Como o coronavírus pode afetar o clima da Terra
A pandemia empurrou outros grandes desafios da humanidade, como a emergência climática, para baixo na lista de prioridades. Quais serão as consequências
beatrizcorreia
Publicado em 12 de março de 2020 às 20h17.
Última atualização em 15 de março de 2020 às 21h00.
Um vírus microscópico tem o poder de influenciar no clima da Terra. Esse poder tem a ver com sua capacidade de direcionar os esforços humanos para priorizar e despriorizar os problemas. É por isso que a atual pandemia de coronavírus terá um grande impacto no curso das mudanças climáticas e como lidamos com ela.
E não é, por enquanto, um impacto positivo. A principal consequência da emergência global provocada pela epidemia é jogar a emergência climática para baixo na lista de prioridades - o mesmo na de itens a serem discutidos - no grande debate público.
As mudanças climáticas continuam sendo um problema grave enfrentado pela humanidade. Um dos maiores. A concentração de gases de efeito estufa já presente na atmosfera do planeta é por si suficiente para garantir o aumento da temperatura média da Terra por vários séculos, e mais emissões irão ocorrer nas próximas décadas, agravando o problema.
A pandemia é passageira, mas os efeitos das mudanças climáticas serão sentidos hoje e cada vez mais nos próximos séculos. No entanto, o apetite público para discutir isso seguramente encolheu diante da crise atual de saúde.
As mudanças climáticas estão associadas à problemas que também custam para a economia e para as vidas humanas. As enchentes e desabamentos mortais do verão estão ligadas às mudanças nos padrões de chuvas. Teremos mais eventos extremos, com consequências para as infraestruturas e para a produção de alimentos. Mas esses riscos, na escala de prioridades, desceram um pouco.
É como se você morasse numa casa e o telhado estivesse quebrado. Tem goteiras dentro dos cômodos, entra frio, até alguns bichos. O telhado pode desabar num futuro próximo, gerando estrago maior e ameaçando a vida da sua família. Mas se você tiver alguém com doença grave na família, provavelmente vai deixar o conserto do telhado para depois e cuidar do atendimento emergencial hospitalar antes.
O segundo motivo pelo qual a pandemia de coronavírus atrasa o debate e as ações pelo clima diz respeito à uma questão cognitiva. A pandemia de gripe está associada ao frio. Passamos a desejar que os dias quentes se prolonguem e o inverno demore a chegar. O sol é um aliado. Imaginar um mundo mais quente traz - mesmo que inconscientemente - conforto.
Seria bem diferente se estivéssemos atravessando uma epidemia de alguma doença transmitida por mosquitos, como dengue, chikungunya, malária ou zika. Essas estão se agravando e irão se agravar ainda mais com a ampliação de áreas tropicais no planeta, com as mudanças para verões mais quentes e chuvosos, e invernos mais amenos. E isso vai ficar evidente de novo acontecer quando a pandemia atual de coronavírus passar.
Se a prioridade para falar de clima vai ficar em suspenso, a evolução do problema também. Isso oferece uma oportunidade de ação. A desaceleração econômica provocada pela pandemia deve ter um impacto equivalente ou maior do que a recessão global de 2008 nas emissões. Ou seja, teremos uma queda absoluta nas emissões de carbono globais em 2020 e talvez em 2021 ou 2022.
Nem o aumento declarado na produção de petróleo anunciada pela Arábia Saudita deve mudar essa perspectiva de queda nas emissões. Isso significa que a humanidade ganha um tempo de respiro na escalada acelerada das emissões, que vinha acontecendo superando os piores cenários traçados pelos cientistas.
No ritmo que estávamos antes do freio indesejado provocado pela pandemia, havia pouca chance de conseguirmos limitar a elevação de temperatura na faixa de 1,5 a 2 graus centígrados, o máximo considerado seguro para evitar as grandes tragédias climáticas.
Agora, teremos tempo para rever os investimentos em infraestrutura (já que muitos deles serão suspensos por causa do impacto econômico da pandemia) que nos aprisionam numa economia intensiva em emissões de efeito estufa. Quando voltarmos a falar de crescimento e de medidas anticrise, para estimular o crescimento econômico, poderemos aplicar esse esforço na transição para formas de produzir bens, serviços e energia com menos impacto para o clima.
