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Qual é o lugar da Amazônia na maior feira de carne do Brasil

Fomos à maior feira de negócios de proteína do animal do país, a TecnoCarne, para saber se e como os profissionais relacionam a pecuária com o desmatamento

Gado próximo ao Rio Amazonas (Leandro Fonseca/Exame)
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 25 de julho de 2023 às 10h18.

Por Alexandre Mansur

No início dos anos noventa, se alguém fosse às ruas perguntar para as pessoas se o desmatamento que começava a crescer desenfreadamente no Brasil estava relacionado à pecuária praticada na época, certamente a resposta seria não. Três décadas depois, essa relação é bastante direta e estabelecida. Especialmente na Amazônia Legal, onde estão 4 de cada 10 das mais de 224 milhões de cabeças de gado do país, que hoje é o maior exportador de carne bovina do mundo. Pastos para o gado cobrem cerca de 90% da área total desmatada e mais de 90% do desmatamento total é ilegal, segundo dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). Ou seja, a carne e os subprodutos que saem da região, comercializados em território nacional e em outros países, podem estar relacionados à destruição da floresta amazônica.

Mas, para quem é ou transita pela cadeia da carne, qual é a relação entre o desmatamento da Amazônia e a pecuária? Essa foi a principal pergunta que fizemos a participantes da TecnoCarne, a maior feira do setor de proteína do Brasil, realizada na última semana de junho, em São Paulo.

Com palestras e estandes cheios, o evento reuniu visitantes de todos os tipos, desde consumidores de carne a curiosos sobre as novas tecnologias do setor e empresários do ramo. Aproveitamos a movimentação para entender como as pessoas que circulam por este universo enxergam espontaneamente o desafio ambiental da pecuária em relação ao desmatamento da floresta amazônica. As respostas delas são um bom termômetro do que o próprio setor pensa sobre o assunto.

Diante de tantas evidências, alguns participantes da feira reconhecem que desmatamento na Amazônia e pecuária estão, de fato, diretamente associados. “Existe uma relação entre o desmatamento na Amazônia e a pecuária”, disse a nutricionista Diva Rauen. A estudante Victória Gomes, complementa: “Desmatam a floresta e fazem uma produção em massa para criar gado”.

Há também quem compreenda a gravidade da questão para o próprio setor. O churrasqueiro Alexandre Minamitani levanta, por exemplo, um ponto ligado à rastreabilidade da carne. Hoje em dia muita gente tem falado de sustentabilidade, muito por conta dos movimentos vegano e vegetariano esse assunto está vindo mais à toa. Antigamente esse não era um assunto tão relevante e hoje percebo que a sociedade está mais atenta. Infelizmente, não vejo muita gente comentando sobre isso. As pessoas compram carne e não sabem a procedência, não sabem de onde vem, nem o que o animal passou”, disse.

No Brasil, as empresas da cadeia de carne bovina, principalmente as que estão em atividade na Amazônia, são resistentes em revelar informações das etapas de produção, embora a região concentre 43% do rebanho bovino do país, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Um sinal disso é  o resultado do primeiro ano do Radar Verde, primeiro indicador de transparência da cadeia produtiva da carne.

Por outro lado, apesar das evidências, vários entrevistados na feira afirmaram que não existiria relação relevante entre desmatamento e pecuária. “É um equívoco enorme [relacionar desmatamento na Amazônia e pecuária], porque é uma mata que se regenera. Na verdade o que é existe é a falta do pessoal pegar um voo São Paulo - Miami (EUA) durante o dia e ver o tamanho que a Amazônia é, você fica simplesmente sobrevoando, no mínimo, 1h30 de pura mata. Hoje em dia, é bom defender uma causa como essa na Europa e em alguns outros países, mas aqui isso não é verdade”, disse o gerente da América Latina de uma empresa que atua no setor da carne. “Se olharmos a parte legal, uma coisa não tem relação com a outra”, disse um pesquisador da cadeia.

Alguns até afirmam que o assunto não passa de “uma polêmica midiática”. “Tem muito de uma mídia jogando contra [a pecuária]. Acho que tem outros fatores de desmatamento, vejo que até o tráfico de drogas tem a ver com isso, então não é só a pecuária que está contribuindo com isso, eu acredito que não. Sem falar da agricultura, que está desmatando para ter mais área para plantio”, disse um cozinheiro que assistia a uma palestra sobre a cadeia.

