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A pecuária brasileira deve ir além do discurso ambiental e mostrar o que faz

Tirar práticas ilegais da cadeia da carne pode acabar com o desmatamento na Amazônia. O primeiro passo é transparência

Não faltam oportunidades para o setor da pecuária demonstrar o quanto é transparente (PABLO PORCIUNCULA/AFP/Getty Images)
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 14 de julho de 2023 às 13h36.

Por Alexandre Mansur*

Transparência é um princípio essencial para todos os setores produtivos, principalmente quando relacionada às práticas ambientais. Não é mais novidade que divulgar de maneira clara e acessível as atividades, o desempenho e seus impactos promove a responsabilidade corporativa e fortalece a confiança de consumidores, investidores e parceiros comerciais.

O levantamento Tendências Globais de Consumo 2023: O que os consumidores querem e por quê – agora, depois e no futuro, realizado pela consultoria Mintel, mostra que à medida que o aquecimento global é cada vez mais sentido, mais atentos os consumidores estão se as marcas levam a sério seus compromissos.

Consumidores com consciência ecológica, por exemplo, exigirão a rastreabilidade das matérias-primas e mais transparência sobre como as marcas conservam os recursos locais, especialmente nos países em desenvolvimento. No Brasil, essa questão é crítica para o setor da carne. É o segmento mais associado ao desmatamento na Amazônia, nosso maior desafio ambiental e maior fonte de emissões de gases de efeito estufa.

Em todos os setores da economia, as mudanças nas circunstâncias estão levando a novos hábitos, estilos de vida e estão deixando as percepções do consumidor mais apuradas sobre o impacto futuro da ação ou inação sustentável das marcas. No caso dos consumidores brasileiros, 62% concordam que, se agirem agora, ainda dá tempo de salvar o planeta.

Por isso, pode não ser mais suficiente as empresas apenas se posicionarem de forma favorável às causas ambientais. Segundo o relatório, os consumidores também vão querer provas das credenciais éticas, conhecer as práticas corporativas e avaliar a transparência das marcas com muito mais rigor, já que o mercado está se tornando cada vez mais saturado com alegações  de respeito ao meio ambiente.

A transparência do setor produtivo não pode mais fazer parte somente da estratégia da comunicação, mas deve ser uma prática genuína e integrada em todas as áreas da organização. Do contrário, vai começar a doer no bolso.

A cadeia da pecuária que o diga. Em junho, a União Europeia publicou o regulamento que proíbe, a partir de dezembro de 2024, a importação de itens como café, soja e carne bovina produzidos em áreas desmatadas, ainda que legalmente.

Por aqui, em maio, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) divulgou uma autorregulação, assinada pelos 21 maiores bancos, que restringe crédito e financiamentos para frigoríficos e abatedouros ligados ao desmatamento ilegal da Amazônia e vincula à rastreabilidade de fornecedores diretos e indiretos até 2025.

Não faltam oportunidades para o setor da pecuária demonstrar o quanto é transparente. Em 2022, o Radar Verde, único indicador público e independente da cadeia da carne bovina na Amazônia, convidou 90 frigoríficos e 69 redes varejistas a comprovar que suas políticas garantem que a carne que compram e vendem não está associada ao desmatamento da Amazônia.

Apenas 5% das empresas aceitaram participar e nenhuma autorizou a divulgação de sua classificação final. Para o novo ciclo da pesquisa, lançado em junho deste ano, foram convidadas 133 empresas frigoríficas localizadas na Amazônia Legal até dezembro de 2022 e as 69 maiores redes varejistas, em termos de valores de faturamento, incluindo as 50 maiores nacionais e as 19 maiores nos nove estados da Amazônia Legal.

Os frigoríficos e supermercados mapeados têm até o dia 1º de agosto para enviar os questionários respondidos e apresentar documentos de auditorias externas que evidenciem a prática e eficácia das políticas ambientais que afirmam ter. Neste novo ciclo, o Radar Verde irá classificar todas as empresas (mesmo aquelas que não responderem) usando dados públicos.

A pecuária brasileira tem um grande desafio de tirar os desmatadores da cadeia de fornecedores. É um esforço a ser realizado paulatinamente. Por isso o primeiro passo é a transparência. Mesmo que a empresa não tenha controle completo da cadeia, demonstrar por meio de indicadores quais práticas de preservação ambiental adotam é uma vantagem competitiva.

Essa transparência pode conquistar  a preferência dos consumidores. Também demonstra o compromisso em enfrentar as mudanças climáticas e o desmatamento. Isso diminui a pressão de investidores. Dar transparência agora é uma estratégia importante para o sucesso e sustentabilidade da cadeia da pecuária, que demonstra controle sobre os desafios de longo prazo. As empresas mais transparentes estarão alinhadas com um futuro que todos desejam e que, inevitavelmente, envolve preservar e manter a floresta em pé.

