Colunistas

Qual é o preço do petróleo da Amazônia?

Independente de decidirmos explorar ou não as reservas da Margem Equatorial, o mais importante é garantir desmatamento zero agora

Turistas na Expedição Katerre - Turismo - Amazonia - AM - Rio Negro - Selva - Expedição Katerre - Natureza - 

foto: Leandro Fonseca
data: 04/2022 (Leandro Fonseca/Exame)

Turistas na Expedição Katerre - Turismo - Amazonia - AM - Rio Negro - Selva - Expedição Katerre - Natureza - foto: Leandro Fonseca data: 04/2022 (Leandro Fonseca/Exame)

AM

Publicado em 18 de fevereiro de 2025 às 16h50.

A exploração de petróleo na Foz do Rio Amazonas tem gerado um debate acalorado no Brasil. De um lado, há promessas de desenvolvimento econômico e grandes investimentos; de outro, preocupações ambientais e climáticas sérias. Mas antes de decidir se somos contra ou a favor, talvez a pergunta que devemos fazer seja outra: quais são as reais implicações dessa exploração para o Brasil e para o planeta?

Se o objetivo é reduzir as emissões globais de gases de efeito estufa e não agravar as mudanças climáticas, então devemos perguntar: reduzir a produção de petróleo faz diferença? Especialistas lembram que o petróleo é como a cocaína: se houver demanda, sempre haverá um fornecedor. Se o Brasil decidir não explorar o petróleo na Foz do Amazonas, outros países rapidamente ocuparão essa fatia do mercado, como Arábia Saudita, EUA, Noruega e Canadá. Farão isso sem nenhuma crise de consciência. A medida mais eficaz para reduzir as emissões não é simplesmente cortar a produção de petróleo, mas sim reduzir o consumo e investir em substitutos energéticos. Contudo, para o Brasil, há uma questão ainda mais urgente.

Nossa principal contribuição para as mudanças climáticas não está na produção de combustíveis fósseis, mas sim no desmatamento. Cerca de 64% das emissões brasileiras estão ligadas à cadeia da pecuária bovina, com a maior parte derivada do desmatamento ilegal na Amazônia. Em contraste, as emissões associadas à produção e refino de petróleo representam menos de 1% do total do Brasil. Se o Brasil quer realmente contribuir para mitigar a crise climática, a prioridade número um deveria ser zerar o desmatamento, especialmente na Amazônia.

O Ibama alertou que a perfuração de poços de petróleo na região poderia gerar 18 impactos negativos. Quantos deles estão ligados ao desmatamento?

Se o Brasil decidir explorar o petróleo na Foz do Amazonas, essa decisão deveria vir acompanhada de medidas definitivas para zerar o desmatamento imediatamente e até mesmo promover a regeneração florestal em áreas abandonadas na Amazônia. Em outras palavras, qualquer eventual exploração deveria ser compensada com um compromisso firme de restauração ambiental e mecanismos robustos de controle territorial. O risco da exploração é alimentar a especulação imobiliária na região, que impulsiona a grilagem de terras, principal fator de desmatamento.

Ou atrai uma grande população, gerando cidades e vilarejos que surgem ou crescem apressadamente, sem serviços nem governança adequados, provocando ocupação irregular das terras, expansão ilegal da pecuária, pressão por flexibilização das leis de proteção de margens de rios e da floresta. O simples debate sobre o petróleo já impulsiona o loteamento ilegal das praias oceânicas e fluviais, com derrubadas ilegais e aberturas de estradas irregulares. Tudo isso tem uma consequência final: desmatamento acelerado com apoio político. A questão central não é ser contra ou a favor da exploração de petróleo brasileiro, mas sim garantir que a floresta dos brasileiros não seja destruída por uma decisão mal planejada.

O potencial de emissão do desmatamento da Floresta Amazônica é muitas vezes maior do que o potencial de emissão da exploração de petróleo. A floresta amazônica sozinha armazena carbono equivalente a uma década de emissões dos EUA. Manter esse estoque intacto é essencial para estabilizar o clima global. Se houver petróleo na Foz do Amazonas, sua exploração só deve ser permitida se vier acompanhada de uma estratégia real e efetiva para zerar o desmatamento e proteger a floresta. Essa é a discussão que importa.

Para o clima da Terra, o que interessa é reduzir as emissões de carbono. Numa conta estimada, quais são os grandes potenciais de emissão em jogo? Se o Brasil queimasse todo potencial estimado (não provado ainda) de petróleo na Amazônia, jogaria na atmosfera um total de aproximadamente 12,9 bilhões de toneladas de carbono. Por outro lado, se o Brasil queimasse a floresta Amazônica, despejaria na atmosfera de 80 a 120 bilhões de toneladas de carbono. Ou seja, o desmatamento da Amazônia, no pior cenário, pode jogar dez vezes mais carbono na atmosfera do que o cenário mais otimista de potencial petrolífero na região.

Importante lembrar: o pior cenário de desmatamento é exatamente o que está acontecendo agora. A floresta está passando pelo chamado “ponto de inflexão”, quando a destruição é tão grande que ela começa a perder a capacidade de guardar e transportar a umidade do oceano e gerar as chuvas que a alimentam, e passa a sofrer com grandes secas, incêndios e vai se degradando sozinha. Isso já começou a acontecer em algumas regiões da Amazônia. Não podemos perder nem mais um metro quadrado de floresta.

Por isso, não sei se devemos ou não explorar o petróleo na Margem Equatorial. Eu só sei que, independente dessa decisão, o mais importante é zerar o desmatamento agora.

Acompanhe tudo sobre:FlorestasAmazôniaIndústria do petróleoPetróleoCarbono