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Como vamos viajar de agora em diante?

Grandes tendências para as viagens durante a pandemia (e depois dela) mostram uma valorização da natureza

Nos momentos de descontração, tendemos a ser mais lógicos ao traçar o roteiro e calcular os gastos da viagem  (Pexels/Divulgação)
Nos momentos de descontração, tendemos a ser mais lógicos ao traçar o roteiro e calcular os gastos da viagem (Pexels/Divulgação)
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Ideias renováveis

Publicado em 26 de junho de 2020 às, 17h03.

Última atualização em 26 de junho de 2020 às, 19h59.

A pandemia de covid-19 deixou quase todo mundo preso em casa. Fronteiras foram fechadas. Vistos deixaram de ser emitidos. Os aeroportos esvaziaram. As estradas também. As viagens de negócios foram adiadas. Viagens de férias, então, nem se fala.

Agora, depois de períodos de quarentena, alguns países, cidades e estados começam a flexibilizar as regras de contenção do contágio. Outros devem fazer o mesmo em julho. Essa retomada depende de um possível retorno da curva de contaminação, que pode levar a medidas restritivas de novo.

Tudo ainda é muito incerto. Mas já sabemos algumas coisas. É razoável supor que teremos que lidar com o vírus circulando por muito tempo ainda. Pelo menos até uma vacina ou tratamentos que reduzem bastante o risco de morte.

Até lá, a sociedade vai aprender a conviver com a realidade e reduzir o risco de contágio em qualquer atividade. Isso significa retomar algumas rotinas novos protocolos de segurança. Isso inclui as viagens.

Algumas tendências vão tomando forma. Muitas delas representam cuidados que serão adquiridos. E outras são novos formatos para as viagens. A seguir, algumas tendências:

Reforço nos protocolos de segurança - Essa já é uma exigência necessária para garantir a saúde tanto dos viajantes quanto dos colaboradores dos serviços de turismo. E não estamos falando apenas dos aeroportos e rodoviárias, mas de todos os locais que recebem viajantes.

Oferta de álcool em gel em locais compartilhados, uso de máscaras em áreas públicas, mais higienização e distanciamento entre as pessoas estão entre as medidas já adotadas por hotéis que estão retomando os serviços. As medidas acima devem deixar de ser diferenciais para serem básicas.

Mas outras opções podem ser um diferencial. A rede internacional Selina por exemplo, que tem hoteis em vários países e no Brasil em cidades como São Paulo e Rio, anunciou novos protocolos para estadia em suas propriedades. Entre eles um novo processo de check-in sem contato, limpeza das bagagens e entrega em envelope lacrado de chaves magnéticas e pulseiras de identificação.

Além disso, haverá limitação de espaços compartilhados a 50% de sua capacidade e uma nova divisão nos quartos compartilhados, privatizando alguns a grupos viajando juntos. Outros hotéis estão seguindo nessa linha. Isso é uma grande oportunidade para o turismo de natureza. A Costa do Cacau, na Bahia, é uma das regiões brasileiras que está investindo pesado nessa possibilidade.

Lá existem diversas opções de passeios ao ar livre, que podem ser realizadas em contato com a natureza e sem aglomerações. O Txai Resort Itacaré, um dos resorts mais famosos da região, já anunciou a reabertura de suas atividades, com medidas de segurança reforçadas, como a distância de 4 metros entre uma acomodação e outra e passeios exclusivos.

O hóspede poderá ainda informar o seu estado de saúde e histórico de viagens para um serviço ainda mais personalizado. Pode apostar num aumento de valor dos ambientes naturais saudáveis. De mais geração de renda para a manutenção desses lugares ambientalmente sadios.

Readequação de espaços - A rede Ibis está transformado boa parte dos hotéis em escritórios e espaços de convivência, como coworking. Funciona assim: as pessoas podem utilizar o conforto, a segurança, a rede wifi e as facilidades do hotel para trabalhar e realizar encontros de negócios, respeitando as normas de distanciamento, mesmo sem serem hóspedes.

Já em funcionamento na unidade de Interlagos, em São Paulo, a intenção é expandir a ideia para outros hotéis da rede. Os hotéis da Accor também já estão se adaptando para popularizar o que eles chamam de room-office. Ou seja, são quartos adaptados para funcionar como escritórios e acolher quem não quer ou não pode transformar um cômodo da casa em local de trabalho.

Em São Paulo, já é possível alugar quartos que, no lugar de camas, têm mesas, cadeiras, sofá, máquina de café e internet de alta velocidade. As refeições também podem ser consumidas no próprio room-office, como um serviço de quarto.

Menos viagens de negócio e mais de lazer - Depois de todo mundo ser obrigado no susto a transformar as reuniões presenciais em remotas, o tabu da internet foi quebrado. E isso não tem volta. Estamos descobrindo que várias viagens longas e cansativas para ter uma reunião ou outra eram desnecessárias. Esse tempo poderá ser usado para viagens de lazer.

