando eventos contando com a participação da já citada rockstar de MOI, Professora Mazzucato.

É inegável de que estamos vivendo uma fase de transição devido ao acavalamento de crises e soluções. Para garantir que esse fenômeno enderece de forma sustentável e justa esta transição, uma abordagem holística de inovação deve ser adotada. Endereçar os grandes desafios dos nossos tempos através da lógica de missões permite a construção de futuros desejáveis. No Brasil, existe a profunda necessidade de articulação, participação, direcionalidade e financiamento para as inovações que darão conta do gigantesco potencial e dos complexos desafios que podem tornar-nos líderes da nova época que se avizinha. Os ventos de mudança já sopram fortes e é mais do que a hora de adaptar-nos para a transição que já começou.

*Gaston Santi Kremer é Diretor de Programas da World-Transforming Technologies (WTT).

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