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Como o desmatamento da Amazônia ameaça a matriz energética nacional e o seu bolso

Perda florestal impacta não somente a produtividade de usinas hidrelétricas próximas, mas também a estrutura socioeconômica do país

Deforested land for cattle near Xinguara, Para state, Brazil, on Wednesday, Oct. 6, 2021. Six European retail groups, including Sainsbury's in the United Kingdom and Carrefour in Belgium, are restricting Brazilian beef purchases due to new findings linking cattle production to deforestation in the Amazon, Cerrado and Pantanal. Photographer: Jonne Roriz/Bloomberg via Getty Images (Jonne Roriz/Getty Images)

Deforested land for cattle near Xinguara, Para state, Brazil, on Wednesday, Oct. 6, 2021. Six European retail groups, including Sainsbury's in the United Kingdom and Carrefour in Belgium, are restricting Brazilian beef purchases due to new findings linking cattle production to deforestation in the Amazon, Cerrado and Pantanal. Photographer: Jonne Roriz/Bloomberg via Getty Images (Jonne Roriz/Getty Images)

AM

Publicado em 3 de fevereiro de 2025 às 17h03.

Aquilo que os olhos não veem, o bolso sente. Mesmo que a destruição do bioma Amazônia não esteja no seu campo de visão, os efeitos negativos ainda chegam até você, refletindo - inclusive - nos seus gastos. Isso porque, a floresta cumpre um papel central na economia brasileira, atuando como um grande armazém de carbono, além de prover serviços ecossistêmicos essenciais. Sendo assim, o colapso de fauna e flora vítimas da ação antrópica minam as chances de um desenvolvimento justo e sustentável.

Segundo o estudo (Des)matando as Hidrelétricas: A Ameaça do Desmatamento na Amazônia para a energia do Brasil, produzido por Climate Policy Initiative/PUC-Rio e Amazônia 2030, a perda de vegetação florestal impacta diretamente na principal fonte da nossa matriz elétrica, a hidroeletricidade, podendo já ter causado uma redução de até 10% no potencial de energia e nos lucros das hidrelétricas em todo o país. Se continuarmos nesse ritmo, o aumento do preço de energia e a maior demanda por usinas térmicas serão realidades inerentes a um estilo de vida ativado no modo sobrevivência.

O poder da floresta amazônica sob a capacidade de produção das hidrelétricas se deve à sua grande influência sobre os padrões de chuva, através do mecanismo conhecido como rios voadores. Trata-se de correntes de ar carregadas de umidade que levam água da Amazônia em direção à Cordilheira dos Andes no sentido norte-sul, contribuindo para a formação de rios e nascentes importantes. Quando passam por áreas desmatadas, elas perdem umidade com mais facilidade, o que reduz a incidência de chuva ao longo do percurso das correntes. Logo, a vazão dos rios fica comprometida e, por conseguinte, a capacidade de geração nas hidrelétricas também.

Perda de geração energética

Somente na Usina Hidrelétrica de Teles Pires, localizada no estado do Mato Grosso, pesquisadores apontam para uma perda de geração entre 2,5% e 10% pelo desmatamento. Em um cenário hipotético, caso esse prejuízo fosse revertido, pelo menos 330 mil pessoas que sofrem com a falta de energia no Brasil poderiam ser beneficiadas. No que diz respeito à receita anual, o desmatamento gerou uma redução média de R$ 118 milhões - valor que será cobrado indiretamente na conta de luz de cada cidadão.

A derrubada da floresta extrapola as áreas desmatadas, expandindo implicações devastadoras para fora do bioma Amazônia. Usinas hidrelétricas situadas na Bacia do Paraná, como a UHE Salto, UHE Salto Verdinho e UHE São Domingos já tiveram uma perda de por volta de 3% na capacidade de produção de energia e em torno de 10% de perda de lucro anual. Os números comprovam que a conservação ambiental é indispensável para a manutenção da matriz elétrica nacional e para a nossa economia.

A matriz elétrica brasileira já está fragilizada pela crise hídrica atual e por mudanças climáticas cada vez mais severas. O desmatamento catalisa o fim de um sistema mais sustentável baseado em fonte renovável - ao contrário da matriz elétrica mundial, por exemplo, baseada em combustíveis fósseis. Aceitar esse colapso seria compactuar com o nosso regresso. Por isso, a implementação de políticas públicas eficazes de conservação e restauração direcionadas às áreas de maior relevância para a geração hidrelétrica é tão importante. O primeiro passo é identificar quais são essas regiões para, depois, orientar mecanismos de financiamento, além de recursos públicos e privados, em prol da Amazônia. O combate ao desmatamento é também um pilar de segurança energética do país.

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