Como o Brasil pode virar uma grande potência na economia de baixo carbono
A Conexão Pelo Clima On reunirá empresas que apostam nas oportunidades da transição para uma economia com baixas emissões e zero desmatamento
Publicado em 15 de setembro de 2020 às, 16h10.
Imagine um analista de economia na Coreia do Sul no início dos anos 1960 chegando em uma reunião importante com investidores, empresários e representantes do governo e dizendo que, num futuro próximo, eles deixariam de ser um dos países agrários mais pobres do mundo para se tornarem uma superpotência tecnológica.
Nem todo mundo daria ouvidos a ele. Afinal, naquela época, a economia do país asiático era baseada em pesca e agricultura e muita gente achava que era melhor continuar fazendo isso. No entanto, houve quem apostasse numa indústria baseada em uma tecnologia completamente nova, chamada eletrônica. Hoje, o que era uma aposta virou realidade.
A Coreia do Sul é referência e exporta para todo o mundo. Tudo isso só foi possível porque o país resolveu agir na hora certa, dando incentivos para a instalação de indústrias e investindo em educação e pesquisa de ponta.
O Brasil de 2020 vive um momento decisivo também. Enquanto muita gente ainda acha que o caminho é investir na exportação de frango, carne e soja, está em curso uma revolução que vai virar o mundo de cabeça para baixo. Os países mais desenvolvidos do globo já declararam publicamente que a retomada econômica pós-pandemia será verde e quem continuar ignorando as mudanças climáticas não terá espaço. Essa é a hora para começarmos a dar mais atenção às vantagens competitivas que o nosso país possui para se tornar o rei desse novo mundo, baseado em uma economia verde. Isso mesmo, o Brasil tem tudo para virar uma das maiores potências do mundo em economia de baixo carbono. Isso pode ser a melhor oportunidade da história para darmos um salto de desenvolvimento.
Somos um dos países com maior número de empreendedores com negócios verdes. A Climate Ventures mapeou, entre 2018 e 2019, mais de 500 negócios que promovem a economia regenerativa de baixo carbono. E não é por acaso. Tantos jovens criativos são resultado de vivermos em um local com recursos de sobra. Temos condições de ter uma matriz energética totalmente limpa, além das hidrelétricas, com mais investimento em energia eólica e solar.
Podemos apostar em veículos movidos à álcool e biomassa. Abrigamos a maior biodiversidade e a maior floresta tropical do planeta. Temos material para produzir plástico de biomassa. Graças a isso, podemos produzir alumínio, cimento, bebidas, bicicletas, quase tudo com menos emissões do que outros países. Isso sem falar que temos muita terra, suficiente para abastecer o mercado interno e ainda produzir para exportação, se considerarmos que a pecuária de baixa produtividade no Brasil ocupa 200 milhões de hectares e parte desse território poderia ser destinado à produção agrícola, sem desmatar mais nada.
Um estudo, divulgado no último mês de agosto pelo WRI Brasil e pela iniciativa New Climate Economy, mostra que a adoção de medidas para uma produção mais verde pode render para a nossa economia pelo menos R$ 2,8 trilhões a mais no nosso Produto Interno Bruto (PIB), além de gerar mais de dois milhões de empregos. O trabalho destaca os ganhos econômicos que andam juntos com a diminuição da poluição, como menos gastos em deslocamentos e saúde, além de mais produtividade desses trabalhadores. O WRI também calcula que a emissão e os empréstimos de títulos verdes está em expansão e atingiu, em 2019, um recorde global de US$ 202 bilhões. O Brasil, segundo esse trabalho, acompanhou as tendências internacionais, mas atingiu apenas uma fração de seu potencial.
A Conexão Pelo Clima, maior evento de negócios verdes da América Latina, é o espaço onde as pessoas capazes de tornar o país essa superpotência se encontram para fazer negócios. A primeira edição, realizada em 2019 com o nome Feira Conexão Carbono Zero, já se consolidou como um evento referência, fomentando parcerias e mobilizando recursos para soluções que visem transformar os modelos de negócios num caminho para reverter a mudança climática. Em 2020, O Mundo Que Queremos, CDP Latin America e Climate Ventures se juntaram para que esse continue sendo um espaço único de conexão rumo à uma economia de baixo carbono.
A segunda edição da feira presencial está agendada para 2021. Enquanto isso, esse ano teremos o Conexão Pelo Clima On, que reúne lideranças do setor para uma sequência de seminários online, que querem inspirar e influenciar as agendas de governos e da iniciativa privada para investir e fomentar bons negócios pelo clima. Serão dois painéis, que vão tratar de dois temas fundamentais para o Brasil em 2020.
O primeiro dia (21/09) será dedicado às florestas e ao campo, tratando de desafios relacionados à produção de alimentos, o uso sustentável da terra e a valorização das florestas vivas. No segundo dia (22/9) o foco são os desafios ligados às cidades, abordando a chamada “agenda marrom”, com debates sobre energia, indústria e planejamento urbano sustentável. Os dois encontros virtuais serão realizados das 10h às 13h, com transmissão pelo Youtube no canal da Conexão pelo Clima. As inscrições estão abertas pelo site do evento. Essa é uma oportunidade para quem quer encontrar seu espaço na nova economia do clima, e ajudar o Brasil a aproveitar essa chance única.
*Com Angélica Queiroz.