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Como exportar carne segura para os países árabes

Só a rastreabilidade total da cadeia - inclusive de fornecedores indiretos - garantirá a carne atende aos critérios halal para os compradores muçulmanos

Rebanho de gado em fazenda da SLC: a empresa investe em integração lavoura-pecuária, que reveza plantio de grãos e criação de gado (Marcelo Coelho/Divulgação)

Rebanho de gado em fazenda da SLC: a empresa investe em integração lavoura-pecuária, que reveza plantio de grãos e criação de gado (Marcelo Coelho/Divulgação)

AM

Publicado em 7 de abril de 2025 às 10h17.

Última atualização em 7 de abril de 2025 às 10h18.

A exportação de carne bovina para países muçulmanos, especialmente os países árabes, é uma das mais relevantes para a pecuária brasileira. Os países árabes compram hoje cerca de 20% da carne bovina que o Brasil exporta. E a demanda é crescente. Somente os Emirados Árabes Unidos, por exemplo, aumentaram suas importações em 162% entre janeiro e setembro de 2024, movimentando US$ 547 milhões. Esses mercados são exigentes, têm forte poder de compra e crescem em relevância ano a ano.

A carne brasileira é valorizada não apenas pelo sabor, mas também pela capacidade de atender aos critérios do abate halal, que vão muito além do ritual religioso. Incluem princípios de pureza, bem-estar animal e respeito à ética.

Um dos critérios mais importantes para a certificação halal é a alimentação do animal: ele não pode, em nenhuma fase da vida, ter ingerido produtos considerados impuros, como derivados suínos. Isso exige controle absoluto sobre onde esteve cada boi e o que consumiu. Ou seja: rastreabilidade total. É nesse ponto que o Brasil ainda precisa avançar.

Boa parte dos frigoríficos consegue controlar os fornecedores diretos, mas ignora os indiretos: as fazendas onde o boi nasceu, cresceu ou foi recriado antes de ser vendido. E é justamente nessas fazendas que muitas vezes ocorrem o desmatamento ilegal, a grilagem de terras e até violações de direitos humanos.

O consumidor halal, o importador halal e as autoridades dos países muçulmanos não estão interessados apenas em carne saborosa. Eles querem a garantia de que aquele produto está isento de qualquer participação em crimes ambientais ou violações éticas. Para isso, é preciso saber de onde veio o animal, com precisão, e qual foi o percurso de sua vida até o abate.

A boa notícia é que o Brasil já tem uma ferramenta para isso: o Radar Verde. É o único sistema hoje que avalia publicamente o grau de controle que cada empresa de carne tem sobre seus fornecedores diretos e indiretos. Ele mostra quais frigoríficos estão fazendo o dever de casa e quais ainda não conseguiram avançar. Com base em dados de fontes públicas, o Radar Verde apresenta rankings, indicadores e relatórios que permitem avaliar com transparência o comprometimento das empresas com a legalidade, a sustentabilidade e a ética.

Em um mercado internacional cada vez mais atento à origem dos alimentos, especialmente os mais exigentes como os países halal, a rastreabilidade é mais do que uma exigência técnica. É uma condição para competir. Garantir a rastreabilidade total da carne é garantir qualidade, segurança alimentar e respeito aos valores dos consumidores. É abrir portas. O Brasil tem tudo para liderar essa agenda. A floresta preservada, o boi rastreado e a carne de qualidade podem - juntos - ser a combinação perfeita para manter e expandir o papel do país como fornecedor global de alimentos. E o Radar Verde pode ser o GPS dessa jornada.

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