C erca de 21% da Amazônia já foi desmatada, uma área de mais de 830 mil km2, equivalente quase ao tamanho da Alemanha e da França juntas. Pelo menos dois terços da cobertura florestal remanescente - aquela que se vê do avião - já não é mais floresta intacta. São áreas que tiveram exploração predatória de madeira, algum tipo de fogo e abertura de estradas. Podem estar no início do processo de desmatamento. E boa parte dessa devastação ocorre em terras que não são propriedade privada, mas sim florestas públicas. Essa destruição foi impulsionada, principalmente, pela falta de fiscalização, grilagem e avanço de áreas de pastagem.

Mesmo as pessoas que conseguem estabelecer a relação entre a pecuária e o desmatamento escorregam em algumas desinformações. A primeira delas é que o desmatamento ocorreria para plantio de ração para o gado. “Eu acho que acabam desmatando mais na produção do alimento do animal”, disse uma estudante. A ideia a qual ela se refere é que desmataria-se para plantio de ração – baseada em outras culturas, como milho e soja, como acontece em países onde o gado vive confinado. Na Amazônia, isso não existe. O gado é criado pastando diretamente o capim plantado.

Pouca gente sabe que um  dos principais fatores que levam ao desmatamento da Amazônia é o roubo de terras públicas. A região é vista historicamente como território a ser ocupado e explorado e não para ser desenvolvido. Hoje, o maior obstáculo para uma pecuária produtiva e lucrativa na região amazônica é a competição desigual com a criação de gado para grilagem. Quem adota técnicas de melhoria do solo para aumentar a concentração de cabeças de gado na propriedade legal precisa competir com outros que plantam capim sobre as cinzas nutritivas de florestas públicas invadidas e queimadas ilegalmente.

Na prática, a cadeia da grilagem na Amazônia funciona da seguinte maneira: invasores ocupam florestas públicas para roubar madeira, ouro e fazer especulação imobiliária. Na tentativa de maquiar os crimes e regularizar uma terra roubada, usam gado para preencher a área invadida. Eles espalham os bois o máximo possível, ocupando o espaço desmatado. O gado criado nessas áreas ainda entra na cadeia de produção e passa a ser vendido para grandes frigoríficos do Brasil, sujando a imagem da pecuária nacional e internacionalmente. E financiando os criminosos.

Neste sentido, muitos participantes da feira entendem que o desmatamento está associado a uma parte da pecuária, mas não conseguem ver uma alternativa. Para eles, é necessário abrir espaço novo para mais pastos e atender à crescente demanda. “O boi precisa de muito espaço para crescer e, por isso, usam da má fé para desmatar e abrir pasto. Muitas empresas são conscientes, mas muitas outras fazem ilegalmente, e é onde acontece aqueles grandes buracos na floresta amazônica”, disse a nutricionista Diva.

“Não tenho um conhecimento total [sobre o assunto], mas acho que uma parte sempre tem relação com a outra, porque a América Latina é um continente posicionado como um dos principais provedores de alimento do mundo e para criar proteína animal precisa-se de espaço”, disse o gerente de uma empresa que atua na cadeia da carne no Brasil e países vizinhos.

“Existe uma relação muito incisiva, porém quando pensamos que os animais precisam de rações ali, isso traz uma demanda por mais espaço e, para isso, acaba-se desmatando. A consequência disso é a retirada de algumas árvores da região amazônica”, disse o sócio de uma grande corporação que investe em empresas da cadeia da carne.

Para alguns, o desafio não é ambiental, mas garantir a alimentação de todo o planeta. “A indústria da carne não está aqui para destruir nada, mas sim alimentar o mundo. Hoje o Brasil é o segundo do mundo em produção de proteína animal e abastece praticamente o mundo inteiro, estamos enquadrados em toda classe de exportação de proteína”, disse o gerente da América Latina de uma empresa que atua no setor da carne.

“Temos um crescimento muito grande da população mundial, chegando a quase 8 bilhões de pessoas e todas precisam de alimento. O problema raiz, ao meu ver, é o crescimento exponencial da população do mundo. Acho que o desmatamento é uma preocupação do setor sim, mas não tem como, tampouco ideias, de como frear o consumo, porque é da nossa natureza [comer carne]”, disse o gerente de uma empresa que atua na cadeia da carne no Brasil e países vizinhos.

Já para o sócio de uma grande corporação que investe em empresas da cadeia da carne o desafio ambiental é “não deixar que nós, consumidores, tenhamos carnes de baixa qualidade na mesa, o que tem muito a ver com o tratamento que é dado aos animais”.

Além disso, quem gostaria de ver uma solução para o problema acredita que a saída está necessariamente na redução do consumo de carne. “Acredito que o maior desafio ambiental da cadeia é fazer com que a população em geral diminua o consumo de carne, pelo menos duas vezes na semana.