Mesmo que você trabalhe remotamente do lugar para onde viajou. Em vez de viajar de sua cidade para um destino tedioso por uma reunião de trabalho, você vai para um lugar agradável e faz a reunião remotamente de lá. É uma oportunidade de conhecer destinos pouco explorados ou que você sempre quis mas nunca teve tempo. Isso envolve mais viagens para destinos de natureza.

Viagens de lazer também em dias úteis - As famílias viajavam muito por lazer principalmente nos fins de semana, feriados e férias. Agora, com o trabalho e parte da educação remotos fica mais viável passar uma semana inteira num hotel fazenda, desde que ele tenha boa internet.

Hotéis dedicados a spa, meditação, atividade ao ar livre já estão criando espaços dedicados à jornada de trabalho, pois os públicos A e B, que não registraram prejuízos financeiros em razão da crise, terão novas opções de trabalho remoto. Nesses locais, os hóspedes terão um local para trabalhar e poderão curtir atividades individualizadas ou respeitando o distanciamento, entre uma reunião e outra.

Para os hotéis é bom porque melhora a taxa de ocupação ao longo de todos os dias do ano. Também reduz o congestionamento de sexta à noite ou da volta do fim de semana, diluindo o trânsito.

Locais com áreas abertas estão em vantagem e sabem disso. Localizado em uma área de preservação ambiental de Mata Atlântica, o Hotel Fazenda Dona Carolina, em Atibaia, anunciou várias medidas de segurança em sua robusta estrutura para atrair famílias nesse momento.

Entre elas, atividades para as crianças, enquanto os pais trabalham na dependências do hotel. Além disso, para  atender quem não abre mão de manter a rotina de exercícios físicos mesmo estando fora de casa, a academia vai funcionar, porém com horário agendado, para que  somente hóspedes da mesma família estão autorizados a desfrutarem dos equipamento ao mesmo tempo.

Os cinco restaurantes do local também devem reabrir respeitando a distância entre as mesas de 1,50 metros, como recomendam as autoridades.

Espaço para estudantes - As escolas e universidades serão obrigados a passar meses com parte importante da educação acontecendo online. Isso vai revelar o potencial da tecnologia para flexibilizar os locais, horários e dias de estudo. Escolas e universidade provavelmente ficarão com a maior parte das atividades online até o fim do ano letivo de 2020 e talvez um pouco além.

É claro que boa parte das atividades presenciais serão retomadas quando a pandemia passar, mas mesmo depois disso manteremos as possibilidades criadas pela educação online. Isso permite que as família viagem com os filhos durante os dias letivos. Já há hotéis e pousadas começando a oferecer espaços específicos para jovens estudarem enquanto os pais trabalham ou fazem outras atividades. Na natureza, é claro.

Aumento da procura por destinos regionais - Alguns levantamentos já apontam que a tendência neste ano é de que o público procure mais por destinos regionais, locais de contato com a natureza e que propiciem momentos em família.

De acordo com uma pesquisa do Laboratório de Inteligência de Negócios em Viagens, o turismo regional e rodoviário será o primeiro a retomar, seguindo o comportamento das pessoas de evitarem viagens longas. As reservas para viagens domésticas já vêm crescendo em países como Estados Unidos, Alemanha, Portugal e Coreia do Sul e a maior demanda é por destinos dentro de um raio de 320 quilômetros de onde residem os usuários, que podem, assim, priorizar as viagens de carro.

Isso aumenta as oportunidades para comunidades e empreendedores locais que dependem da renda do turismo para manter seu patrimônio natural.

Valorização da natureza e do turismo de experiência - Estamos presos em apartamentos, carentes de espaços naturais. Enquanto as cidades - com muita presença humana representam risco de contágio - a natureza é segura. Além disso, estamos passando coletivamente por um período de muita tensão e perdas.

Nesses momentos difíceis, ir para um ambiente natural ajuda a curar as feridas da alma. Porque você vivencia o ciclo natural, das folhas e bichos que caem e morrem para dar origem à uma nova vida. Isso vai provocar uma valorização do turismo em áreas naturais, como as de praias. O turismo de experiência é outra tendência para o pós-pandemia, segundo uma análise feita pela consultoria Lab Turismo para o Sebrae.

“Depois desta crise, as pessoas valorizarão mais as relações humanas. Vão querer passar momentos juntos de seus familiares e buscar saúde e bem-estar em ambientes naturais”, aponta afirma Emerson Antonio de Oliveira, coordenador de Projetos Ambientais da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, ressaltando que o turismo em áreas naturais é uma das agendas estratégicas de atuação da Fundação Grupo Boticário devido ao potencial de promover desenvolvimento socioeconômico ancorado à proteção ambiental.

Boa parte dessas transformações podem ter vindo para ficar e algumas são, inclusive, muito bem-vindas. A pandemia vai passar. Mas a forma como viajamos deve mudar para sempre.

(COM ANGÉLICA QUEIROZ)