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Por que precisamos engajar nossos stakeholders nas políticas climáticas

Caminhos a se percorrer para construir o Primeiro Balanço Global da forma mais inclusiva

Um estudo publicado pela COPPE-UFRJ, facilitado pelo CDP Latin America, mostra que para sermos uma nação neutra em gases de efeito estufa até 2050, precisamos evitar o despejo de cerca de 21 bilhões de toneladas de CO2 na atmosfera (KARRASTOCK/Getty Images)
Um estudo publicado pela COPPE-UFRJ, facilitado pelo CDP Latin America, mostra que para sermos uma nação neutra em gases de efeito estufa até 2050, precisamos evitar o despejo de cerca de 21 bilhões de toneladas de CO2 na atmosfera (KARRASTOCK/Getty Images)
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Ideias renováveis

Publicado em 26 de julho de 2022 às, 11h38.

Última atualização em 11 de agosto de 2022 às, 15h08.

Mensagens do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC, em inglês) alertam que a inação trará consequências negativas para os ecossistemas, economia e humanidade. Instrumentos jurídicos internacionais, políticas públicas e ações do setor privado são colocados à prova frente ao desafio de reduzir as emissões de gases de efeito estufa. A adoção do Acordo de Paris e a finalização do seu Livro de Regras na última COP 26 (2021) ilustram a força do multilateralismo como um aliado estratégico para enfrentar o aquecimento global, mas como podemos formular melhores políticas públicas, baseadas em dados concretos e no melhor conhecimento científico disponível?

Em 2022 foi iniciado o Primeiro Balanço Global (Global Stocktake, GST em inglês) - processo que faz parte do Acordo de Paris -, cujo resultado será apresentado na COP 28, em 2023. O Global Stocktake convida a reflexão coletiva sobre o desempenho mundial a respeito de mitigação, adaptação, financiamento e perdas e danos. Essa avaliação precisa ser inclusiva, reunindo representantes de cidades, estados e empresas.

Como isso afetará o Brasil? Os resultados dessa avaliação coletiva ajudarão a avaliarmos políticas climáticas tal como outras ações, direcionando-as à implementação de medidas de mitigação e adaptação mais amplas. Um estudo publicado pela COPPE-UFRJ, facilitado pelo CDP Latin America, mostra que para sermos uma nação neutra em gases de efeito estufa até 2050, precisamos evitar o despejo de cerca de 21 bilhões de toneladas de CO2 na atmosfera. A título de comparação, o Brasil emitiu aproximadamente 2 bilhões de toneladas de CO2 equivalente no ano de 2020. O processo do Global Stocktake lançará luz nas lacunas e nas oportunidades brasileiras para cumprir sua trajetória de descarbonização.

Os exercícios analíticos e cálculos para Global Stocktake serão complexos, visto que englobam os mais de 190 países signatários do Acordo de Paris, e demandarão uma coordenação estratégica entre países, estados, cidades e empresas para serem adaptados de acordo com cada realidade. Essa adaptação dos resultados gerais do Global Stocktake para o cenário regional dos países será essencial para conduzi-los pelos caminhos mais estratégicos e garantir que eles aumentem a quantidade e a qualidade das ações de mitigação, adaptação e redução das perdas e danos do Brasil, garantindo a conexão dessas ações com as metas globais.

Há duas formas que os países podem adotar para que suas considerações e dados sejam incluídos no Global Stocktake, liderado pela UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, sigla em inglês): (1) por meio dos Relatórios Bienais de Transparência - instrumento que os signatários do Acordo de Paris enviarão para a UNFCCC, e será considerado nas análises técnicas; e (2) pelo portal de informações do GST. O portal do GST também permite que empresas, governos subnacionais e sociedade civil submetam contribuições demonstrando o valor da construção de uma visão que leva em consideração as propostas dos atores que também estão na linha de frente da implementação de ações climáticas.

A participação coletiva – países, governos subnacionais e atores da economia - permitirá um processo inclusivo. O Global Stocktake é uma oportunidade única para analisarmos a trajetória do Brasil frente aos compromissos do Acordo de Paris. Ao integrar de forma rigorosa as mensagens finais do GST em seu processo de governança climática nacional, tanto o Brasil como seus atores poderão fortalecer a implementação e reforçar a ambição de ações climáticas permitindo ao país a retomar a liderança mundial nessa arena.

*Por Miriam Garcia, Gerente Sênior de Políticas Públicas do CDP Latin America, e por Antonio Ouro, Assistente de Políticas Públicas)