Não precisa tirar toda a carne, mas dá para diminuir e equilibrar. Hoje em dia esse assunto está na mídia, então é possível. Como consumidora, eu acho que essa é uma preocupação para algumas empresas, mas infelizmente ainda não é para a maioria”, defende uma participante da feira.

Estudos mostram que não há relação causal entre o aumento na demanda de comida ou carne e o desmatamento. E que é possível produzir toda carne do mundo para atender a demanda dos brasileiro e para exportar sem desmatar. Ao contrário, reduzindo a área usada para pastagens hoje.

A própria Tereza Cristina, quando era ministra de uma gestão que não ficou famosa pela preocupação ambiental, declarou, em 2020, que: “A intensificação da produção de comida no Brasil para atender mercados internacionais é uma forma de otimizar o uso global de recursos naturais. Tudo isso sem ser necessário derrubar uma árvore sequer”.

Ao contrário do que muitos pensam, o Brasil não precisa desmatar mais para dar conta da crescente demanda por carne. Do total de 86 milhões de hectares desmatados, a pecuária ocupa 63 milhões de hectares, 73% do total. A segunda maior porção das áreas desmatadas – 15 milhões de hectares – é uma vegetação secundária que surge depois do abandono ou degradação dessas áreas pela pecuária extensiva. Estudo do projeto Amazônia 2030 mostra que essa imensa área de 84 a 86 milhões de hectares já desmatada pode abrigar toda a demanda projetada pelo próprio Ministério da Agricultura do governo brasileiro para a produção agropecuária até 2030.

Com um aumento de produtividade na pecuária, será possível atender essa demanda com menos área de pastagens, deixando um total de 37 milhões de hectares livres. Ou seja, ainda sobrariam áreas para outros usos, sobretudo para o promissor mercado de restauração florestal (plantio de árvores nativas em áreas desmatadas para recuperar a floresta original).

A diversidade de entendimentos mostra o quanto ainda é preciso fazer um esforço para levar todo o setor a compreender a natureza do desafio. Isso é fundamental para a defesa da própria agricultura do Brasil. Principalmente da pecuária, que é importante para nossa economia, empregos e exportação.

O agro faz parte da nossa história e de nossa identidade. Hoje o agronegócio está ligado é relevante para nossas exportações e para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Por isso, é importante estar a par do desafio e enfrentá-lo de verdade. Ao contrário do que muitos pensam, isso tornará o agro brasileiro mais forte.

COM CAMILA CECÍLIO

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Por Alexandre Mansur

No início dos anos noventa, se alguém fosse às ruas perguntar para as pessoas se o desmatamento que começava a crescer desenfreadamente no Brasil estava relacionado à pecuária praticada na época, certamente a resposta seria não. Três décadas depois, essa relação é bastante direta e estabelecida. Especialmente na Amazônia Legal, onde estão 4 de cada 10 das mais de 224 milhões de cabeças de gado do país, que hoje é o maior exportador de carne bovina do mundo. Pastos para o gado cobrem cerca de 90% da área total desmatada e mais de 90% do desmatamento total é ilegal, segundo dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). Ou seja, a carne e os subprodutos que saem da região, comercializados em território nacional e em outros países, podem estar relacionados à destruição da floresta amazônica.

Mas, para quem é ou transita pela cadeia da carne, qual é a relação entre o desmatamento da Amazônia e a pecuária? Essa foi a principal pergunta que fizemos a participantes da TecnoCarne, a maior feira do setor de proteína do Brasil, realizada na última semana de junho, em São Paulo.

Com palestras e estandes cheios, o evento reuniu visitantes de todos os tipos, desde consumidores de carne a curiosos sobre as novas tecnologias do setor e empresários do ramo. Aproveitamos a movimentação para entender como as pessoas que circulam por este universo enxergam espontaneamente o desafio ambiental da pecuária em relação ao desmatamento da floresta amazônica. As respostas delas são um bom termômetro do que o próprio setor pensa sobre o assunto.

Diante de tantas evidências, alguns participantes da feira reconhecem que desmatamento na Amazônia e pecuária estão, de fato, diretamente associados. “Existe uma relação entre o desmatamento na Amazônia e a pecuária”, disse a nutricionista Diva Rauen. A estudante Victória Gomes, complementa: “Desmatam a floresta e fazem uma produção em massa para criar gado”.

