PECUÁRIA: o homem é a medida de todas as coisas; até do valor da vida animal / Frederic Jean/EXAME.com
Colunista
Publicado em 21 de janeiro de 2025 às 16h47.
Última atualização em 21 de janeiro de 2025 às 18h07.
Neste ano em que o Brasil será o anfitrião da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), em Belém, o país tem uma oportunidade única de se projetar como um líder climático global. Para isso, é fundamental compreender nossa real participação nas mudanças climáticas e identificar as principais fontes de emissões. Os dados recentemente atualizados pelo Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG) revelam que, em 2024, a pecuária continua sendo, de longe, a maior responsável pelas emissões de carbono no Brasil. As emissões do setor pecuário superam, isoladamente, todas as demais fontes combinadas, incluindo o restante da agricultura.
Segundo o SEEG, as emissões totais do Brasil em 2024 foram de 2.295.614.181 toneladas de carbono equivalente. Desse total, a pecuária sozinha foi responsável por impressionantes 54,17%, emitindo 1.243.518.253 toneladas. O restante da agricultura contribuiu com 19,11%, somando 438.700.409 toneladas. Esses números evidenciam a necessidade de ações urgentes para mitigar os impactos do setor agropecuário e alinhar o país às suas metas climáticas.
Além de ser a maior fonte de emissões diretas de gases de efeito estufa no Brasil, a pecuária também se destaca como a principal responsável pelo desmatamento no país, que é uma das maiores fontes de emissões indiretas. Em 2024, as emissões totais associadas ao desmatamento no Brasil alcançaram 1.038.899.523 toneladas de carbono equivalente (tCO₂e).
Desse montante, a pecuária foi responsável por 731.979.080 tCO₂e, representando aproximadamente 70% das emissões provenientes da destruição florestal. Em comparação, o restante da agricultura contribuiu com 303.329.633 tCO₂e. Esses dados revelam o papel central da pecuária na conversão de áreas de floresta, reforçando a necessidade de ações efetivas para controlar o avanço do desmatamento e garantir a sustentabilidade do setor.
É importante destacar que não é necessário desmatar novas áreas para garantir a produção de carne no Brasil. Estudos demonstram que é possível atender tanto a demanda interna quanto as exportações internacionais apenas aumentando a produtividade das áreas já abertas e subaproveitadas. Atualmente, a pecuária ocupa cerca de 167 milhões de hectares no país, com uma taxa média de lotação de apenas 1,2 cabeça de gado por hectare, muito abaixo do potencial produtivo.
De acordo com o projeto Amazônia 2030, com técnicas básicas de manejo, como recuperação de pastagens degradadas e intensificação sustentável, é possível dobrar a produção de carne sem a necessidade de expandir a área de pastagem. Essa abordagem não apenas evita novos desmatamentos, mas também aumenta a eficiência produtiva, gera empregos e contribui para uma economia de baixo carbono.
Segundo David Tsai, coordenador geral do SEEG pelo Observatório do Clima, compreender a contribuição de cada setor é essencial para que o Brasil possa honrar seus compromissos internacionais de redução de emissões. Recentemente, o país anunciou sua nova Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), no entanto, a meta estabelecida considera apenas o total das emissões da economia como um todo, sem detalhamento setorial.
Para que ações eficazes sejam implementadas, é fundamental monitorar as emissões anualmente, identificando com precisão as principais fontes de poluição. Tsai destaca que, mesmo em 2010, quando o Brasil atingiu seu menor nível de emissões totais, a pecuária ainda representava mais de 50% do total, evidenciando a necessidade de políticas específicas voltadas para esse setor.
Se o Brasil deseja adotar uma política climática séria e eficaz, a prioridade número 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7 deve ser a redução das emissões da pecuária. Isso significa que o foco principal precisa ser a eliminação do desmatamento associado à atividade pecuária, que representa a maior parcela das emissões nacionais. Além de ser ambientalmente prejudicial, esse desmatamento é completamente desnecessário, uma vez que há vastas áreas abertas e subutilizadas com potencial produtivo a ser aproveitado. A continuação dessa prática compromete os compromissos climáticos do Brasil e prejudica a economia nacional, a biodiversidade e a segurança hídrica global.
Não podemos esquecer que as mudanças climáticas, com seus eventos extremos cada vez mais frequentes, e o desmatamento, que reduz as chuvas e afeta os ciclos hídricos, estão prejudicando todos os agricultores brasileiros e impactando toda a cadeia do agronegócio nacional. Esses dados do SEEG reforçam a urgência de direcionarmos todo o esforço do país para melhorar a nossa pecuária, eliminando de uma vez por todas o desmatamento associado à atividade.