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Por Alexandre Mansur*

Transparência é um princípio essencial para todos os setores produtivos, principalmente quando relacionada às práticas ambientais. Não é mais novidade que divulgar de maneira clara e acessível as atividades, o desempenho e seus impactos promove a responsabilidade corporativa e fortalece a confiança de consumidores, investidores e parceiros comerciais.

O levantamento Tendências Globais de Consumo 2023: O que os consumidores querem e por quê – agora, depois e no futuro, realizado pela consultoria Mintel, mostra que à medida que o aquecimento global é cada vez mais sentido, mais atentos os consumidores estão se as marcas levam a sério seus compromissos.

Consumidores com consciência ecológica, por exemplo, exigirão a rastreabilidade das matérias-primas e mais transparência sobre como as marcas conservam os recursos locais, especialmente nos países em desenvolvimento. No Brasil, essa questão é crítica para o setor da carne. É o segmento mais associado ao desmatamento na Amazônia, nosso maior desafio ambiental e maior fonte de emissões de gases de efeito estufa.

Em todos os setores da economia, as mudanças nas circunstâncias estão levando a novos hábitos, estilos de vida e estão deixando as percepções do consumidor mais apuradas sobre o impacto futuro da ação ou inação sustentável das marcas. No caso dos consumidores brasileiros, 62% concordam que, se agirem agora, ainda dá tempo de salvar o planeta.

Por isso, pode não ser mais suficiente as empresas apenas se posicionarem de forma favorável às causas ambientais. Segundo o relatório, os consumidores também vão querer provas das credenciais éticas, conhecer as práticas corporativas e avaliar a transparência das marcas com muito mais rigor, já que o mercado está se tornando cada vez mais saturado com alegações  de respeito ao meio ambiente.

A transparência do setor produtivo não pode mais fazer parte somente da estratégia da comunicação, mas deve ser uma prática genuína e integrada em todas as áreas da organização. Do contrário, vai começar a doer no bolso.

A cadeia da pecuária que o diga. Em junho, a União Europeia publicou o regulamento que proíbe, a partir de dezembro de 2024, a importação de itens como café, soja e carne bovina produzidos em áreas desmatadas, ainda que legalmente.

Por aqui, em maio, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) divulgou uma autorregulação, assinada pelos 21 maiores bancos, que restringe crédito e financiamentos para frigoríficos e abatedouros ligados ao desmatamento ilegal da Amazônia e vincula à rastreabilidade de fornecedores diretos e indiretos até 2025.

Não faltam oportunidades para o setor da pecuária demonstrar o quanto é transparente. Em 2022, o Radar Verde, único indicador público e independente da cadeia da carne bovina na Amazônia, convidou 90 frigoríficos e 69 redes varejistas a comprovar que suas políticas garantem que a carne que compram e vendem não está associada ao desmatamento da Amazônia.

Apenas 5% das empresas aceitaram participar e nenhuma autorizou a divulgação de sua classificação final. Para o novo ciclo da pesquisa, lançado em junho deste ano, foram convidadas 133 empresas frigoríficas localizadas na Amazônia Legal até dezembro de 2022 e as 69 maiores redes varejistas, em termos de valores de faturamento, incluindo as 50 maiores nacionais e as 19 maiores nos nove estados da Amazônia Legal.

Os frigoríficos e supermercados mapeados têm até o dia 1º de agosto para enviar os questionários respondidos e apresentar documentos de auditorias externas que evidenciem a prática e eficácia das políticas ambientais que afirmam ter. Neste novo ciclo, o Radar Verde irá classificar todas as empresas (mesmo aquelas que não responderem) usando dados públicos.

A pecuária brasileira tem um grande desafio de tirar os desmatadores da cadeia de fornecedores. É um esforço a ser realizado paulatinamente. Por isso o primeiro passo é a transparência. Mesmo que a empresa não tenha controle completo da cadeia, demonstrar por meio de indicadores quais práticas de preservação ambiental adotam é uma vantagem competitiva.

Essa transparência pode conquistar  a preferência dos consumidores. Também demonstra o compromisso em enfrentar as mudanças climáticas e o desmatamento. Isso diminui a pressão de investidores. Dar transparência agora é uma estratégia importante para o sucesso e sustentabilidade da cadeia da pecuária, que demonstra controle sobre os desafios de longo prazo. As empresas mais transparentes estarão alinhadas com um futuro que todos desejam e que, inevitavelmente, envolve preservar e manter a floresta em pé.

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