Há também quem compreenda a gravidade da questão para o próprio setor. O churrasqueiro Alexandre Minamitani levanta, por exemplo, um ponto ligado à rastreabilidade da carne. Hoje em dia muita gente tem falado de sustentabilidade, muito por conta dos movimentos vegano e vegetariano esse assunto está vindo mais à toa. Antigamente esse não era um assunto tão relevante e hoje percebo que a sociedade está mais atenta. Infelizmente, não vejo muita gente comentando sobre isso. As pessoas compram carne e não sabem a procedência, não sabem de onde vem, nem o que o animal passou”, disse.

No Brasil, as empresas da cadeia de carne bovina, principalmente as que estão em atividade na Amazônia, são resistentes em revelar informações das etapas de produção, embora a região concentre 43% do rebanho bovino do país, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Um sinal disso é  o resultado do primeiro ano do Radar Verde, primeiro indicador de transparência da cadeia produtiva da carne.

Por outro lado, apesar das evidências, vários entrevistados na feira afirmaram que não existiria relação relevante entre desmatamento e pecuária. “É um equívoco enorme [relacionar desmatamento na Amazônia e pecuária], porque é uma mata que se regenera. Na verdade o que é existe é a falta do pessoal pegar um voo São Paulo - Miami (EUA) durante o dia e ver o tamanho que a Amazônia é, você fica simplesmente sobrevoando, no mínimo, 1h30 de pura mata. Hoje em dia, é bom defender uma causa como essa na Europa e em alguns outros países, mas aqui isso não é verdade”, disse o gerente da América Latina de uma empresa que atua no setor da carne. “Se olharmos a parte legal, uma coisa não tem relação com a outra”, disse um pesquisador da cadeia.

Alguns até afirmam que o assunto não passa de “uma polêmica midiática”. “Tem muito de uma mídia jogando contra [a pecuária]. Acho que tem outros fatores de desmatamento, vejo que até o tráfico de drogas tem a ver com isso, então não é só a pecuária que está contribuindo com isso, eu acredito que não. Sem falar da agricultura, que está desmatando para ter mais área para plantio”, disse um cozinheiro que assistia a uma palestra sobre a cadeia.

C erca de 21% da Amazônia já foi desmatada, uma área de mais de 830 mil km2, equivalente quase ao tamanho da Alemanha e da França juntas. Pelo menos dois terços da cobertura florestal remanescente - aquela que se vê do avião - já não é mais floresta intacta. São áreas que tiveram exploração predatória de madeira, algum tipo de fogo e abertura de estradas. Podem estar no início do processo de desmatamento. E boa parte dessa devastação ocorre em terras que não são propriedade privada, mas sim florestas públicas. Essa destruição foi impulsionada, principalmente, pela falta de fiscalização, grilagem e avanço de áreas de pastagem.

Mesmo as pessoas que conseguem estabelecer a relação entre a pecuária e o desmatamento escorregam em algumas desinformações. A primeira delas é que o desmatamento ocorreria para plantio de ração para o gado. “Eu acho que acabam desmatando mais na produção do alimento do animal”, disse uma estudante. A ideia a qual ela se refere é que desmataria-se para plantio de ração – baseada em outras culturas, como milho e soja, como acontece em países onde o gado vive confinado. Na Amazônia, isso não existe. O gado é criado pastando diretamente o capim plantado.

Pouca gente sabe que um  dos principais fatores que levam ao desmatamento da Amazônia é o roubo de terras públicas. A região é vista historicamente como território a ser ocupado e explorado e não para ser desenvolvido. Hoje, o maior obstáculo para uma pecuária produtiva e lucrativa na região amazônica é a competição desigual com a criação de gado para grilagem. Quem adota técnicas de melhoria do solo para aumentar a concentração de cabeças de gado na propriedade legal precisa competir com outros que plantam capim sobre as cinzas nutritivas de florestas públicas invadidas e queimadas ilegalmente.

Na prática, a cadeia da grilagem na Amazônia funciona da seguinte maneira: invasores ocupam florestas públicas para roubar madeira, ouro e fazer especulação imobiliária. Na tentativa de maquiar os crimes e regularizar uma terra roubada, usam gado para preencher a área invadida. Eles espalham os bois o máximo possível, ocupando o espaço desmatado. O gado criado nessas áreas ainda entra na cadeia de produção e passa a ser vendido para grandes frigoríficos do Brasil, sujando a imagem da pecuária nacional e internacionalmente. E financiando os criminosos.

Neste sentido, muitos participantes da feira entendem que o desmatamento está associado a uma parte da pecuária, mas não conseguem ver uma alternativa. Para eles, é necessário abrir espaço novo para mais pastos e atender à crescente demanda. “O boi precisa de muito espaço para crescer e, por isso, usam da má fé para desmatar e abrir pasto. Muitas empresas são conscientes, mas muitas outras fazem ilegalmente, e é onde acontece aqueles grandes buracos na floresta amazônica”, disse a nutricionista Diva.