Um vírus microscópico tem o poder de influenciar no clima da Terra. Esse poder tem a ver com sua capacidade de direcionar os esforços humanos para priorizar e despriorizar os problemas. É por isso que a atual pandemia de coronavírus terá um grande impacto no curso das mudanças climáticas e como lidamos com ela.
E não é, por enquanto, um impacto positivo. A principal consequência da emergência global provocada pela epidemia é jogar a emergência climática para baixo na lista de prioridades - o mesmo na de itens a serem discutidos - no grande debate público.
As mudanças climáticas continuam sendo um problema grave enfrentado pela humanidade. Um dos maiores. A concentração de gases de efeito estufa já presente na atmosfera do planeta é por si suficiente para garantir o aumento da temperatura média da Terra por vários séculos, e mais emissões irão ocorrer nas próximas décadas, agravando o problema.
A pandemia é passageira, mas os efeitos das mudanças climáticas serão sentidos hoje e cada vez mais nos próximos séculos. No entanto, o apetite público para discutir isso seguramente encolheu diante da crise atual de saúde.
As mudanças climáticas estão associadas à problemas que também custam para a economia e para as vidas humanas. As enchentes e desabamentos mortais do verão estão ligadas às mudanças nos padrões de chuvas. Teremos mais eventos extremos, com consequências para as infraestruturas e para a produção de alimentos. Mas esses riscos, na escala de prioridades, desceram um pouco.
É como se você morasse numa casa e o telhado estivesse quebrado. Tem goteiras dentro dos cômodos, entra frio, até alguns bichos. O telhado pode desabar num futuro próximo, gerando estrago maior e ameaçando a vida da sua família. Mas se você tiver alguém com doença grave na família, provavelmente vai deixar o conserto do telhado para depois e cuidar do atendimento emergencial hospitalar antes.
O segundo motivo pelo qual a pandemia de coronavírus atrasa o debate e as ações pelo clima diz respeito à uma questão cognitiva. A pandemia de gripe está associada ao frio. Passamos a desejar que os dias quentes se prolonguem e o inverno demore a chegar. O sol é um aliado. Imaginar um mundo mais quente traz - mesmo que inconscientemente - conforto.
Seria bem diferente se estivéssemos atravessando uma epidemia de alguma doença transmitida por mosquitos, como dengue, chikungunya, malária ou zika. Essas estão se agravando e irão se agravar ainda mais com a ampliação de áreas tropicais no planeta, com as mudanças para verões mais quentes e chuvosos, e invernos mais amenos. E isso vai ficar evidente de novo acontecer quando a pandemia atual de coronavírus passar.
Se a prioridade para falar de clima vai ficar em suspenso, a evolução do problema também. Isso oferece uma oportunidade de ação. A desaceleração econômica provocada pela pandemia deve ter um impacto equivalente ou maior do que a recessão global de 2008 nas emissões. Ou seja, teremos uma queda absoluta nas emissões de carbono globais em 2020 e talvez em 2021 ou 2022.
Nem o aumento declarado na produção de petróleo anunciada pela Arábia Saudita deve mudar essa perspectiva de queda nas emissões. Isso significa que a humanidade ganha um tempo de respiro na escalada acelerada das emissões, que vinha acontecendo superando os piores cenários traçados pelos cientistas.
No ritmo que estávamos antes do freio indesejado provocado pela pandemia, havia pouca chance de conseguirmos limitar a elevação de temperatura na faixa de 1,5 a 2 graus centígrados, o máximo considerado seguro para evitar as grandes tragédias climáticas.
Agora, teremos tempo para rever os investimentos em infraestrutura (já que muitos deles serão suspensos por causa do impacto econômico da pandemia) que nos aprisionam numa economia intensiva em emissões de efeito estufa. Quando voltarmos a falar de crescimento e de medidas anticrise, para estimular o crescimento econômico, poderemos aplicar esse esforço na transição para formas de produzir bens, serviços e energia com menos impacto para o clima.