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É chegada a oportunidade de retomar o vínculo perdido entre as agendas de clima e biodiversidade

2022 terá duas conferências internacionais que podem alavancar mudanças sem precedentes para deter as mudanças climáticas e preservar a biodiversidade

Na última Conferência sobre Mudança do Clima da UNFCCC (COP-26, ocorrida no Reino Unido), reconheceu-se mais explicitamente a interconexão entre a crise climática e a crise de biodiversidade. Para a Conferência no Egito, que acontecerá em novembro, espera-se que esse impulso à natureza seja mantido (OLI SCARFF/AFP/Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 25 de outubro de 2022 às 11h27.

Já existem evidências contundentes sobre a interdependência entre clima, ecossistemas, biodiversidade e sociedades humanas. Isso sinaliza a importância de combater esses riscos de forma integrada. No mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC, do inglês), órgão das Nações Unidas que compila conhecimento científico global sobre o tema, são expostas diversas dessas evidências.

Apesar de a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, do inglês) e a Convenção Sobre Diversidade Biológica (CDB) terem sido criadas na mesma ocasião, os regimes internacionais caminharam de forma apartada.  Somente nos últimos anos a natureza recebeu destaque no debate formal sobre mudança do clima.

Na última Conferência sobre Mudança do Clima da UNFCCC (COP-26, ocorrida no Reino Unido), reconheceu-se mais explicitamente a interconexão entre a crise climática e a crise de biodiversidade. Para a Conferência no Egito, que acontecerá em novembro, espera-se que esse impulso à natureza seja mantido. Os preparativos para a Conferência têm despertado atenção para a importância de metas de mitigação e adaptação alinhadas aos benefícios sociais e de biodiversidade.

Portanto, é chegado o momento de países e atores não estatais se apoderarem das evidências do IPCC para definir metas climáticas que sejam não somente alinhadas a um futuro neutro em carbono, mas também positivas para a natureza. Há iniciativas que promovem mudanças de paradigma, mas é preciso que nos mobilizemos na escala e velocidade necessárias, para chegarmos a um mundo em que a natureza é restaurada e se regenera, em vez de declinar.

Quando se fala do Brasil, diversas são as conexões. Diferente de outros países, a maior parte das nossas emissões de gases de efeito estufa (GEE) vem do setor de uso da terra (44%). Fortemente associado ao desmatamento, esse dado mostra o potencial da natureza para alcançarmos os compromissos de mitigação e, ao mesmo tempo, de proteção da biodiversidade.

Em um estudo recente publicado pelo CDP, chegou-se à conclusão de que são particularidades como essa que fazem com que várias das nossas políticas federais e subnacionais para o clima já incorporem, mesmo que implicitamente, abordagens relacionadas à biodiversidade. Um exemplo é o alinhamento a Soluções Baseadas na Natureza (NbS, do inglês), que propõem proteger os ecossistemas ao mesmo tempo em que se pensa resiliência, bem-estar humano e desafios socioeconômicos.

Por tabela, os formuladores de políticas públicas têm parte do trabalho de casa feito. É preciso incorporar, em âmbito estratégico e intencionalmente, a biodiversidade às políticas de clima, tendo em vista essas abordagens de referência.

A forma como a COP-27 tratará a natureza deverá influenciar a próxima Conferência sobre Biodiversidade da CBD (COP-15), que acontecerá no mês de dezembro, em Montreal, e tem como principal desafio aprovar o Marco Global da Biodiversidade até 2030. Trata-se de uma oportunidade única de construímos uma agenda ambiental com uma lente integrada e equilibrada para os dois maiores desafios ambientais da humanidade: mudança do clima e perda da biodiversidade.

POR MIRIAM GARCIA (Gerente Sênior de Políticas Públicas do CDP) E REBECA ROCHA (Analista de Políticas Públicas e Finanças Sustentáveis  do CDP)

Já existem evidências contundentes sobre a interdependência entre clima, ecossistemas, biodiversidade e sociedades humanas. Isso sinaliza a importância de combater esses riscos de forma integrada. No mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC, do inglês), órgão das Nações Unidas que compila conhecimento científico global sobre o tema, são expostas diversas dessas evidências.

Apesar de a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, do inglês) e a Convenção Sobre Diversidade Biológica (CDB) terem sido criadas na mesma ocasião, os regimes internacionais caminharam de forma apartada.  Somente nos últimos anos a natureza recebeu destaque no debate formal sobre mudança do clima.

Na última Conferência sobre Mudança do Clima da UNFCCC (COP-26, ocorrida no Reino Unido), reconheceu-se mais explicitamente a interconexão entre a crise climática e a crise de biodiversidade. Para a Conferência no Egito, que acontecerá em novembro, espera-se que esse impulso à natureza seja mantido. Os preparativos para a Conferência têm despertado atenção para a importância de metas de mitigação e adaptação alinhadas aos benefícios sociais e de biodiversidade.

Portanto, é chegado o momento de países e atores não estatais se apoderarem das evidências do IPCC para definir metas climáticas que sejam não somente alinhadas a um futuro neutro em carbono, mas também positivas para a natureza. Há iniciativas que promovem mudanças de paradigma, mas é preciso que nos mobilizemos na escala e velocidade necessárias, para chegarmos a um mundo em que a natureza é restaurada e se regenera, em vez de declinar.

Quando se fala do Brasil, diversas são as conexões. Diferente de outros países, a maior parte das nossas emissões de gases de efeito estufa (GEE) vem do setor de uso da terra (44%). Fortemente associado ao desmatamento, esse dado mostra o potencial da natureza para alcançarmos os compromissos de mitigação e, ao mesmo tempo, de proteção da biodiversidade.

Em um estudo recente publicado pelo CDP, chegou-se à conclusão de que são particularidades como essa que fazem com que várias das nossas políticas federais e subnacionais para o clima já incorporem, mesmo que implicitamente, abordagens relacionadas à biodiversidade. Um exemplo é o alinhamento a Soluções Baseadas na Natureza (NbS, do inglês), que propõem proteger os ecossistemas ao mesmo tempo em que se pensa resiliência, bem-estar humano e desafios socioeconômicos.

Por tabela, os formuladores de políticas públicas têm parte do trabalho de casa feito. É preciso incorporar, em âmbito estratégico e intencionalmente, a biodiversidade às políticas de clima, tendo em vista essas abordagens de referência.

A forma como a COP-27 tratará a natureza deverá influenciar a próxima Conferência sobre Biodiversidade da CBD (COP-15), que acontecerá no mês de dezembro, em Montreal, e tem como principal desafio aprovar o Marco Global da Biodiversidade até 2030. Trata-se de uma oportunidade única de construímos uma agenda ambiental com uma lente integrada e equilibrada para os dois maiores desafios ambientais da humanidade: mudança do clima e perda da biodiversidade.

POR MIRIAM GARCIA (Gerente Sênior de Políticas Públicas do CDP) E REBECA ROCHA (Analista de Políticas Públicas e Finanças Sustentáveis  do CDP)

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