“Não tenho um conhecimento total [sobre o assunto], mas acho que uma parte sempre tem relação com a outra, porque a América Latina é um continente posicionado como um dos principais provedores de alimento do mundo e para criar proteína animal precisa-se de espaço”, disse o gerente de uma empresa que atua na cadeia da carne no Brasil e países vizinhos.

“Existe uma relação muito incisiva, porém quando pensamos que os animais precisam de rações ali, isso traz uma demanda por mais espaço e, para isso, acaba-se desmatando. A consequência disso é a retirada de algumas árvores da região amazônica”, disse o sócio de uma grande corporação que investe em empresas da cadeia da carne.

Para alguns, o desafio não é ambiental, mas garantir a alimentação de todo o planeta. “A indústria da carne não está aqui para destruir nada, mas sim alimentar o mundo. Hoje o Brasil é o segundo do mundo em produção de proteína animal e abastece praticamente o mundo inteiro, estamos enquadrados em toda classe de exportação de proteína”, disse o gerente da América Latina de uma empresa que atua no setor da carne.

“Temos um crescimento muito grande da população mundial, chegando a quase 8 bilhões de pessoas e todas precisam de alimento. O problema raiz, ao meu ver, é o crescimento exponencial da população do mundo. Acho que o desmatamento é uma preocupação do setor sim, mas não tem como, tampouco ideias, de como frear o consumo, porque é da nossa natureza [comer carne]”, disse o gerente de uma empresa que atua na cadeia da carne no Brasil e países vizinhos.

Já para o sócio de uma grande corporação que investe em empresas da cadeia da carne o desafio ambiental é “não deixar que nós, consumidores, tenhamos carnes de baixa qualidade na mesa, o que tem muito a ver com o tratamento que é dado aos animais”.

Além disso, quem gostaria de ver uma solução para o problema acredita que a saída está necessariamente na redução do consumo de carne. “Acredito que o maior desafio ambiental da cadeia é fazer com que a população em geral diminua o consumo de carne, pelo menos duas vezes na semana.

Não precisa tirar toda a carne, mas dá para diminuir e equilibrar. Hoje em dia esse assunto está na mídia, então é possível. Como consumidora, eu acho que essa é uma preocupação para algumas empresas, mas infelizmente ainda não é para a maioria”, defende uma participante da feira.

Estudos mostram que não há relação causal entre o aumento na demanda de comida ou carne e o desmatamento. E que é possível produzir toda carne do mundo para atender a demanda dos brasileiro e para exportar sem desmatar. Ao contrário, reduzindo a área usada para pastagens hoje.

A própria Tereza Cristina, quando era ministra de uma gestão que não ficou famosa pela preocupação ambiental, declarou, em 2020, que: “A intensificação da produção de comida no Brasil para atender mercados internacionais é uma forma de otimizar o uso global de recursos naturais. Tudo isso sem ser necessário derrubar uma árvore sequer”.

Ao contrário do que muitos pensam, o Brasil não precisa desmatar mais para dar conta da crescente demanda por carne. Do total de 86 milhões de hectares desmatados, a pecuária ocupa 63 milhões de hectares, 73% do total. A segunda maior porção das áreas desmatadas – 15 milhões de hectares – é uma vegetação secundária que surge depois do abandono ou degradação dessas áreas pela pecuária extensiva. Estudo do projeto Amazônia 2030 mostra que essa imensa área de 84 a 86 milhões de hectares já desmatada pode abrigar toda a demanda projetada pelo próprio Ministério da Agricultura do governo brasileiro para a produção agropecuária até 2030.

Com um aumento de produtividade na pecuária, será possível atender essa demanda com menos área de pastagens, deixando um total de 37 milhões de hectares livres. Ou seja, ainda sobrariam áreas para outros usos, sobretudo para o promissor mercado de restauração florestal (plantio de árvores nativas em áreas desmatadas para recuperar a floresta original).

A diversidade de entendimentos mostra o quanto ainda é preciso fazer um esforço para levar todo o setor a compreender a natureza do desafio. Isso é fundamental para a defesa da própria agricultura do Brasil. Principalmente da pecuária, que é importante para nossa economia, empregos e exportação.

O agro faz parte da nossa história e de nossa identidade. Hoje o agronegócio está ligado é relevante para nossas exportações e para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Por isso, é importante estar a par do desafio e enfrentá-lo de verdade. Ao contrário do que muitos pensam, isso tornará o agro brasileiro mais forte.

COM CAMILA CECÍLIO

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